Paixão pela arte de atuar, algo que você irá sentir aqui ao conhecer o trabalho do ator Rhayan Jardel. Conheço o trabalho de Jardel há alguns anos, desde o primeiro dia que o vi, notei em seu comportamento o quanto é apaixonado e realizado, trabalhando como ator. Rapaz muito carismático, não passa desapercebido. Sempre de bom humor, poucos conseguiriam ver em seu semblante algo diferente de alegria. Brinca com todos e adora fazer imitações (e tem muito jeito pra coisa!) de grandes figuras conhecidas.
Jardel nasceu na cidade de Monsenhor Tabosa, fica no Ceará a 300km de distância da capital Fortaleza. Está no Rio há quase 7 anos. Ele começou a estudar teatro no Espaço Cultural Felipe Martins, em Botafogo, zona sul do Rio. Logo após foi para o Studio Oficina, no Studio Jardel aprendeu mais a fundo sobre interpretação para TV e teatro. Saiu do Studio Oficina e migrou para a Laura Alvim onde passou a ter aulas com o diretor Daniel Herz e lugar de nascimento do grupo Quinta Companhia de Teatro, Jardel é membro fundador do grupo.
Em fevereiro, a Quinta Companhia de Teatro entrará em cartaz com o espetáculo Procura-se, dirigido por Carol Santaroni. E paralelamente, em janeiro haverá estreia do curta Cariri Seco, oportunidade em que interpretou o cangaceiro Lampião.
Letycia Miranda – O que te fez escolher a profissão de ator e como foi todo esse processo?
Rhayan Jardel – O desejo de me enveredar pelos caminhos da arte teve início bem cedo – aos 6 anos de idade para ser mais exato, lembro que tudo teve início quando eu assisti a novela “A viagem” da saudosa autora Ivani Ribeiro. Entre a televisão e o teatro há diferenças enormes, e naquela época eu não sabia de nada, porém, a partir dali já era capaz de sentir o que iria querer ser quando crescesse. Morei durante a infância e adolescência inteira no Ceará, e lá, mesmo com toda a riqueza cultural existente havia em mim uma espécie de receio, tinha medo e vergonha de admitir a minha vontade de ser ator. No colégio, na época do ensino médio, havia uma professora de artes que passava de sala em sala perguntando quem queria fazer parte do grupo de teatro da escola, eu é claro que sentia muita vontade, entretanto não queria ser diferente dos meus colegas e eles todos odiavam teatro. A decisão definitiva veio aos 19 anos de idade quando finalmente me mudei para o Rio de Janeiro, isto aconteceu em 2010, após me adaptar ao ritmo frenético da cidade grande, passei a estudar para me formar e seguir carreira.
L.M – Quais são as dificuldades que você encontra enquanto ator?
R.J – Na arte da atuação é extremamente importante o (a) ator/atriz ter a plena consciência de que não se pode chegar até o pote de ouro que existe no final do arco-íris. Na minha concepção a maior dificuldade que existe, e que não se limita tão somente a mim, mas também a todo profissional de palco – é a questão do “estar bom”, não existe nada em absoluto, nem mesmo o talento, todo bom contador de estórias deve permanecer sempre inquieto, curioso e ciente de que: se não treinar constantemente corre o risco de atrofiar suas capacidades. Vivemos em um meio onde há uma concorrência acirrada acontecendo por todos os lados e temos a obrigação de estar sempre nos aperfeiçoando artística e intelectualmente.
L.M – Como é sua relação com o teatro? O que mais gosta e o que menos gosta nele?
R.J – Uma relação de amor. O que mais me fascina no teatro é o poder de união que nasce entre as pessoas, digo isto em termos de interação entre os atores no palco e também com relação a química que se estabelece com a platéia. Atuar é sempre um jogo vital e muito enérgico onde você precisa do próximo para poder dizer aquilo que o autor quer contar, até mesmo em um monólogo o (a) ator/atriz necessita de uma gama de profissionais atentos ali em prol do mesmo objetivo – o teatro é uma arte que exige comunhão.
O que me incomoda bastante é a escassez de recursos financeiros que propiciem ao profissional de teatro uma estabilidade na carreira. Quando uma pessoa decide “fazer teatro de verdade” não é raro surgir uma cruel pergunta que ecoa de todas as bocas possíveis: “você faz teatro? E como é que você consegue sobreviver?!”
L.M – Que ator ou atriz mais inspira seu trabalho?
R.J – Um ator que me inspira e cuja biografia eu fiz questão de devorar em dois tempos é o saudoso Sérgio Britto. Ele para mim é um dos maiores profissionais que o teatro brasileiro já possuiu, carrego também a mesma admiração pela primeira dama do teatro, Fernanda Montenegro. Os dois para mim são pessoas que irão varar as décadas e permanecerão fazendo com que as futuras gerações de artistas acreditarem que a arte é possível.
L.M – Sabemos que está trabalhando em curta-metragem, qual é a maior diferença em atuar no teatro e no cinema?
R.J – Cinema e teatro são dois veículos maravilhosos e bem distintos. Quando estamos inseridos no processo de montagem de um espetáculo de teatro o (a) diretor (a) sempre nos cobra: ritmo, boa articulação nas palavras e volume suficiente para alcançar àquele que esteja sentado na última fileira da platéia. Já num set de filmagem o clima é totalmente outro, existe uma abordagem mais intimista na qual os atores mergulham e que nem sempre exige necessariamente que a pessoa use bastante as suas capacidades vocais em cena. Manter uma relação pacífica com a câmera é o maior desafio – no início, eu ficava particularmente muito apavorado e travava quando tinha de atuar para alguma filmagem, no entanto com o tempo aprendi que aquela máquina em cima de um tripé não morde ninguém (risos).
