Ken Loach, Costa-Gavras e Kleber Mendonza Filho fazem filmes de contestação
Em tempos obscuros como os que estamos vivendo atualmente se tornou comum o corte de verbas do setor cultural por parte de governos que querem manter sua população completamente ignorante. Com isso, esvai-se a arte, e com ela vai junto a voz e o sangue do povo. A destruição da arte é uma tentativa de calar os indignados que, através de suas contundentes expressões artísticas, incentivam as massas contra as ideologias disruptivas. A literatura, o teatro, as artes plásticas, a dança, a música e o cinema são os responsáveis por colocar o bichinho da reflexão em cabeças quase destruídas pela alienação.
De fato, todas essas formas de expressão artísticas são importantes no trabalho de iluminação das pessoas, no entanto, este texto falará exclusivamente do cinema e de seu primordial papel de palanque político e social durante seus mais de cem anos de existência; ou você achou que os filmes só serviam para o raso entretenimento ou para serem usados como desculpas para encontros amorosos?
Contudo, antes da luz, há sempre a escuridão. Por isso, é preciso lembrar do papel primordial que o cinema teve na divulgação dos ideais nazistas de Adolf Hitles através da vanguardista Leni Riefenstahl. A cineasta disse, posteriormente à queda do Fuhrer, que não compactuava com o regime, e que seu interesse era unicamente os filmes que fazia. Pode até ser verdade, mas uma obra como “Triunfo da Vontade” praticamente deu a Hitler e seus asseclas a aura de potentes líderes que guiariam a Alemanha ao esplendor. O 6° Congresso do Partido Nazista, realizado no ano de 1934 na cidade de Nuremberg e que contou com a presença de mais de 30.000 simpatizantes do Nazismo, era o foco do filme. Por ele, inclusive, Riefenstahl foi condecorada com diversos prêmios, e virou referência para a forma de se fazer documentário com temáticas grandiosas, posteriormente.
De lá para cá, o cinema evoluiu, assim como a sociedade e a política. As chances de um novo holocausto acontecer são praticamente nulas, e não se vê filmes divulgando retóricas destrutivas, como as racistas e xenofóbicas, só para ficar nas mais comuns do Terceiro Reich. Hoje, pode-se dizer que os artistas ligados ao cinema são em sua maioria humanistas, progressistas e pacifistas. Claro que deve haver discípulos de Mussolini saindo de alguma escola de cinema mundo afora, afinal, os fantasmas do passado vivem assombrando as casas da modernidade, mas eles são a minoria arrastada para o esgoto juntos de seus ídolos mortos.
Felizmente, a indústria cinematográfica mundial segue no caminho contrário a partir de gente do porte do inglês Ken Loach, que faz filmes críticos ao sistema político neoliberal – doutrina que vangloria o capitalismo devorador de pobres – como nos recentes “Você não estava aqui” e “Eu, Daniel Blake”. Outro politizado e politizador de destaque é o mestre grego Constantin Costa-Gavras, que fala sobre corrupção e outras barbáries políticas em seus “Z”, “Estado de Sítio” e outros. No Brasil, Glauber Rocha e seu “Terra em Transe” de 1967 já mostrava um Brasil que possuía suas próprias regras de poder ao contar a história de um senador que pretende virar o imperador de uma cidade. Atualmente, Kleber Mendonza Filho desnuda uma pobre sociedade brasileira acossada pelo capital, por questões raciais e sociais em seus três longas de destaque: “O Som ao Redor”, “Aquarius” e “Bacurau”.
Outros do lado da resistência são os que fazem filmes com temáticas LGBTQ+ e racial. No Brasil, especificamente, há um “boom” deste tipo de cinema – uma resposta natural ao governo destruidor de minorias como o de Jair Bolsonaro. Claro que ainda falta a periferia nas produções cinematográficas brasileiras, tirando um pouco a câmera das mãos das elites, que dominam a produção de cinema mundial desde o seu nascimento como linguagem. Talvez, quando os sujos e esfarrapados tiverem o poder da projeção em tela escura, as realidades de seus iguais sejam transformadas para melhor. Enquanto isso, é preciso ver e rever obras com conteúdo esclarecedor, agregador e contestador, como as de Loach, Costa-Gavras e Mendonza Filho, que podem até fazer parte das elites, mas possuem a consciência política e social que todo artista deve ter.
Imagem: Divulgação/Vitrine/Versátil
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