O que falar de uma produção de relativo baixo custo que deu um banho em superproduções recentes da Netflix? Estamos falando de Uma Advogada Extraordinária, o dorama que você não pode perder do radar — eu já menti alguma vez para vocês? — Confira nossa crítica sem spoilers.
“Mais uma série sobre autistas com superdotação?”
Vamos lá: qual é de verdade a referência que o leitor tem sobre autismo? Algum parente? Conhecido? É provável que através das lentes de Hollywood… pelos olhos de pessoas não-autistas. Por causa disso, há uma recorrência de obras que fantasiem exageradamente em cima da questão, o que não é difícil quando a pesquisa e execução ficam a desejar — por melhor que sejam as intenções.
Mas esse não é o caso de Uma Advogada Extraordinária.
A queridinha Park Eun-bin não está menos que impecável nesse papel, e não é para menos que a direção preferiu esperar a atriz cumprir sua agenda ao invés de substitui-la por outra pessoa; Eun-bin pode ter os seus momentos de lapso nos seus maneirismos, porém, de modo geral, sua caracterização, preparação e respeito com a personagem são o carro chefe da série.
Ainda falando sobre a protagonista, a Dra. Woo é um caso raro dentro de sua própria comunidade, afinal, mulheres autistas são uma minoria estatística em comparação aos homens, além disso, costumam receber ainda menos atenção da indústria.
O que falar então do foco hollywoodiano de só mostrar o mesmo estereótipo romantizado (perdão pelo termo banalizado!) de homens brancos com superdotação tentando viver numa sociedade que não foi construída para eles? — caham, The Good Doctor — sendo que esses esses são ainda mais raros.
Novamente, contudo, a série se saiu bem dessa vez também. Não leve a mal: não é necessariamente antiético representar um mesmo perfil apenas, mas martelar a mesma coisa passa a impressão que os diretores estão tratando a questão pela ótica do exótico, do estranho.
A advogada Woo, apesar de suas habilidades formidáveis, erra — e muito! — Suas dificuldades, gostos e ambições são perfeitamente relatáveis a uma pessoa neurotípica, não-autista— e está longe de ser uma máquina fria e calculista que só pensa em ganhar os casos sem se importar com o lado humano, e esse é um dos temas principais da série.
“Mais um drama sobre advogados?”
As pessoas não gostam de advogados. Eu também não gosto — e posso dizer isso porque fiz Direito. Mas séries de direito são tão “in”. Qual o problema nisso? Saturação.
Piadas de advogado, glamourização de uma profissão elitizada, o personagem sabichão, os mesmos dilemas éticos que todo mundo que viu dois episódios de Law & Order conhece… enfim, séries criminais são seu próprio nicho com suas próprias regras. É crime gostar disso? De forma alguma; a já mencionada Greys Anatomy de toga tem vinte e duas temporadas, Suits nove…
Então o autor vai dizer que essa é uma seção para falar mal do intrínseco problema que temos na sociedade quanto ao viés punitivista penal e que o neoconstituc- espera aí. É verdade que batalhas de teses são uma parte importante desse gênero, mas as coisas precisam ser necessariamente pedantes e pesadas?
Uma Advogada Extraordinária sem dúvidas cutuca a ferida ao falar sobre os direitos das pessoas autistas, ética no trabalho, casamento igualitário e toda uma gama de assuntos, mas tanto para aquele que procura se divertir sem ter que pensar muito, quanto para os insuportáveis advogados trabalhistas o dorama acerta; é sutil, agradável, e inteligente — uma boa pedida family friendly para maratonar.
“Mais um romance coreano?”
Não é difícil de se escutar que o romance é um gênero ultrassaturado, mas se ele estivesse morto, Nicholas Sparks não teria metade do reconhecimento que tem (mesmo fazendo livros meia-boca…) — a questão é: as pessoas se importam tanto assim de tramas focadas em casais em produções de língua inglesa?
Em Extraordinary Attorney Woo, o romance na vida da protagonista é parte da sua evolução pessoal, descobrimento de si mesma e, embora apresente Lee Jun-ho como um mocinho que é o “senhor perfeito” (ou Gary Stu, caso prefira o termo popular), a série funciona dentro de sua proposta de ser leve e despretensiosa, um oásis meio a um mundo disfuncional. Há algo de mal com isso?
Embora tenha se expandido na última década, o mercado dos dramas coreanos vem dando gostosos suspiros dentro do mainstream, fornecendo alternativas para quem está cansado de besteirol robótico, Noah Centineo sem camisa e produtos com validade expirando amanhã (e depois não serão lembrados). Faltam mais séries coreanas na Netflix, desde o arroz com feijão à Advogada Woo até os roteiros mais dramáticos.
Conclusão
Depois de um artigo rasgando (merecida) seda, pode soar repetitivo, porém, que se diga com todas as letras: Extraordinary Attorney Woo merece toda a atenção e mais um pouco. O leitor pode não ser o maior fã de roteiros em alguma medida episódicos, mas o show sabe dosar isso e permitir que os personagens evoluam com a passada dos capítulos.
Quanto a nota que esse presunçoso autor que vos fala deu, sejamos justos: não é preciso escrever um Dostoiévski para que algo seja bom, e ignorar a intenção do show seria mesquinho — afinal, EAW se dá bem em roteiro, evolução, personagens/atuação e até trilha sonora.
Uma Advogada Extraordinária também não usa a temática social como uma moeda de troca, como vira e mexe fazem originais Netflix, mas de fato se preocupa em tratar as questões além do superficial e com responsabilidade, fugindo da representatividade rasa.
Em conclusão: se uma baleia-jubarte fêmea que pesa 22 toneladas comer uma lula gigante que pesa 500kg e pôr um ovo que pesa 1,3 toneladas seis horas depois, quanto será que a baleia-jubarte fêmea acabará pesando? A resposta: “as baleias não podem botar ovos” é a correta!
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