O musical “Wicked: A História Não Contada das Bruxas de Oz” é baseado no livro de mesmo nome de Gregory Maguire, publicado em 1995, e teve sua ideia para uma adaptação teatral em 2003 nos palcos da Broadway. Em 2016, teve sua primeira montagem no Brasil, no Teatro Renault e agora em 2023, com direção de John Stefaniuk e versão brasileira assinada por Mariana Elisabetsky e Victor Mühlethaler. A peça se despede dos palcos do Teatro Santander depois de cinco meses com temporada esgotada, o que ressalta o sucesso que a montagem teve.
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Em “Wicked”, somos levados a mergulhar na fascinante Terra de Oz pela perspectiva das bruxas, com foco em Elphaba, a Bruxa Má do Oeste (Myra Ruiz) e Glinda, a Bruxa Boa do Sul (Fabi Bang). A trama nos conduz pela trajetória de uma improvável amizade entre ambas, enfrentando suas personalidades opostas e pontos de vista divergentes, além de uma rivalidade desencadeada por um interesse amoroso em comum. A narrativa também aborda a sua reação ao governo corrupto do Mágico de Oz e, por fim, a transformação de Elphaba em uma vilã icônica.
A jornada que o espectador acompanha na terra de Oz durante os 150 minutos da peça é de formação, uma vez que assistimos desde o nascimento até a “morte” da protagonista, Elphaba, passando pela escola, pelo bullying, relações familiares, primeiro amor etc. Ainda que a bruxa do oeste seja a protagonista, os demais personagens da peça também possuem seus arcos próprios, medos e alegrias, o que facilita um apego afetivo a eles. Dr. Dillamound (Cleto Baccic), por exemplo, ainda que tenha poucas aparições, faz uma denúncia do preconceito contra animais dando aula, o que é uma metáfora para a dificuldade da aceitação do diferente em ambientes escolares.
O fato das características dos personagens estarem fundamentadas no livro de Gregory Maguire, bem como no livro inicial, “O mágico de Oz”, de L. Frank Baum, traz uma familiaridade reconfortante, permitindo que o espectador se conecte facilmente com eles sem destoar da história original. Ver a origem de personagens como o Homem de Lata, o Leão Covarde e o Espantalho, assim como cenas conhecidas, tal como a chegada de Dorothy à Oz, ajudam a criar esse clima.
Morgan Large, que assinou a cenografia e o figurino, trabalhou de maneira impecável, com uma construção minuciosa e esteticamente harmônica, que envolve o público desde o primeiro momento. O dragão adormecido antes da peça começar, com seus sons, olhos brilhantes, com certeza ambientou o clima e fez com que entrássemos em Oz. A representação do voo de Elphaba saindo do palco acrescentou um elemento de magia e encantamento à experiência teatral, contribuindo para uma imersão ainda mais profunda na narrativa. Além disso, o primeiro ato se encerra de forma cativante, estabelecendo uma promissora continuidade na trama. O cuidado e a atenção dedicados ao espaço da peça são evidentes, resultando em um espetáculo visualmente deslumbrante que certamente impacta positivamente o público presente.
Além de tudo, cabe destacar a escolha pelo colorido, o que novamente relembra a estética do livro e do filme. Essas cores vibrantes estão presentes no figurino, criações originais que reelaboram o imaginário dos personagens já conhecidos o que complementa e embeleza ainda mais o cenário, trazendo um ar de conto de fadas.
Todos esses fatores contribuem em fazer o público estar em Oz, pois o ingresso funciona como um passaporte pra esse mundo mágico e quando a peça acaba, o espectador sai do teatro sentindo um fim de viagem.
Nesse espetáculo onde a magia e encanto eletrizam todo o ambiente, a relação entre Myra Ruiz e Fabi Bang, respectivamente Elphaba e Glinda, é absolutamente sublime. Com uma química cativante, elas nos envolvem em um verdadeiro turbilhão emocional, dando vida a essas icônicas personagens com uma profundidade impressionante. As trocas de olhares, gestos sincronizados e diálogos emocionantes nos fazem mergulhar de cabeça na história e nos conectamos de forma autêntica aos dilemas e aspirações das duas, demonstrando que a parceria entre colegas de trabalho pode transformar uma peça em algo memorável e tocante.
E quando se trata da performance, Marcelo Médici, que dá vida ao Mágico de Oz, é simplesmente hipnotizante. Com uma presença de palco magnética, ele domina cada instante em que está em cena, cativando a plateia com sua interpretação habilidosa e carismática. Seja através de seus movimentos graciosos ou do timbre envolvente de sua voz, somados a seus truques e habilidades, o ator representa com maestria, agregando um brilho especial à narrativa.
O roteiro flui bem, tem um ritmo, músicas e coreografias muito agradáveis. Certamente, essa peça é um verdadeiro deleite para os amantes do teatro e uma experiência mágica que ficará gravada em nossos corações por muito tempo. Como crítico, não é possível avaliar algo negativamente. Como fã, torço para que não demore tantos anos para assistir novamente.

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