Programa duplo promove diálogo entre o urbano de “O Corpo” com a festa nordestina de “Parabelo”
Terminou no último fim de semana a curta temporada da companhia de dança mineira Grupo Corpo no Rio de Janeiro. Reunindo em um único programa dois de seus mais conceituados espetáculos – “O Corpo” e “Parabelo” – o grupo reflete a inteligência e atualidade das duas obras criadas por Rodrigo Pederneiras, passados mais de 20 anos desde as primeiras apresentações. Em noite de casa cheia no Teatro Multiplan VillageMall, o público pôde se deleitar com um espetáculo sensorial diverso, que anda de mãos dadas com a fina qualidade técnica da execução dos bailarinos. Confira a seguir a crítica desses dois belíssimos espetáculos:
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O Corpo
Em 2000, quando o espetáculo “O Corpo” ganhou os palcos pela primeira vez, a cibernética adentrava cada vez mais os lares e a música eletrônica se popularizava, em mais um salto tecnológico experienciado que anunciava um caminho sem volta no novo milênio. E os elementos coreográficos criados por Rodrigo Pederneiras parecem projetar a relação humano-máquina na dança. Os movimentos explorando ângulos retos e precisos em figurinos negros, contrastando com o linóleo e as projeções de luzes vermelhas conferem uma estética urbana pouco comum às produções do grupo até então.
Passados 24 anos da estreia, “O Corpo” segue relevante. Atualmente, nem sempre há como saber o que é real ou criado artificialmente, especialmente na vida pós pandêmica onde os corpos habitam mais telas que espaços. Ou seja, a relação do corpo com os espaços – físico e virtual – tornam ainda mais pulsante essa criação. Tudo isso elevado à potência máxima pela originalidade característica das experimentações musicais de Arnaldo Antunes.
Parabelo
Após um intervalo, entra em cena “Parabelo” a vibrante celebração ao nordeste brasileiro criada por Rodrigo Pederneiras em 1997 ao som de dois gigantes da música brasileira: Tom Zé e José Miguel Wisnik. Além disso, a peça conta com a participação em voz de Arnaldo Antunes, em mais uma colaboração do artista com o grupo. Mas não pense que a transição entre os dois espetáculos é abrupta. No início figurinos em tons escuros e iluminação mais ocre vão aos poucos se tornando mais claros e fluidos. Do mesmo modo, os movimentos ficam mais sinuosos e enérgicos, inspirados na riqueza do xote, do baião e de tantas danças que iluminam a cultura nordestina brasileira.
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Mas há também força, equilíbrio e precisão. Dois bailarinos, quase no escuro envolvem a plateia ao se entrelaçarem ao som de um piano. É um momento de delicadeza em meio ao sol e ao calor do sertão nordestino que vem a seguir. O final do espetáculo é apoteótico, de tirar o fôlego mesmo. Com luzes, cores e movimentos com transições rápidas. O encerramento é uma grande exaltação da nossa cultura regional. Por fim, a junção de forças tão opostas, como o urbano das grandes metrópoles e o luar do sertão, representa a vanguarda criativa em constante movimento do Grupo Corpo.
Imagem: Divulgação/O Corpo (Crédito: Sharen Bradford)
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