O cinema neorrealista italiano nasceu no contexto do segundo pós-guerra, no processo de libertação do regime fascista, onde o país tentava reerguer-se e também a sua cultura.
Com a tarefa de recuperar moralmente o país, os intelectuais de esquerda e do partido comunista engajaram-se em fazer isso principalmente por meio do território artístico. As artes plásticas e a literatura destacaram-se de início. E o cinema veio mais tarde, por volta de 1945-46.
E foi em 1945 que se deu o marco desse cinema politizado e de estética tão forte. O lançamento de “Roma, cidade aberta” de Roberto Rosselini estreou neste ano com ótima recepção do público.
Rosselini adotou uma abordagem improvisada que percorria as ruas da então recém-libertada cidade de Roma, tentando captar a realidade de quem vivera naquele período e levá-la à tela com veracidade. Com aspectos documentais, ainda contém um pouco do que seria o cinema hollywoodiano.
Rosselini foi um dos principais nomes do neorrealismo italiano, juntamente com Vittorio de Sica (Vítimas da Tormenta, 1946; Ladrões de Bicicleta, 1948; Humberto D, 1952) e Luchino Visconti (Obsessão, 1943; Sedução da Carne, 1954).
Mesmo que “Roma, cidade aberta” tenha sido considerado o marco inicial desse neorrealismo cinematográfico, o filme “Obsessão” (1943) de Luchino Visconti já apresentava características que iniciariam esse cinema.
Em meio a estas produções, esbarrava-se no autoritarismo católico, que controlava os circuitos de exibição e coordenava também as censuras, tudo de acordo com os “princípios morais e educativos da Igreja”. Foi então que os cineclubes começaram a destacar-se nesse cenário.
Esse cinema ficou caracterizado pela representação objetiva da realidade social, exercitando-se como um veículo estético-político de resistência. Seus temas tinham como protagonistas representantes das classes sociais mais baixas, a classe operária, que era colocada em questão no ambiente injusto e fatalista em que vivia. A frustração era sempre a consequência da busca por condições melhores de vida. Como podemos reconhecer em “Alemanha, ano zero” (Rosselini, 1948).
Abstinham-se da utilização de efeitos visuais e faziam uso de planos médio e de conjunto. A câmera apenas filmava, sem sugerir nada. Seguiam muito da tradição do documentário e suas filmagens se davam em cenários reais, o que dava espaço a muita improvisação na interação das personagens com a paisagem. Além disso, as personagens eram muitas vezes representadas por atores não profissionais.
O grande momento do neorrealismo italiano no cinema foi de 1945 a 1948. Atingindo seu apogeu com “Alemanha ano zero”, “Ladrões de bicicleta” e “A Terra treme”.
Depois desse período, o público passou a perder o interesse pelas produções neorrealistas, que não conseguiam transformar-se numa linguagem cinematográfica para as massas; além disso, sua motivação ideológica se perde em detrimento das forças conservadoras. De 1948 a 1962 as produções norte-americanas sufocam a expressão neorrealista no cinema da Itália e concretizam o seu declínio.
Por Letícia Vilela
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