Escritora de best-sellers na Amazon, Ana Carolina Kherlakian explora a resiliência humana em seu mais novo romance: “A garota armênia”, um drama histórico ambientado na Armênia Ocidental, atual Turquia, onde um dos maiores crimes contra a humanidade foi impetrado: o genocídio armênio. Fomos conversar com a autora para conhecer mais sobre seu último projeto.
O genocídio
De 1915 a 1917, entre 600 mil e 1.5 milhão de armênios foram expulsos de suas casas, espoliados, violentados, assassinados e deportados para o deserto da Anatólia, onde a morte por frio, fome, sede e exaustão os aguardava. Isso não ocorreu da noite para o dia: os armênios eram tidos como cidadãos de segunda classe, desumanizados não tardou para que fossem transformados em bode expiatório e um bem orquestrado plano para seu extermínio fosse posto em prática.
Não por acaso, precisou-se anos mais tarde cunhar um termo para descrever esse tipo de barbárie: genocídio — e acredita-se que o caso armênio serviu como inspiração sombria para os massacres da Segunda Guerra Mundial.
“No dia seguinte encontrei outro campo destes armênios de Zeitun. Os mesmos sofrimentos e as mesmas narrativas de martírio. ‘Por que não nos matam logo de uma vez?’, perguntavam eles. ‘Há dias que estamos sem água para beber e nossos filhos estão chorando por água. De noite somos atacados pelos árabes, que nos roubam as roupas da cama e as roupas de uso que podemos juntar, levam as nossas raparigas à força e ultrajam as nossas mulheres. Quando algum de nós não pode andar, os gendarmes o golpeia. Várias mulheres nossas atiraram-se das rochas para o Eufrates para salvarem a sua honra; algumas com as suas crianças ao colo.”
Fragmento do depoimento de Fräulein Beatrice Rohner, missionária suíça, sobre os horrores do genocídio. In: “Atrocidades turcas na Armênia”, de Lorde James Bryce.
Pensando em tratar esse tema ainda muito tabu entre alguns descendentes, em “A garota armênia”, Yeva é mais uma que perdeu tudo devido a essa tragédia, sobrevivendo a um tiro apenas graças a uma bíblia e moedas de ouro que carregava no peito, sendo forçada a marchar 15 dias pelo deserto da Anatólia até a Síria, de onde partiu ao Brasil e refez sua vida. A história é inspirada em na história da bisavó da própria autora.
Viagem ao Ararat
Nick de Angelo: Primeiramente, muito obrigado pela oportunidade desta entrevista. Eu queria começar perguntando como foi que a história de “A Garota Armênia” surgiu para você, desde como funcionou o processo de pesquisa, até como o lado real do livro esteve presente em sua família — afinal, sendo o genocídio um tema tabu e sendo você parte da terceira geração já em solo brasileiro, foi isso algo que você só soube depois de mais velha?
Ana Carolina Kherlakian: Olá, Nick, o prazer é todo meu. A ideia de escrever essa história surgiu depois que o meu pai me revelou sobre o passado da minha bisavó (mãe da mãe dele). O fato de que ela carregava moedas de ouro e uma bíblia no peito quando levou um tiro e se fingiu de morta, me surpreendeu. Fiquei sabendo sobre essa saga quando era adolescente, mas a história voltou na minha mente depois de mergulhar no mundo da escrita. A pesquisa não foi fácil, muitos lugares daquela época mudaram de nome e dados (como o tempo que os armênios levaram para atravessar o deserto até chegar na Síria) não são encontrados no Google. Eu tive ajuda de parentes próximos que me emprestaram livros de relatos incríveis…. isso me ajudou muito. No final, eu consegui criar um romance ficcional dentro de uma história que realmente aconteceu.
N.A.: Nessa mesma toada, quando escutamos a respeito de narrativas sobre a diáspora, encontramos uma grande diversidade de vivências. Para ti, como é sua relação com a identidade armênia, sobretudo pensando no processo de escrita? Ela sempre esteve presente em sua vida?
A.K.: Eu sempre fui uma pessoa muito criativa e sensível. Toco piano de ouvido desde pequena, assim como o meu pai. Me formei em publicidade e marketing na FIAM para ajudar os meus pais em suas lojas de calçados. O destino acabou me levando para a escrita… não foi planejado. Na verdade, fui criada de forma livre para me encontrar em todos os aspectos (religião, espiritualidade, identidade e carreira). Isso, me deu uma visão macro sobre a vida, expandindo os meus talentos e criatividade.
