“Posso dizer que, enquanto éramos uma coisa só, eu estive com ela.”
Com a afirmação acima, Matheus Nachtergaele revela que o fato de não conhecer sua mãe é relativo afinal. Quando Nachtergaele tinha apenas três meses, sua mãe, Maria Cecília, cometeu suicídio. A tragédia foi em 1968 e hoje, 49 anos depois, o ator sobe ao palco no monólogo “Processo de Conscerto do Desejo” e fala abertamente sobre o assunto. O espetáculo teve início nos poemas deixados por Maria Cecilia. Entoados como canções, os textos de sua mãe são apresentados neste concerto que quer consertar algo que ficou no passado.
As memórias de família e os versos que foram guardados quase que secretamente são proferidos com emoção em cena, visitando a dor da perda e mostrando o que sua mãe tinha de melhor. Matheus, que não teve a oportunidade de fazer luto, diz que seu choro se espraiou pela vida toda e que precisava resolver como artista.
No palco, ele, que também assina a direção do espetáculo, une a palavra e a música ao vivo. Luã Belik (violão) e Henrique Rohrmann (violino) acompanham o ator. A música não é por acaso: seus pais se conheceram em uma roda de viola. O pai de Nachtergaele integrou a Traditional Jazz Band.
Em “Processo de Conscerto do Desejo”, Matheus se entrega de corpo e alma, a dor da perda e o amor à flor da pele. Característica aliás do trabalho de Nachtergaele, que viveu no teatro e no cinema personagens com desejos e sentimentos extremos. Com muita simplicidade e verdade, ele leva o público a vivenciar o seu processo quase catártico, porém, expurgando a tristeza e o julgamento.
O roteiro é fragmentado: os textos em retalhos narram as amarguras e as lembranças que Nachtergaele costura no palco e aos poucos vai clareando sua história familiar que por muitos anos estava guardada a sete chaves. Sua mãe cometeu suicídio no dia em que ele, ainda um bebê, seria batizado. Tudo isso deixou cicatrizes no seu filho. São muitos sentimentos misturados e o artista nos mostra esse menino, que hoje crescido tenta fazer as pazes com o acontecido. A direção de Naschtergaele explora os blecautes como se a memória viesse à tona em flashes montando o quebra-cabeças de sua vida. Ali, diante de nós, todo o turbilhão de sentimentos vai sendo apresentado pouco a pouco num monólogo sentimental e sensível.
O espetáculo estreou em 2016 e, depois de rodar por algumas cidades, está de volta a São Paulo. Se você ainda não viu, não perca a oportunidade!
A peça fica em cartaz até dia 30 de abril no Teatro Raul Cortez.
Por Thiago Pach
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