Mas afinal, o que há de errado com a crítica de cinema?

Quando é criada grande expectativa diante da estreia de um filme é normal que busquemos informações que vão além daquela contida em sua sinopse. Já faz parte do nosso costume procurar saber mais através do que é difundido por pessoas que, por diversos motivos, se mostram capazes de criar conteúdos de qualidade sobre a obra, como por exemplo: na forma de crítica de cinema.

A crítica de cinema é o exame de um filme, feito de modo a estabelecer um valor comparado a um objetivo final, como a beleza ou técnica. Ou seja, nela é comparada a produção com aquilo que ela se propôs a ser, criando no final um valor ou nota que seja capaz de classificá-la. A crítica não funciona como uma análise; nela existe uma junção de juízo de valor com informação, ao passo que a análise tem a proposta de interpretar a obra e também esclarecer o seu funcionamento.

Mas por que é tão comum vermos a crítica de cinema ir na contramão da opinião popular?

Acontece que além de uma análise técnica sobre a direção, trilha sonora, atuação, figurino entre outros, na crítica ocorre também a exposição do diálogo que o filme criou entre ele e o crítico, o que é algo extremamente subjetivo. Por esse motivo, individualmente, uma crítica não se propõe a definir se determinado filme é bom ou ruim de forma absoluta, mas expõe seu nível de qualidade técnica e apresenta o ponto de vista de um profissional que se dedica a produção desse tipo de conteúdo.

Sendo assim é interessante ler várias críticas, o que leva tempo, mas pode enriquecer a experiência de assistir o filme, apresentando pontos de vistas diferentes que podem melhorar o entendimento de onde a produção alcançou êxito e onde ela falhou.

Para os apaixonados por filmes, existem algumas ferramentas na internet capazes de organizar críticas e opiniões do público geral para facilitar o seu aprofundamento na exploração do universo cinematográfico, tais ferramentas são chamadas de agregadores de críticas. Esses sites reúnem material e constroem termômetros que são capazes de medir a recepção de filmes pelo público. Um dos agregadores de críticas mais famosos é o Rotten Tomatoes, um site estadunidense especializado em resumos, informações e novidades sobre filmes, séries, curtas-metragens e vídeos musicais. O nome, que seria “Tomates Estragados” em português, deriva do clichê histórico de se atirar tomates em artistas se uma apresentação for decepcionante.

Rotten Tomatoes costuma ser alvo de diversas polêmicas e recentemente ganhou bastante visibilidade ao atribuir ao filme Assassin’s Creed uma porcentagem extremamente baixa em seu termômetro de recepção da crítica especializada, bem como do público em geral.

A porcentagem mais à esquerda representa críticas especializadas e a da direita mede a recepção do público em geral e funciona da seguinte forma:

Tomatometer:

• Tomate: uma produção bem recepcionada pela crítica especializada é denotada por um tomate vermelho. Para alcançar isso, o filme ou série precisa atingir no mínimo 60% no Tomatometer.
• “Splat” (marca verde de tomate estragado esmagado): uma produção denotada com o “splat” recebeu 59% ou menos no Tomatometer.
• Certificado de tomate fresco: Para receber essa classificação a produção precisa ter 75% ou mais no Tomatometer além de receber críticas positivas na mesma proporção de um grupo de 5 críticos de renome escolhido pelo site.

Audience Score:

• Balde de pipoca cheia: Significa que o filme ou série recebeu uma classificacão de pelo menos 3.5 estrelas dos usuários do site.
• Balde de pipoca virado e vazio: significa que a produção recebeu menos de 3.5 estrelas dos usuários do site.

A divisão entre Tomatometer e Audience Score é interessante para evidenciar a diferença entre a crítica de cinema e a popularidade. Esses dois aspectos nem sempre convergem e isso não deveria ser visto com estranhamento já que a popularidade advém de diversos fatores que muitas vezes estão além do filme, enquanto a crítica se atém no filme e naquilo que ele se propõe a fazer. Um bom exemplo disso é o caso do filme Ghostbusters de 2016.

O último Caça-Fantasmas, lançado no ano passado, foi completamente protagonizado por mulheres o que gerou um grande descontentamento do público acostumado com a antiga formação da equipe, mas além disso, uma amostra de que o protagonismo feminino ainda é tabu na nossa sociedade. Por outro lado a crítica especializada atribuiu ao filme o certificado de tomate fresco, demonstrando que ele agradou bastante.

Ainda hoje observamos pessoas do mundo todo defendendo boicotes às críticas de cinema numa estranha tentativa de se poupar de outros pontos de vista, enquanto aproveitá-las pode de diversas formas melhorar a experiência do espectador, fornecendo um olhar técnico que possibilita a apreciação da produção além do entretenimento e não se deixa levar pela sua popularidade.

Por Raoni Vidal