Nos dias atuais, os suspenses seguem, geralmente, a mesma linha: um dos personagens é psicopata, fica obcecado pelo mocinho ou mocinha, mas ninguém consegue ver o quão estranha essa pessoa é, mesmo que sempre caia de paraquedas na vida de todos. Conforme o filme vai se desenrolando, alguns vão acordando para a realidade, em que reparam traços de instabilidade, até que, chegando ao final, a verdade vem à tona e um dos personagens é ferido gravemente pelo novato. Contudo, “Liar” é o oposto disso. Se você sente falta em caminhar no escuro sem ter uma mínima noção de quem é a vítima, continue lendo esse texto.
A nova minissérie do canal inglês ITV, criada pelos irmãos Harry e Jack Williams, traz a história de Laura Newell (Joanne Froggatt) e seu breve envolvimento com Andrew Earlham (Ioan Gruffudd), cirurgião do hospital que sua irmã mais velha trabalha e pai de um de seus alunos mais rebeldes. Após o término de um relacionamento de anos com Tom Bailey (Warren Brown), Laura está se sentindo sozinha e acaba seguindo os conselhos da irmã Katy (Zoe Tapper) para sair com o médico gato que a convidou. Só nesse início de narrativa já é possível perceber um novo estilo dentro do gênero. Todos os personagens se conhecem, convivem diariamente um com o outro. Ninguém chegou do nada, sem precedentes.
Pela incompatibilidade de agenda para o dia seguinte, os dois resolvem sair na mesma noite em que ocorreu o pedido. Eles vão jantar, se divertem e, na hora de deixar a dama em casa…ops! O celular ficou sem bateria. Desculpa clássica, além da de pedir para tomar água, somente com a finalidade de ser chamado para entrar na casa. Eles tomam um vinho, até aí nada demais. Mas é só isso que conseguimos. Depois, no dia seguinte, a professora de Ensino Médio acorda vestida e com um aspecto péssimo. Acontece que, apesar de ter recebido uma mensagem de Andrew sobre a noite passada, ela não está bem. Mesmo com um andar perturbado, ela vai até a casa da irmã, onde mora com o marido e os dois filhos. Ela alega que foi estuprada pelo galã, mas, enquanto isso, o príncipe viúvo debate com o colega de trabalho sobre a noite incrível que teve. Afinal, quem está mentindo?
Possivelmente por ser uma versão menor, com apenas seis episódios, os criadores optaram por não enrolar muito o momento de paquera do casal e já, no episódio piloto, mostraram o final do conto de fadas. Pegaram um assunto polêmico e mostraram por trás das cortinas. Levaram os espectadores, junto de Laura e Katy, para uma clínica que verifica sinais de estupro. Mostram os procedimentos e ainda ligam para a polícia. Tamanha eficiência seria impossível aqui no Brasil. Os detetives enviados para o caso são Rory Maxwell (Danny Webb) e Vanessa Harmon (Shelley Conn). Preparados para atendê-la, eles assim que colhem informações, vão direto ao encontro do suposto criminoso. Contudo, novamente com o bom trabalho dos envolvidos pela obra, Andrew aparece trabalhando tranquilo e sem entender o porquê de Laura não ter respondido sua mensagem. Será que foi cedo demais? Grudento demais? Acontece que, independentemente dos dois parecerem inocentes, um deles está mentindo.
Nos poucos episódios disponíveis, é trabalhada, na ficção, ambos os lados. Enquanto Laura se mostra enfurecida e instável com o suposto ocorrido, Andrew só demonstra seu espanto e sua indignação com tamanho absurdo. Entretanto, mais uma vez marcando um ponto positivo, o foco não é somente no casal incompatível. Outros dos poucos personagens da série mostram-se coerentes com o título da obra. A mentira cerca a todos, mesmo que, até onde nos foi exibido, o marido de Katy seja apenas um bom moço e um pai melhor ainda. Desse conto, tudo é possível.
Voltando para o núcleo principal, simultaneamente aos atos inconsequentes de Laura, Tom, a pedido das irmãs, acha algo do passado de Andrew que não aparecia na investigação. Mas, para que o público não fique tendencioso desde o início – exatamente como fazem os demais suspenses –, jogam no ar a possibilidade de Laura não ser tão santa e ingênua como parece.
De qualquer forma, todos mentem. Ninguém será o mocinho e teremos um só vilão. A similaridade com a vida real faz com que a produção seja tão bem-feita e colocada de forma tão delicada para os telespectadores. Com técnicas atuais, onde enaltecem as paisagens bonitas, com o dizer “liar” (mentiroso), falas bem desenvolvidas e atores bem escolhidos, o produto inglês tem tudo para dar certo e ter um final decente, apesar de parecer restrita a escolha da verdade da noite.
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.
Chocada com essa junção de elenco de Downton e Forever. Amei, quero muito assistir! 🙂
Oi, Ju! A série realmente é intrigante e, assim que possível, comece a maratonar, pois já tem 4 eps disponíveis (: