Fim de ano, livro novo, mas antes vamos recordar algumas de nossas melhores leituras do ano. Essas são nossas recomendações de 2022, mas você está super convidado para deixar as suas nos comentários!
10. Cantares gallegos, de Rosalía de Castro
Muito embora não leia poesia com tanta frequência, descobrir Rosalía de Castro foi uma das melhores surpresas deste ano. Publicado originalmente em 1863 em galego, o idioma não deve ser uma barreira para o brasileiro que resolver se aventurar por suas páginas — porém, há traduções ao português, espanhol e inglês. O livro se encontra em domínio público.
O Livro dos Cantares, como também é chamado, figura como um dos livros mais importantes para a literatura galega por ser escrito em um período em que a língua não tinha tradição literária há séculos, sendo Rosalía importante nome para esse “Rexurdimento“, como também em manter a língua galega viva.
Para aqueles que se sentiram interessados nas narrativas galegas de Nélida Piñon, esta é uma ótima oportunidade de descobrir (e se apaixonar) pela cultura irmã da língua portuguesa.
9. Desonra, de J. M. Coetzee
Ou Disgrace, no original, é responsável por conferir a John M. Coetzee o nobel de literatura de 2003. O romance acompanha o cair em desgraça do protagonista na turbulenta África do Sul do pós-Apartheid. Mais que uma fotografia de sua época, Coetzee escreveu uma obra que permanece atual por ter criado personagens tão complexos e imperfeitos.
Sinopse: O professor universitário David Lurie enfrenta um período de múltiplas crises em sua vida: após dois divórcios, o ministrante frustrado de comunicação decide se aventurar seduzindo uma de suas alunas, porém, assim o caso é descoberto e vai parar no comitê de ética. Lurie é demitido e essa é apenas a ponta do iceberg.
8. Norwegian Wood, de Haruki Murakami
Considerado um dos grandes escritores japoneses modernos, o Haruki Murakami de “Kafka à beira-mar” e “1Q84” aqui explora com naturalidade algumas experiências que descrevem tão bem o desacerto da transição à vida adulta de sua época.
Sinopse: Quando Tooru Watanabe chega em Hamburgo, a melodia de uma música dos Beatles, “Norwegian Wood”, o transporta de volta para as memórias de sua juventude no Japão dos anos 60: meio a onda de protestos estudantis, e a efervescência do contexto pós ocupação americana, não há esquina de suas recordações que não o assombre.
7. Notre-Dame de Paris, de Victor Hugo
Popularmente imortalizado na adaptação, mais “infantil” — se é que podemos tratar assim deste filme — no longa animado da Disney de 1996, “Notre-Dame de Paris” ou “O Corcunda de Notre-Dame” imortalizou a catedral como grande protagonista desse romance que dá voz às camadas mais altas e baixas da sociedade.
Sinopse: Na Paris de 1482, a cidade desabrocha ao pé da Catedral. À sua luz, a jovem rom Esmeralda, de dezesseis, é a heroína trágica vítima de sua própria beleza; sua graça atraiu as atenções do arquidiácono Claude Frollo, que entre suas obrigações clericais e seu desejo doentio, manda seu protegido Quasímodo, um jovem corcunda abandonado ainda bebê, raptá-la, mas o plano não termina bem e o (também) mal intencionado Capitão Phoebus interrompe os planos.
6. Mayrig, de Henry Verneuil
“Minha mãe está morrendo” — é assim que Henry Verneuil abre seu romance semi-biográfico. Do armênio “mãezinha”, o autor viaja ao passado onde irá narrando, ainda com ainda um tom de inocência pueril, as lembranças da mudança da família para o “novo país” (a França), fugidos das atrocidades do genocídio armênio — tudo enquanto, em plano de fundo, sua doce mãe está no outono de sua vida.
5. Um genocídio em julgamento: o processo Talaat Paxá na República de Weimar
Gosta de livros policiais? Sejamos sinceros: a realidade é capaz de produzir coisas que se fossem ficção nós mesmos iríamos duvidar. Nesse sentido, esta leitura é a transcrição do julgamento de Soghomon Tehlirian, que assassinou Talaat Paxá, um dos mentores do genocídio armênio.
Dada a devida separação em crítica histórica que deve ser feita aos testemunhos, não há como parar de ler após a primeira linha. O julgamento é veiculado em diversas produções da cultura pop sobre a questão, como a adaptação do já citado Mayrig de Verneuil (que também era cineasta).
4. Madness in the family, de William Saroyan
Nunca publicado em português, “A loucura na família” é uma reunião de contos do armênio-americano William Saroyan, primeira geração da família nascida nos EUA. Com seu humor ácido, às vezes melancólico, Saroyan prova ser um dos maiores escritores de sua geração, porém, levantando-se a questão: como é que não há mais gente falando desse livro?
Covardes são as pessoas mais agradáveis, as mais interessantes, as mais gentis, as mais refinadas, as menos prováveis de cometer crimes.
Abertura do conto “Cowards”, tradução de Victoria Vivian.
Eles não pensariam em roubar um banco. Eles não desejam assassinar um Presidente. Se um cabouqueiro o chama de bastardo por acidentalmente chutar terra em seus olhos, o covarde não sente que sua honra foi manchada e que precisa, portanto, lutar contra o cabouqueiro e levar uma surra. Ele diz, “Me desculpe, eu realmente não tinha a intenção de fazer isso”, e segue sua vida.
3. Demian e 2. Sidarta, de Hermann Hesse
Certo. Isso é quase roubar. “Demian” e “Sidarta” são respectivamente os primeiros livros da chamada “Trilogia Hesse“, que apesar de assim chamada pode ser lida fora de ordem, pois são histórias diferentes e fechadas. A terceira obra, tida como a grande obra prima de Hesse, “O lobo da estepe“, deixo em suspense para uma leitura futura. Faça um favor a ti e vá ler agora se ainda não teve a oportunidade.
Sinopse (Demian): O mundo do pio e superprotegido Emil Sinclair desaba com o percorrer do jovem por ambos mundo ideal ao sombrio, sob influência do colega Max Demian — um jovem de beleza à Dorian Gray, provocativo e iconoclasta, pelo qual Sinclair desenvolve uma poderosa obsessão.
Sinopse (Sidarta): Em busca pela iluminação, o jovem brâmane Sidarta deixa sua casa acompanhado por seu amigo fiel Govinda, indo viver uma vida de profunda abdicação com os samana, sem porém, se ver tendo encontrado a resposta. Esse é o início da viagem de Sidarta até o último de seus dias, da riqueza à pobreza à riqueza à pobreza.
1. A paixão segundo GH, de Clarice Lispector
Esse quem vos fala nunca foi um partidário de Clarice. Se encontrar por acaso nas palavras dessa autora é como confrontar com um portão dourado na sua frente, infinitamente maior que si e que cega. Essa não só é “a” leitura de 2022, como se tornou uma favorita pessoal.
Sinopse: A narradora, G.H. embarca numa viagem transcendental quando, ao entrar no quarto da empregada, vê seu eu ser destruído até nada mais sobrar; encontrara (e esmagara) uma barata no guarda-roupa do cômodo. Diante da impossibilidade de narrar o acontecimento, tenta pôr em palavras ao que o ocorrido escapa-lhe como areia entre as mãos; ela vira a verdade.
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