Já imaginou um encontro entre o rei Jon Snow e o cangaceiro Lampião? O que aconteceria se o rei de Westeros encontrasse o rei do cangaço? Se você nunca pensou nessa louca possibilidade o poeta Astier Basílio já. No dia 16 de julho de 2017, enquanto todos os fãs de Game of Thrones esperavam ansiosamente pela estreia da sétima temporada, o escritor paraibano lançou o cordel “A Chegada de Jon Snow no Inferno”. A obra trouxe uma combinação inesperada: o cordel tipicamente nordestino e a série norte-americana que se passa em um mundo ficcional bem parecido com a Europa medieval.
A temática já é por si só interessante, mas a história do cordel também promete. “A chegada de Jon Snow no Inferno” narra o que poderia ter acontecido com o homem mais valente de Westeros entre sua morte e a sua ressurreição. Como diz o título, Jon Snow chega ao inferno. Um inferno na perspectiva da Divina Comédia de Dante, em que o rei tem que pagar por todos os pecados que cometeu na vida. O autor trabalhou o inferno como um espelho invertido de nossa própria vida. Jon Snow morre várias vezes até conseguir se perdoar.
Em sua jornada pelo submundo, Jon Snow encontra com alguns personagens do universo de George R. R. Martin como seu pai Ned Stark e a sacerdotisa vermelha Melisandre. O protagonista do cordel também encontra com personagens do folclore nordestino como Cumade Fulozinha e o rei do cangaço, Virgulino Lampião.
Jon disse: “que estranho porte…
E as roupas que vocês usam?”.
Lampião: “Somos do Norte.
E aqui os Nortes se cruzam
Serra Talhada, Winterfell
Bebemos do mesmo fel
A mesma sorte nos veste.
Pois do Norte somos nós.
O sertão é um Westeros
Winterfell é o Nordeste”
A obra é cheia de outras referências, principalmente à cultura e folclore nordestinos. A narrativa em si é uma referência a um clássico da literatura de cordel, “A Chegada de Lampião no Inferno”, de José Pachêco, que inspira o título do folheto de Basílio.
A capa do cordel, uma arte do designer gráfico Emmanuel dos Anjos, faz uma clara referência à arte de Rogério Duarte. Quem olha Kit Harington, o Jon Snow, vestido de cangaceiro com um cajado à sua frente pode facilmente confundi-lo com Othon Bastos, o Corisco do filme de Glauber Rocha “Deus e o Diabo na Terra do Sol”.
A convergência entre o universo do cordel e da série Game of Thrones parece bastante inusitada. Mas a obra de Astier Basílio não inaugurou esse encontro. Há alguns anos a ilustradora brasileira Marianna Steffens fez uma releitura das capas dos cinco livros da série “Crônicas do Gelo e Fogo”.
As ilustrações de Marianna imitam a ilustrações feitas com a técnica da xilogravura (carimbos que são talhados em madeira), geralmente usada para estampar capas de cordéis. Cada capa traz ilustrações dos personagens mais emblemáticos daquele livro.
A proposta de misturar dois mundos – e dois públicos – tão diferentes é bastante ousada. O próprio autor disse que escreveu o cordel para se divertir, mostrou para um amigo nerd, mas não levou muita fé. Ele disse que não sabe se vai encontrar um público que goste tanto de GoT quanto de cordel. Mas “A chegada de Jon Snow no Inferno” já foi comentado em portais como Folha e G1 e foi aprovado por muitos fãs da série e por muitos fãs de cordel. Talvez o pop não precise estar assim tão longe da cultura popular.
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