Jovens Mães é um retrato contemporâneo de mulheres abandonadas à própria sorte
Com “Jovens Mães”, os irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne conquistaram o prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes deste ano. O filme apresenta uma antologia que retrata as histórias de jovens mães acolhidas por uma instituição responsável por oferecer abrigo e orientação para que possam criar seus filhos, ou, alternativamente, optar pela entrega dos bebês à adoção por famílias abastadas.

Como é característico em sua filmografia, os cineastas adotam uma abordagem realista, com câmeras discretas e uma fotografia que, dentro dos limites do cinema, preserva as cores naturais do cotidiano, evitando manipulações que confeririam à obra um aspecto artificial de pós-produção. As imagens são despojadas e os enquadramentos buscam capturar de forma íntima a condição dos personagens. A ausência de trilha sonora extradiegética reforça o compromisso com a autenticidade emocional.
É por meio desses recursos narrativos que os Dardenne conseguem, mais uma vez, lançar luz sobre uma questão social relevante tanto na Bélgica quanto globalmente: a maternidade precoce enfrentada por jovens sem qualquer suporte familiar ou conjugal, e por vezes com vícios em drogas ou com problemas psicológicos — sendo que, em muitos casos, os parceiros simplesmente as abandonam. Retornam, assim, aos temas sociais que permeiam grande parte de sua obra, o que é esperado e desejado por seu público fiel, que encontra nesses filmes o que os autores sabem entregar com maestria.

No entanto, “Jovens Mães” apresenta um deslize pontual na preparação do elenco. As atrizes que interpretam as protagonistas, assim como parte dos coadjuvantes, nem sempre convencem nas cenas de maior carga dramática, o que compromete o impacto de momentos cruciais, enfraquecidos por expressões ou lágrimas que soam artificiais. Embora isso não comprometa a integridade da obra, trata-se de um aspecto que poderia ter sido mais refinado, especialmente considerando o prestígio dos realizadores, que hoje são considerados mestres.
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Dito isso, é reconfortante ver os Dardenne, mesmo depois de tanto tempo de carreira, demonstrando vigor criativo e sensibilidade ao retratar as dificuldades enfrentadas por mulheres em seu país — que, apesar de desenvolvido, ainda convive com desafios estruturais. Os cineastas expõem essas questões com clareza, mas optam por uma conclusão esperançosa, o que é revigorante em um cenário global cada vez mais sombrio. Cabe agora aos espectadores do mundo utilizarem a obra como espelho e, a partir dela, refletir sobre os próprios dilemas e responsabilidades diante do tema.
Jovens Mães foi visto durante a 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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