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Crítica de Teatro

Crítica: Bonnie & Clyde

Imagem: Fotografia/Stephan Solo

A peça de teatro musical “Bonnie & Clyde”, sob a direção de João Fonseca, com direção musical de Thiago Gimenes e coreografia de Keila Bueno, esteve em cartaz de março a maio no 033ROOFTOP. A história acompanha a biografia dos dois famosos criminosos que dão título à peça e que se tornaram lendas na época da Grande Depressão nos Estados Unidos.

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O elenco contou com Eline Porto no papel de Bonnie e Beto Sargentelli no papel de Clyde. Os outros personagens foram interpretados por Aline Cunha (Eleanore), Aurora Dias (Cumie Barrow), Bruna Estevam (jovem Bonnie), Davi Novaes (cover de jovem Clyde e swing), Elá Marinho (Governadora Ferguson), Gui Giannetto (Pastor), Lara Suleiman (cover de jovem Bonnie e swing), Mariana Gallindo (Emma Parker), Oscar Fabião (Xerife Schmidt), Pedro Navarro (Ted), Rafael de Castro (Henry Barrow), Thiago Perticarrari (Delegado Johnson) e Yudchi Taniguti (jovem Clyde).

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Após o avassalador período da pandemia que paralisou as atividades teatrais no Brasil e no mundo, esperava-se que as peças musicais que voltassem aos palcos brasileiros trouxessem de volta nosso prazer em assisti-las. Bonnie & Clyde, feliz ou infelizmente, embora tivesse apresentações com a casa lotada, um elenco talentoso e alguns outros aspectos positivos que discutiremos adiante, não ressoa muito ao contexto brasileiro, diferente de outras adaptações que aqui chegam, como Wicked, por exemplo. Isso nos deu a sensação de estar vendo algo fora do contexto temporal e espacial, ou em outros termos, com as ideias fora do lugar. Afinal, o que essa montagem pode significar no e para o Brasil?

Quanto aos personagens e ao elenco, a peça apresenta a biografia de Bonnie e Clyde, abrangendo desde a infância até a morte deles. A peça funciona ao demonstrar os contrastes entre os diversos personagens, o que indica de modo generalizado a personalidade deles, mas não os contextualiza, de modo que não sabemos quem são e suas reais motivações.

Por exemplo, em determinado momento da peça, conhecemos Ted, o policial da prisão, que se apaixona por Bonnie, e o restante de sua participação na peça se resume a isso. É apresentado que Bonnie sonha desde criança em ser famosa, e ao decorrer da peça vemos que ela fica feliz em ter saído em uma fotografia de jornal como procurada. No entanto, o desenvolvimento do arco da personagem ignora ou deixa muito apagada sua motivação ou sonho inicial. Se Ted não apresenta nenhuma evolução, isto é, é o mesmo personagem no começo e no final da peça, Bonnie passa por uma transformação, mas que se afasta do que foi inicialmente apresentado.

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Focando no contraste entre personagens, a família é outro fator importante. A mãe de Bonnie tem uma presença maior no palco do que os pais de Clyde, e enquanto a primeira parece ter uma relação mais afetiva com a filha, o mesmo não pode ser dito da outra família. Grosso modo, é como se a família de Clyde se resumisse ao irmão Buck, vivido por Claudio Lins. Dessa forma, se os pais de Clyde fossem retirados da peça, não haveria diferença significativa para a história.

A peça trabalha com outros contrastes funcionais e disfuncionais para o enredo, como a parceira ideal e a esposa marginal, a reprimida e a livre (Emma Parker e Bonnie, respectivamente), o inteligente e o bobo (Bonnie e Buck), entre outros. Ainda, embora a peça se chame Bonnie e Clyde, o personagem masculino tem um destaque muito maior, contrastando com a protagonista feminina, que fica um pouco mais apagada.

Se o primeiro ato da peça serve para introduzir os personagens e esboça alguns problemas que eles enfrentam, o segundo ato encaminha melhor uma grande maioria deles, aprofundando-se em aspectos psicológicos e encerrando de forma satisfatória seus arcos. Um exemplo disso é o arco de Emma Parker, que é apresentada como uma devota fiel da Igreja, mas que abandona esse ideal e entende melhor as motivações de seu cunhado, tornando-se cúmplice do casal Bonnie e Clyde, que passam a atuar como uma equipe de Robin Hood.