N.A.: Esse ano em que o genocídio cumpre 108 anos, ainda não reconhecido pelo estado herdeiro desses massacres. Com essa ferida ainda aberta, como é para você tratar sobre um tema tão delicado, pela via artística?
A.K.: Penso que independente de não ser reconhecido, esse massacre nos mostra a resiliência de um povo unido e cheio de vida, que não se deixa destruir e continua sua jornada espalhando sua cultura aqui no Brasil e em outros países. O foco do meu livro é exatamente essa força admirável dos armênios. A superação é algo que me cativa (me ensina a ser forte), e traz uma mensagem linda para o mundo. Dentro de uma situação ruim, há sempre um benefício equivalente, e eu quis pontuar isso na história.
N.A.: E como tem sido a recepção dentro e fora da comunidade sobre o livro? Você já tem o seu público, mas essa é a primeira vez com um romance histórico. Essa é uma recepção pacífica? E, dada a persistência de uma violência/resistência por parte de negacionistas — negando o genocídio — já houve contigo algum episódio de silenciamento, ou o saldo tem sido de todo positivo?
A.K.: Acho que a nova geração já está com uma cabeça mais aberta sobre esse tema. A comunidade armênia está recebendo a história muito bem (na verdade estão amando). Todos os livros que li abordando o genocídio são maçantes, e não são todas as pessoas que conseguem ler. Criei um romance dentro da guerra (assim como no filme ‘A Promessa’), justamente para envolver o leitor na trama, com isso, abranger um público que não conhecia a história.
N.A.: Olhando para sua trajetória até aqui, como vislumbra os próximos projetos? Há um salto considerável de plano de fundo entre escrever, por exemplo, “Amor Imortal” e “A Garota Armênia”. Tem outro lado seu que já pensa em explorar?
A.K.: Eu vou atrás de todas as histórias que me fascinam de alguma maneira. No caso do meu primeiro livro – Amor Imortal – fiquei encantada ao ler uma obra chamada Angelologia – que aborda o tema do manuscrito do mar morto. Depois, segui escrevendo romance de ficção com toque místico (que amo). Tenho a cabeça aberta para novos projetos. Penso em escrever um livro de autoajuda, já que estudo metafísica, física quântica e neurociência há mais de 15 anos. As frases de efeito do meu livro best seller: “A Vila”, foram tão comentadas que me levaram a iniciar um novo projeto, uma obra baseada nessas ideias.
Jogo rápido!
N.A.: Você tem alguma referência brasileira na hora de escrever? E mundo afora?
A.K.: […] Na verdade, eu aprendi a escrever lendo livros da Agatha Christie e Sidney Sheldon desde pequena. Sou uma leitora voraz e adoro livros com toque de suspense e mistério. Em meu processo de escrita, me baseio nos momentos que marcaram a minha vida, nas viagens que fiz, pessoas de diferentes personalidades que conheci… A minha mente é muito fantasiosa (risos).
N.A.: Melhor horário/momento para escrever?
A.K.: À tarde, em meu cantinho silencioso. Pela manhã faço meditação e exercícios.
N.A.: Qual seu último livro lido?
A.K.: Prisioneiros da mente – Augusto Cury.
N.A.: Um mau hábito de escritor?
A.K.: Acordar de madrugada para escrever.
N.A.: Tem uma leitura que seus leitores não fazem ideia que você lê (e ama!)?
A.K.: Tenho dois lados: amo thrillers e livros de romance com uma boa trama de suspense e mistério, mas também amo livros que estimulam a mente e desenvolvem a espiritualidade (metafísica, física quântica, neurociência e ciência noética).
N.A.: Ana, muito obrigado pela entrevista! Para terminar, você gostaria de deixar uma mensagem final, uma divulgação, pedido, alfinetada, declaração…? O espaço é todo seu!
A.K.: Obrigada pela entrevista e seu interesse. Espero que o leitor brasileiro valorize mais os escritores nacionais (muitos deles, escrevem tão bem quanto os autores best sellers internacionais). Sou muito grata pelos leitores que cativei desde 2015 — quando entrei nesse mundo literário. Sinto que a minha jornada está apenas começando… O importante para mim é ter os meus livros lidos e comentados, não escrevo para receber prêmios, mas para conquistar os leitores no Brasil e no mundo.
Relançamento: segunda tarde de autógrafos
Onde? Livraria da Vila, Avenida Moema, 483, São Paulo — SP;
Quando? 01/07, 16h – 19h30.
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