“Eu era apenas a mão que escrevia”
O escritor e jornalista mineiro, Autran Dourado, causou um grande rebuliço ao dizer essa frase lá pelo fim dos anos 1950. Ele instigou a curiosidade de muita gente, principalmente por isso ter acontecido durante o período em que foi secretário de imprensa da República aqui do Brasil, entre 1958 e 1961. O fato se deu porque, além de assessor, Autran se tornou também “ghostwriter” do então presidente, Juscelino Kubitscheck, escrevendo todos os seus discursos e textos.
Mas afinal, o que é um ghostwriter e o que ele faz?!
O termo foi criado pelo norte-americano Cristy Walsh, quando em 1921 fundou o Crystal Walsh Sindicate, para explorar a produção literária dos heróis do esporte. Traduzindo para o português, a palavra significa “escritor fantasma”. E levando para o lado mais prático, resumidamente, é a definição usada para o profissional que é pago para escrever livros, artigos, textos, apostilas e até músicas e trilhas sonoras e não recebe os créditos de autoria pelo texto que escreveu. É bem como diz aquele velho ditado: “não se deve julgar um livro pela capa”. Tudo é feito em nome de uma terceira pessoa. Os direitos autorais sobre as obras são vendidos para uma pessoa física e/ou jurídica. Não há nenhuma violação ou irregularidade se o texto for divulgado como sendo de autoria de outra pessoa. Fica registrado em um contrato ou acordo de cessão de direitos autorais. Tornou-se também muito conhecido no mundo das celebridades e das personalidades políticas, no qual são contratados com frequência para redigir biografias e discursos, por exemplo. Também são bastante procurados para dar continuidade ao legado de um autor consagrado após a sua morte.
A vida de um ghostwriter é bem peculiar, digamos. Ele é praticamente um ser invisível. Na verdade, quanto menos visível, mais bem-sucedido ele será. Ele é contratado para satisfazer a vaidade e o ego daqueles que querem ver seus nomes na capa de um livro, mas não têm tempo ou não têm o dom para escrever. E esses fantasmas literários estão por aí, espalhados por todo canto. As editoras não hesitam em contratar os “escritores de aluguel”, visando apenas o próprio lucro.
Mas, se por um lado o anonimato pode não ser algo legal, por outro, ser um ghostwriter pode ser um grande negócio. As dificuldades para escrever sempre se relacionam com amor e dinheiro. Mas é totalmente normal, da mesma forma que acontece algumas vezes no caso de outros livros. O curioso é que muitas pessoas têm histórias super interessantes que gostariam de contar mas, às vezes, mesmo sendo apaixonadas pela literatura e pela escrita, não conseguem transportar para o papel. Pois, é nessa hora que o ghostwriter é contratado.
O escritor britânico, Andrew Crafts, após atuar por cerca de 40 anos como ghostwriter, decidiu sair do anonimato. Ele conta que chegou à profissão meio que por acaso, porque não queria ter um emprego permanente. “A vida de um ghostwriter é feita de episódios. Um perfeito arranjo. A gente recebe um pedido, passa pela aventura de ir a um palácio ou a um bordel e depois retorna à segurança de seu lar. Isso sem falar de todas as pessoas que conhecemos”.
Ele escreveu uns 80 livros e vendeu mais de 10 milhões de cópias. Se descreve como “escrevinhador oportunista” porque era só pagar bem que ele escrevia. Ele se orgulhava de seus textos e ter ganhado bem a vida durante todo esse tempo que trabalhou como escritor (fantasma). Ele criou e publicou um manual de como trabalhar como escritor de aluguel, o ghostwriter acabou se tornando um profissional de referência, algo como um escritor fantasma dos escritores fantasmas.
Então, se não há autoria e direitos sobre a obra, por que essa é uma ocupação que tem crescido tanto no mercado de trabalho?
O regime de contratação de ghostwriters, algumas vezes, ocorre por meio de trabalhos freelancer. Ou seja, você é contratado por cada obra que escreve. Assim você ganha pelo trabalho que faz. Quanto mais textos e trabalhos, mais você recebe por isso.
Porém, na grande maioria dos casos, os contratos acordados para serviços de ghostwriting são pagos antecipadamente ou também por pacotes fechados. Se um escritor convencional precisa aguardar os royalties e suas variáveis, o pagamento é realizado de acordo com o combinado. Geralmente, o pagamento para os autores depende de cada contrato e de cada editora. Há editoras que oferecem algum tipo de adiantamento, mas os autores também podem ter direito aos royalties. Por isso, ficar atento no que está escrito no contrato é importante.
Outra vantagem é poder escrever sobre qualquer assunto. Não há uma área específica em que o trabalho de um ghostwriter é mais solicitado. São livros de ficção, romance, romance policial, fantasia, crônicas; textos de organização pessoal, finanças, medicina, administração, recursos humanos, etc.
Além de livros, o profissional poderá também investir em produção de artigos e matérias, redação de posts para blogs e redes sociais e ainda escrever biografias.
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