Danny Boyle e Alex Garland revisitam o apocalipse zumbi com crítica social afiada no novo longa de “Extermínio”
Em 2002, “Extermínio” (“28 Days Later”) despertou grande interesse dos cinéfilos por ser dirigido por Danny Boyle, cineasta aclamado por obras cult como “Trainspotting” e “Cova Rasa”. A curiosidade era saber como ele abordaria um filme de zumbis, subgênero inédito em sua filmografia — pelo menos não no formato tradicional, já que os personagens drogados de seus trabalhos anteriores poderiam facilmente ser vistos como mortos-vivos.
Como muitos antecipavam, sua visão do apocalipse, desencadeado por uma variante do vírus da raiva, surpreendeu ao transcender o horror, o sangue e a carnificina esperados. A narrativa, mesclando estilo documental e estética de videoclipe, somada a um roteiro que explora a bestialidade inerente ao ser humano — sem a necessidade de um vírus para despertá-la —, eleva a obra artisticamente.
Agora o diretor retorna para a terceira parte da franquia, intitulada no Brasil “Extermínio: A Evolução” (“28 Years Later”), após a sequência ter sido conduzida por Juan Carlos Fresnadillo. A expectativa em torno de seu retorno era justificada, pois ficara claro, após o primeiro filme, que seu interesse não se limitava a um mero thriller de sobrevivência pós-apocalíptica — especialmente agora que o roteirista Alex Garland, também consagrado como cineasta, é amplamente reconhecido.
E, de fato, para este que vos escreve, ambos cumpriram seu papel como cineastas que não olham pelo visor de suas câmeras apenas para apontá-las para o óbvio, mesmo que o tema “zumbi” já esteja tão desgastado após anos e anos de produtos do tipo terem saído para o cinema e TV.

Contudo, não espere que “Extermínio: A Evolução” inove a cada frame, principalmente em sua estrutura. Há elementos familiares: a comunidade sitiada, reminiscente de “The Walking Dead”, e a jornada perigosa de personagens em busca de um objetivo, forçando-os a deixar sua zona de conforto para enfrentar infectados mais evoluídos que os do filme original. No entanto, é no conteúdo textual que a obra se destaca. Garland e Boyle são incisivos ao retratar uma sociedade dominada pela masculinidade.
O gênero masculino, com sua testosterona exacerbada, é apresentado como irracional — o que inicia guerras por território ou supremacia, seja como nação, seja como espécie “evoluída”. Essa ideia é personificada em Alpha, um infectado mais forte e inteligente, que comanda outros como soldados em um conflito contra humanos. O paralelo com guerras reais, medievais ou contemporâneas, é enfatizado por inserções de imagens que remetem a conflitos históricos.
Mas quem pode deter essa dominância masculina destrutiva, intensificada pela infecção? A resposta reside nos personagens de Jodie Comer (Isla) e Alfie Williams (Spike). Eles embarcam em uma jornada em busca de um médico insano, vivido por Ralph Fiennes, pois Isla sofre de uma doença aparentemente fatal. Mãe e filho enfrentam o desconhecido, testemunhando inúmeras mortes, mas é o nascimento de uma nova vida que transforma suas perspectivas — e a do público. Mulher e criança simbolizam o futuro da existência humana, relegando ao segundo plano a figura paterna, interpretada por Aaron Taylor-Johnson, e suas mentiras e orgulho típicos do arquétipo masculino.
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“Extermínio: A Evolução” não poderia ser mais atual, portanto. Basta acompanhar os noticiários para perceber que o planeta está à mercê de homens movidos por orgulho político, religioso e social, que, para ocultar seus crimes, sacrificam outros em seu lugar. A única diferença para os Alphas? Estes parecem estar involuindo em inteligência.
Imagem Destacada: Divulgação/Sony Pictures

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