Imagine a expectativa quando “Wasp Network” foi anunciado com um elenco latino americano estelar, um diretor francês de primeira categoria e um produtor brasileiro que virou sinônimo de sucesso de crítica e público? Bom, os cinéfilos sentiram um prazeroso arrepio, para dizer o mínimo. Mas, o primeiro balde de água fria jogado naqueles que esperavam ansiosamente uma obra prima veio após a exibição do filme no festival de Veneza. A recepção em solo italiano foi deveras ruim, com críticas a diversos elementos que serão, parte deles, elucidados no decorrer deste texto. Foi tanto que, após o festival, se decidiu voltar à sala de edição. Só quem viu a versão mostrada em Veneza pode dizer se ela era melhor ou pior do que a vista na 43ª Mostra de Cinema de São Paulo (a qual tentaremos apontar alguns dos problemas).
Antes, é preciso situar o leitor a respeito do filme baseado no livro “Os últimos soldados da Guerra Fria: A história dos agentes secretos infiltrados por Cuba em organizações de extrema direita dos Estados Unidos” do brasileiro Fernando Morais. No início da década de 90, vários cubanos cruzaram a fronteira com os EUA fugindo do regime de Fidel Castro. Na trama do longa, o espectador acompanha alguns desses desertores, a começar pelo piloto René Gonzalez (Edgar Ramírez) que deixa a esposa Olga Gonzalez (Penélope Cruz) e a filha em Cuba e vai até Miami para entrar em uma organização que auxilia e recebe refugiados, ao mesmo tempo em que denuncia os crimes da família Castro. Ele é seguido pelo também piloto Juan Pablo Roque (Wagner Moura), que se casa com a bela Ana Margarita Martinez (Ana De Armas). Os dois recebem a ajuda dos personagens interpretados por Gael García Bernal e Leonardo Sbaraglia, já instalados nos EUA. Com essa premissa, Olivier Assayas tenta fazer uma adaptação didática de uma história literária cheia de dados e informações, isso de acordo com o que disse o próprio cineasta em uma entrevista coletiva publicada em seus mais importantes tópicos pela Woo! Magazine. A partir daí, e deixando o livro de lado, pode-se dizer que “Wasp Network” é tudo menos didático em sua execução. Acompanhando a vida de seus inúmeros personagens, durante vários anos, o filme é confuso por causa da montagem de Simon Jacquet que usa apenas letreiros para informar quando pula de um ano ao outro ou mesmo quando mostra um flashback. Em alguns momentos não dá para saber o que realmente está acontecendo, ou porque certo personagem, que ainda não havia aparecido, é jogado na tela repentinamente.
Além disso, provavelmente por causa das alterações em relação à primeira versão, há vários cortes por meio de fades que finalizam cenas que não pareciam ter chegado as suas conclusões, como se ao terminá-las se perderia tempo com outras mais importantes. Tudo isso, mais a incapacidade de Assayas em criar tensão aliada à sua predileção por diálogos longos e expositivos, tornam “Wasp Network” enfadonho – são duas horas de duração que parecem intermináveis – e de difícil compreensão. Infelizmente, excelentes atores em boas atuações são desperdiçados em um filme que é uma bagunça começada na cadeira de direção e terminada na mesa de montagem.
* Este filme foi visto durante a 43ª Mostra de Cinema de São Paulo
Imagens e Vídeo: Divulgação/RT Features/Orange Studios
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