Idealizada por Inez Viana, “Mariposas Amarillas” foi construída com a colaboração ativa do seu elenco de atrizes, a partir das histórias de seis coletividades
É possível assistir uma peça de teatro que já aconteceu? Pode um espetáculo teatral não ser para o palco? Pode uma cena ser sobre fatos, lugares, histórias e pessoas ao mesmo tempo? A encenação de “Mariposas Amarillas” responde essas perguntas a partir dos relatos de algumas coletividades, particularidades e de alguns personagens que trabalham por um Rio de Janeiro mais justo e inclusivo. Confira a seguir a crítica do espetáculo:
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Idealizada, escrita e dirigida por Inez Viana, “Mariposas Amarillas” é tão brilhante que fica difícil até mesmo começar essa crítica. Um bom norte é a primeira pergunta: “é possível assistir uma peça de teatro que já aconteceu?” E a resposta é sim, pois a dramaturgia se constrói a partir de vivências, experiências e transcendências que tiveram seu lugar no tempo mas que impactam muitas vidas no tempo presente e futuro.
E por falar em vida, a segunda pergunta “pode um espetáculo teatral não ser para o palco?” também ganha sua resposta. E sim, o espetáculo é a vida e o palco é uma ferramenta para a comunicação de histórias de luta, luto, amor, liberdade e busca por justiça social. Muito mais que dramaturgia, a peça é um verdadeiro resgate da história oral de diversas coletividades que habitam essa cidade.
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Mas afinal, “pode uma cena ser sobre fatos, lugares, histórias e pessoas ao mesmo tempo?” Sim! As cenas são sobre fatos, lugares, histórias, pessoas e personagens no mesmo instante, em diálogo com Úrsula Iguaran, icônica personagem de Gabriel García Márquez em “Cem Anos de Solidão”, uma matriarca latino-americana que homenageia mulheres de diferentes gerações, imersas em seus coletivos e particularidades que trabalham cotidianamente para uma sociedade mais livre e igualitária. Essa multiplicidade de elementos em cena requer entrega do espectador e, embora seja fascinante, pode ser difícil para os mais desatentos.
As Mariposas voam e envolvem a plateia
Os coletivos se personificam em seis mulheres que envolvem a plateia com suas atuações potentes, cada qual promovendo um encontro diferente num mesmo espaço. Fazemos um passeio pelas lutas cariocas através da liderança de Simone Mazzer como a Guardiã da Mata do Borel, passando pela feijoada do Quilombo Ferreira Diniz de Damiana Inês, a Cozinha Solidária de Denise Stutz e as Meninas da Gamboa de Aliny Ulbricht, tudo se atravessa e nos enche de vontade de dar um abraço. Nelas e nas mulheres que fazem parte da nossa vida.
As atuações são esplendorosas. Em destaque, a energia de Carolina Virgüez, que transita entre a coletividade da Aldeia Vertical e a encarnação da latinidade em Úrsula. Tal como a personagem é ativa, miúda e severa, com nervos inquebrantáveis. Mas também é divertida e encantadora. Lux Negre representa e acolhe com uma força sutil as pessoas trans, que através da Casa Nem e com o projeto PreparaNem se tornam donas de suas próprias histórias. O encontro tem a participação da violoncelista Maria Clara Valle, embalando as idas, vindas e atravessamentos desses coletivos.
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Ainda que seja uma peça que não é uma peça, é preciso evidenciar o excelente trabalho de iluminação de Lara Cunha. A luz conduz o balé de resistência, luta, amor e liberdade dessas mulheres incríveis que elevam a arte para além das fronteiras do espaço. E mesmo que a peça já tenha acontecido nos palcos da vida, esperamos que as “Mariposas Amarillas” voem bastante por aí. E que levem para a superfície essa gente maravilhosa, que luta por uma sociedade mais justa.
Imagem Destacada: Divulgação/Eu + Ela Produções/RMNZ Estúdio/Suma Produções (Crédito: Rodrigo Menezes)
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