Poucos movimentos foram tão influentes como a nova onda francesa (Nouvelle Vague). Movimento que tem incentivo do neorrealismo italiano, a Nouvelle Vague surge na França na década de 1960, com uma necessidade de romper com o clássico, mesmo que reconheçam e valorizem-no. Utilizavam assim, elementos modernos entrelaçados aos modelos já conhecidos no cinema, mas rompendo regras impostas pelo modelo clássico.
Seu inicio deu-se através de um grupo de cinéfilos franceses composto por Andre Bazin, Henri Langlois e os futuros diretores desse cinema: Truffaut (Atirem no Pianista, 1960; Uma Mulher para Dois, 1962), Godard (Acossado, 1960; Uma mulher é uma mulher, 1961), Rivette (Paris nos Pertence, 1960), Chabrol (Os primos, 1959; Quem matou leda? 1959), Varda (As duas faces da felicidade, 1965) dentre outros. Têm como ideal a união do patrimônio cultural europeu e transportam isso para a tela com uma redefinição do modo de filmar. Paris é o grande centro dessa cultura e é enaltecida nas obras destes cineastas. A cidade é como uma personagem da história. Destacá-la dentro de um filme é um elemento primordial.
Com interesse particular na memória do cinema, a Nouvelle Vague preocupava-se com a preservação do cinema de forma precoce comparada aos outros movimentos e valia-se das cinematecas para aprender a compreender o clássico e criar o moderno. Momento esse em que o cinema extrapola os limites dos estúdios e ganha cenários reais já existentes, explorando a cidade.
Admiravam o cinema clássico mesmo que querendo distanciar-se dele, usando elementos desse cinema a favor dos ideais que tinham para com a Nouvelle Vague que queriam construir. Valorizavam a literatura e a arte modernas, aplicando seus conceitos no cinema com a incorporação do acaso, valorização da montagem e da realidade documental.
A figura de André Bazin tem grande destaque nesse período. Fundador da “Cahiers Du Cinemà”,abriu espaço para a valorização desse cinema e era incentivador do cineclube como uma escola.
Discordante dos jovens fazedores da Nouvelle Vague em pontos como a “pureza” do cinema (Bazin acreditava na contaminação do cinema pelas demais artes, já os “turcos” – como eram chamados o grupo que fazia esse cinema – consideravam o cinema como puro, um cinema feito apenas pelo cinema.), Bazin falava da orquestração do olhar, enquanto os “turcos” defendiam um julgamento livre do olhar.
A nouvelle Vague recusa-se a adaptar-se a fidelidade mental de processos contínuos pregada por Bazin. Utilizam insistentemente o “faux raccord” (sequência em que dois planos aparentemente não se conectam, criando uma dubiedade da interpretação, que fica por conta do espectador), “femmes fatales” (atrizes desconhecidas, muitas vezes) e descontinuidade.
Então, em 1954, Truffaut escreve seu artigo “Uma certa tendência do cinema Francês”, onde vai contra a noção de cinema “impuro” de Bazin e exige maior autenticidade e liberdade cinematográfica com relação às adaptações literárias. Afirmava que os diretores de cinema de qualidade se tornavam meros funcionários dos roteiristas, citando ainda uma “ditadura de dramaturgia” que julgava existir.
Explanando os principais aspectos componentes das obras cinematográficas da Nouvelle Vague, constata-se o uso de elementos sempre presentes, como a já citada, paixão pela cidade de Paris e sua exaltação, colocando-a como protagonista dos filmes. Há também o uso de mise-em-scène e a narração conta com artifícios como flashbacks, voz over e intervenções sonoras e visuais, sempre explorando as relações de tempo.
Existem inúmeras referências ao próprio cinema, fazendo uso da metalinguagem, como percebemos com grande fervor na obra de Godard.
Esse movimento começou com “Nas garras do vício” (Claude Chabrol, 1958), mas foram “Os incompreendidos” (Truffaut, 1959) e “Acossado” (Godard, 1960) os filmes de maior destaque, sendo esse último considerado como o filme que definia a Nouvelle Vague, pois exibia todos os elementos que fundamentavam o estilo desse movimento.
Por Letícia Vilela
• Referência bibliográfica: MANEVY, Alfredo. NOUVELLE VAGUE. IN: MASCARELLO,Fernando (org.). HISTÓRIA DO CINEMA MUNDIAL. Campinas, São Paulo: PAPIRUS, 2006.
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