“A TV é monstro. Ela consome toda essa animação em tão pouco tempo, e ninguém parece se importar se a animação é boa ou ruim. Esses shows para crianças são tecnicamente mal feitos; A impressão é que ninguém além das crianças realmente os vêem… Nem os próprios canais, que apenas querem saber da audiência. Se a audiência estiver boa, pro inferno com a qualidade do show! Eles não se importam se é apenas uma bola quicando.” Essa frase é de Friz Freleng, conhecido por ter dirigido vários dos curtas dos Looney Tunes e mais tarde criar a DePatie-Freleng Enterprises, produtora responsável por nada menos que a série animada da Pantera Cor-de-Rosa. Pegamos essa frase como ponto de partida para uma reflexão sobre a transição da animação da tela do cinema para a tela da TV.
Vamos pensar um pouco na Era de Ouro da Animação, período na história da animação americana que começou com a chegada dos desenhos sonoros em 1928 e durou até o início dos anos 60. Seu auge foi entre a segunda metade dos anos 30 e o início dos anos 40. Foi na Era de Ouro que Walt Disney criou os seus primeiros longas de animação – Branca de Neve e os Sete Anões, Pinóquio, Fantasia, Dumbo e Bambi. Uma curiosidade: Os curtas de Disney, em especial os “Silly Symphonies” eram vistos por Disney e por seus animadores como oportunidades para testar novas técnicas que depois seriam aproveitadas nos longas. Muito bem, nesse período, cada frame de um desenho animado poderia ser considerado uma obra-prima! A maioria dos cenários eram pinturas belíssimas, e os personagens, animados inteiramente quadro-a-quadro. O fim desse glorioso período foi marcado justamente pelas mudanças que ocorreram, principalmente pela migração da animação para outra mídia: A televisão.
A televisão pode não ser um “monstro” como afirmou Friz Freleng, mas certamente chegou para mudar completamente a maneira como a arte da animação vinha sendo conduzida. A necessidade de material novo para suprir a demanda era muito grande, de forma que seria impossível suprir na velocidade como os desenhos animados eram feitos até então. Assim, surgiu a animação limitada, uma produção “econômica” onde ao invés de se animar o quadro (ou personagem) inteiro, se animam fragmentos, ou, dependendo do caso, nem se anima, utilizam-se recursos como movimentos de câmera pelo cenário ou se usam sons e falas para se passar a mensagem economizando nos movimentos. Na era da televisão esse tipo de animação era regra, e não exceção… Para entender melhor do que estamos falando, basta assistir qualquer desenho de Tom & Jerry dos anos 40 e comparar ao lamentável período da série em 1975.
Melhor seria que a TV não tivesse sido criada e as animações continuassem com a beleza da Era de Ouro? De forma alguma! Ao migrar para a TV, tivemos muitas produções que, embora não tivessem a qualidade de animação vista antes, caíram no gosto do público compensando tudo isso com personagens carismáticos e roteiros sensacionais. A Hanna-Barbera foi o estúdio que mais contribuiu com boas produções no começo da era da TV, dando vida à personagens icônicos, queridos no mundo inteiro, entre eles os Flintstones, Zé Colmeia, Manda-Chuva, os corredores birutas da Corrida Maluca e tantos outros! Infelizmente essa boa fase também passou, e mesmo os roteiros perderam muito a qualidade, dando início à uma série de spin-offs desnecessários e repetitivos.
O Renascimento: Se entre o início dos anos 70 e o final dos anos 80 a animação ficou usando repetições, roteiros fracos e personagens que não passavam de releituras de sucessos engavetados (com raríssimas exceções) esse período chegou ao fim quando perceberam que a qualidade importava sim! Dessa forma, no final dos anos 80, começam a surgir desenhos animados que deram início ao chamado “Renascimento da Animação Americana”, que podemos considerar como uma segunda chance de mostrar o que a animação tem de melhor, tanto em roteiro como em técnica! A Disney foi buscar inspiração nos quadrinhos de Carl Barks, trazendo para o público a série “DuckTales”. A Warner, por sua vez, criou a série “Tiny Toon Adventures” onde uma nova geração de “lunáticos” tem como professores ninguém menos que os próprios Looney Tunes, grandes astros da Era de Ouro da Animação. Muitos outros estúdios vieram acompanhando esse movimento, fazendo dos anos 90 um período repleto de clássicos e personagens inesquecíveis!
Após essa viagem no tempo, podemos chegar à uma conclusão: Desenhos ruins sempre existiram e sempre vão existir. Assim como os bons. São erros e acertos que fazem com que tenhamos tantas opções! Mudanças são inevitáveis e bem vindas. Para que elas ocorram são necessárias tentativas! Se não fosse assim, ainda estaríamos apenas com animações sem som, em preto e branco, não é verdade?
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