Quando a cortina abre, o espectador sente a força do impacto artístico que está por vir. Não é apenas um show, um mostrar-se, uma exibição… É um ritual. No centro do palco de “A mulher do fim do mundo”, Elza Soares projeta a potência da sua presença. A voz singular nos arrebenta para, logo em seguida, nos dar deliciosa lambida. Todos os elementos musicais e cênicos estão integralmente interligados, e produzem um conjunto radicalmente autêntico.
Nossa diva diz que quer alegria, gritos… a plateia obedece. A festa é política, artística e a anfitriã frisa a luta pelo fim do racismo e pela igualdade de direitos entre gêneros com a autoridade de quem, como canta, “Ali onde eu chorei qualquer um chorava. Dar a volta por cima que eu dei quero ver quem dava”.
É inspirador ver como uma artista resiste e branda com toda a força de fêmea que irá “cantar até o fim”. É instigante sentir a auto estima construída com latas de água na cabeça. É difícil não sair ainda mais fascinada por Elza Soares depois de ver a relação de respeito sem hierarquia: todos os artistas e técnicos sobem ao palco para os aplausos finais. No ritual, não há estrela; há uma guia espiritual que promove um encontro de comunhão. O público pede bis e emenda em um coro de “Fora Temer”. Ouve-se a voz animada de Elza Soares: “eles querem que a gente volte”.
Comunhão entre as pessoas de mais diferentes referências culturais. Não dá para definir a audiência da Elza Soares sem passar pelo conceito de diversidade. Sair do Circo Voador, no dia 3 de fevereiro, e encontrar com a Lapa, de madrugada, intensificou ainda mais o sentido da especificidade da Arte: nutrir a infinita admiração pela alteridade.
Por Carmen Filgueiras
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.
Adorei seu site. Demorei para encontrar um conteudo tão relevante. Obrigado. Sucesso