L.M – Como nasceu a Quinta Companhia de Teatro?
R.J – No ano de 2014 após passar um ano sem fazer nada relacionado a teatro acabei migrando para a Casa de Cultura Laura Alvim, fiquei sabendo de um curso bem renomado através do meu amigo ator Thamás Morelli, as aulas eram ministradas pelo diretor que comanda a Cia Atores de Laura e, então, decidi me aventurar. Por lá, como aluno, participei de duas montagens de espetáculos: uma naquele mesmo ano e outra no ano seguinte, e nesse período conheci o trabalho de alguns atores que me despertaram o desejo de tornar essa “brincadeira” um negócio sério. Em junho de 2015, após sondar os 6 amigos e colegas de curso (Leo Armada, Maria Clara Parente, Nathália Reina, Nathália Goulart, Patrícia Bello e Thamás Morelli) conversei com a atriz e diretora Carol Santaroni que já trabalha com Daniel Herz há mais de 11 anos e a convidei para nos dirigir, esperava obviamente um “não”, porém, quão grande foi a minha surpresa quando ela aceitou a proposta. O nome “Quinta Companhia de Teatro” foi uma alcunha honrosa ao dia em que nós nos reuníamos para ter aula – sempre nas quintas feiras de toda semana. Naquela época queríamos montar alguma cena curta para concorrer a prêmios em um festival de esquetes que estava para acontecer no Teatro Princesa Isabel, o fato é que não fomos para esse festival, mas a partir dali começou um processo de pesquisa profundo no qual acabou resultando o espetáculo PROCURA-SE que tem direção de Carol Santaroni e supervisão de direção de Daniel Herz. Temos data prevista para entrar em cartaz em fevereiro de 2017.
L.M – Quais são seus planos para a Companhia?
R.J – Quando convidei os atores e a diretora e formamos juntos a Quinta Companhia de Teatro, acabamos fazendo uma aposta a longo prazo – fazer teatro é o nosso maior objetivo. Passamos daquela fase pueril em que considerávamos a arte de atuar como sendo apenas um hobby. Meus planos são: continuar pesquisando e contando estórias tanto quanto seja possível, descobrir novas formas de levar a arte ao público e continuar trabalhando com diversos atores talentosos que estão na luta pela construção suas carreiras.
L.M – Você tem novos projetos em andamento paralelos a Companhia?
R.J – Sempre existem coisas acontecendo e eu fico muito feliz quando sou convidado para participar. Meu contato com cinema por exemplo, surgiu através de Gabriel Morares e Matheus Benites, ambos estudantes da PUC, sempre que alguém me chama para gravar algum curta metragem, ou fazer parte de algum projeto de teatro eu caio dentro com muita vontade. Também adoro trabalhar nos bastidores do teatro, seja fazendo lá o que for, isto é o que me move sempre.
L.M – Planeja atuar em novelas também?
R.J – Mentiria feio se dissesse que não. Está nos meus planos sim, considero a TV um veículo muito importante no que diz respeito a divulgação do trabalho de qualquer artista para o grande público, porém quero continuar conciliando a minha carreira artística nos outros veículos – cinema e teatro já têm um lugar cativo no meu coração e assim será durante a minha vida toda se Deus quiser.
L.M – Que dica ou conselhos você daria para alunos de teatro que almejam entrar no mercado profissional?
R.J – O meu conselho é o seguinte: se você gosta de teatro, deverá descobrir primeiro onde é que está o seu desejo como pessoa e finalmente como artista, digo isto porque – existe muita gente que faz aulas de teatro, mas que por outro lado têm talentos visivelmente claros para seguir outras profissões, muitos já seguem outra carreira e fazem teatro só como diversão. Gostar de estar no ambiente do teatro é bem diferente de ser alguém de teatro e isto é o que faço questão de pontuar com maior veemência, pois quando alguém decide seguir a carreira de ator/atriz deve estar preparado para passar muitas dificuldades: seja para se firmar como artista, vencendo preconceitos da sociedade e muitas vezes da família e, principalmente, com relação a situação financeira. Tendo em mente todos os prós e os contras dessa tão árdua profissão você terá também que ser persistente, precisará muitas vezes inventar suas próprias possibilidades ao invés de esperar que caia tudo do céu e finalmente terá que entender que a luta nunca está ganha, portanto: nunca pare de estudar, de pesquisar e de praticar o teatro sempre em sua vida.
L.M – Sinta-se a vontade para deixar alguma mensagem para o público.
R.J – Gostaria de agradecer imensamente o espaço cedido pela Woo! Magazine, em especial quero agradecer a minha querida amiga Letycia Miranda pelo convite a participar de uma matéria tão bacana e inovadora como é a Exposé. No mais, quero deixar o meu muito obrigado à todos os envolvidos na produção do espetáculo que estrearemos em 2017 – produtores: Marcelo Muz e Thiago Menezes, Trilha sonora: Rafael Telles, figurino: Renata Mota, Cenário: Daniel Disitzer. Convido à todos os leitores e o público em geral para conferir o espetáculo “PROCURA-SE” que ficará em cartaz na Sede das Cias de 03 a 20 de fevereiro de sexta à segunda. Quem quiser nos acompanhar nas redes sociais é só pesquisar por @quintaciadeteatro um grande beijo e um forte abraço em todos! Nos vemos no teatro!
Por Letycia Miranda
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