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Até aqui, analisamos os personagens e suas disposições no roteiro, não o trabalho dos atores e atrizes. Essa peça é um típico caso em que o roteiro não é tão bom, mas a direção e a atuação salvam. O nosso destaque especial vai pra Mariana Gallindo. Que voz! Que presença de palco! Que atuação! Esperamos muito vê-la nos palcos em breve.

Um problema que a peça apresentou foi o desalinhamento entre a voz e a banda, algo que é considerado grave no teatro musical, uma vez que a música deve ser destacada. O som da banda estava muito alto, tornando difícil ouvir a voz dos cantores, que ficou abafada e prejudicou a compreensão das letras. No entanto, nos momentos em que isso não ocorreu, as músicas eram agradáveis de se ouvir.

Quanto ao cenário, ele era estático e glamouroso, adequado ao período retratado na peça, mas não foi funcional. Parte do palco atravessava a plateia, talvez com a intenção de fazer o público emergir dentro do espetáculo, mas a disposição de mesas e cadeiras onde estavam os espectadores dificultou a visualização das cenas que não aconteciam no palco principal, porque para vê-las seria necessário se levantar do lugar e se aproximar. Além disso, a iluminação era funcional, mas não apresentava nada de extraordinário. Era o único recurso utilizado para diferenciar os vários locais no palco principal, que, por ser estático, em diversos momentos dificultava a compreensão de qual lugar estava acontecendo o que víamos.

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Em relação ao tema, a peça se propõe a ser uma biografia dos personagens Bonnie e Clyde. Dessa forma, o contexto do crime é a base da peça, que desenvolve o arco desses personagens a partir de sua transformação nos bandidos mais famosos do mundo e como isso afeta suas famílias e amigos. A peça esboça temas paralelos, como a presença da fé e da moral ou ainda do contraste entre ricos e pobres em tempos de crise, mas embora esses traços atravessem-na, não possuem muita força ao longo do drama.

Em relação ao roteiro, a peça se divide em dois atos: No primeiro, os personagens são introduzidos e suas motivações, mais ou menos apresentadas. Vemos o contexto de formação de Bonnie e Clyde, como se conheceram e suas vidas cotidianas, bem como as temáticas mencionadas no parágrafo anterior, que ficam um pouco dispersas. No segundo, a desordem da temática inicial se resolve. Vemos os personagens em ação, assaltando bancos, as parcerias entre Clyde e o irmão, a relação conflituosa de Bonnie com Emma, entre outros eventos. As poucas piadas que aparecem são simples, mas engraçadas.

Em relação à duração da peça, embora o primeiro e o segundo atos tenham o mesmo tempo, o primeiro é cansativo e pode aborrecer o espectador, uma vez que não há grandes emoções. O segundo ato é mais dinâmico e avança o ritmo da história. A ambientação do início do século XX é bem construída, permitindo que o público realmente se sinta transferido para aquele tempo histórico. Por fim, a história é bem amarrada, sem pontas soltas e o final da peça apresenta um bom desfecho, algo de tirar o fôlego.

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Crítica: Bonnie & Clyde
Sinopse
Movidos por paixão, ambição e adrenalina, as vidas de Bonnie Parker e Clyde Barrow se cruzam pela primeira vez em uma lanchonete, onde a garçonete conhece o “delinquente de berço”, por quem se vê seduzida a embarcar em um mundo de viagens e crimes, entre fugas e prisões, carros roubados, armas e charutos, assaltos a postos de gasolina, pequenos comerciantes e grandes bancos, sem imaginar que, pouco tempo depois, se tornariam um retrato histórico da Grande Depressão, período marcado pela crise econômica e social americana, que levou muitas pessoas a cometerem delitos em função do desespero e revolta, e a enxergar a dupla como figuras heroicas.
Prós
Figurinos impecáveis
Presença de palco
Iluminação
Tema
Roteiro
Contras
Declamação superficial em alguns momentos do texto por alguns atores
Vozes abafadas pela banda
Cenário disfuncional
Peça cansativa
4.2
Nota
Written By

Letrólogo em formação e um apaixonado pelas artes, em especial a Literatura e o Teatro! Marvete de carteirinha, leitor de livros clássicos e duvidosos, amante declarado de teatros populares, cantor de chuveiro dos musicais da Broadway, maior visitante de exposições de SP e leitor constante de HQs de super-herois.

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