Mangaká japonês é um dos principais expoentes do horror contemporâneo e consenso na crítica
Não dá para falar de horror e Japão sem mencionar ele. Junji Ito conversa bem com público geral e crítica ao explorar, na mente humana, o medo pelo desconhecido, com loucura e obsessão sendo temas recorrentes em suas obras. Separamos oito daqueles que consideramos os melhores mangás do grande mestre do horror!
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Vale um adendo: além de parcial, esta lista não é exaustiva e tampouco configura um “top”, isto é, os títulos não estão listados em alguma ordem.
Unbearable Maze (Taegatai Meiro)
Essa história curta é uma joia relativamente sub-apreciada. Publicada originalmente 1990, “Taegatai Meiro” ou “Labirinto Insuportável” é um dos melhores trabalhos de Ito por não construir o horror apoiado simplesmente no valor de choque gráfico, algo que Junji é excelente, mas por explorar ao limite em formato de conto a claustrofobia e o fanatismo.
Perdidas em uma escalada nas montanhas, duas amigas, Noriko e Sayoko, encontram um misterioso templo budista, com práticas ritualísticas nada ortodoxas. Quanto mais ficam e descobrem sobre o lugar, mais cresce a paranoia da dupla sobre sua permanência, crendo serem observadas e tratadas por estranheza pelos monges residentes.
As jovens conhecem outra menina, chamada Kuramoto, que decidiu ir até o templo para investigar o sumiço de seu irmão. Embora desejando fugir, Noriko segue as duas amigas na investigação daquele lugar misterioso: é noite do grande ritual, e os praticantes, que vinham passando por grandes privações — como jejuns extremos — dão o último passo para se tornarem múmias vivas, adentrando no labirinto do templo; as garotas os seguem, apenas para se perderem…
Uzumaki
Absolutamente não seria possível fazer uma lista de melhores de Junji Ito sem citar “Uzumaki” (“Espiral”), clichê que seja, é uma excelente porta de entrada para o multiverso da loucura, das obsessões — como é que uma coisa tão simples, uma espiral, símbolo de perfeição e adoração, também pode causar tanto horror? E como é que, até as últimas consequências, nos fascinamos pelo horror pelo inexplicável? Fãs de Lovecraft, favor não tumultuar!
Em “Uzumaki”, a pitoresca Kurouzu-chou é vítima de uma maldição misteriosa: toda a cidade é permeada pelo horror cósmico das espirais. Involuntariamente, animais, as casas, e pessoas aos poucos vertem suas formas à espirais, enlouquecendo sem escape. O casal de protagonistas tenta escapar, apenas para descobrir que estão presos em um ciclo sem início nem fim, condenando-os à eternidade de dor e sofrimento.
Hellstar Remina (Jigokusei Remina)
Nosso favorito pessoal, “Jigokusei Remina” (Algo como “Remina, a Estrela Infernal”) é outro título que explora a loucura pelo prisma do fanatismo e da pequenez humana frente ao universo — com uma elaboração semelhante (e melhor) ao final de “Não Olhe para Cima”, aliás. Esse não é de longe o auge de Ito no horror visual, tampouco psicológico, mas ele tem o povo!
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Um cientista descobre um planeta errante vindo em direção ao Sistema Solar e dá a ele o nome de sua filha, Remina, que vira uma celebridade da noite para o dia, frente a tamanha descoberta — conseguindo o seu próprio fã-clube e os bons holofotes da imprensa. Aos poucos, porém, vai ficando claro que o planeta está vindo diretamente para a Terra, sendo na verdade um organismo vivo devorador de corpos celestes. A jovem Remina deve então fugir da multidão que se voltou contra si e lutar pela sua sobrevivência frente a um culto que crê que seu sacrifício será capaz de salvar a humanidade.
O Mistério da Falha de Amigara (Amigara Dansou no Kai)
Especial curto publicado ao final de outro título de grande aclamação, “Gyo”, em “O Mistério da Falha de Amigara” temos uma das peças da cultura pop mais bem sucedidas em se replicar em diferentes mídias, o que se deve ao já comentado fascínio pelo desconhecido aqui em sua melhor forma. Quando Poe comenta sobre o poder do conto em impressionar em uma sentada, é a isso que o mestre do horror se refere.
Na história, a imprensa do mundo está em polvorosa com o surgimento de uma falha na ficcional montanha de Amigara, tendo surgido após um terremoto. Diante dos curiosos, há incontáveis buracos em formato humano, ao que as pessoas se sentem atraídas a elas: cada buraco possui um correspondente exato para cada indivíduo, o formato perfeito para que um humano entre. Pouco a pouco pessoas encontram seu buraco e se sentem estranhamente comepelidos a entrar neles; um caminho sem volta, que os espreme fundo na montanha.
Tomie
Um dos quatro grandes trabalhos de Ito, e talvez um dos mais famosos ao lado de “Uzumaki”, “Tomie” é uma antologia ainda em publicação, com cada história tendo em comum a presença da figura homônima e que dá nome à obra. Algo que tem fascinado leitores ao longo dos anos e por todo o mundo são as várias leituras que a obra permite: seria Tomie mesmo uma vilã ou uma heroína trágica?
Na sua história de origem, Tomie Kawakami é encontrada morta esquartejada em uma montanha após uma excursão escolar. Com seu corpo cremado, misteriosamente a jovem retorna à vida escolar como se nada tivesse acontecido, para horror de seus colegas — em um flashback, vemos como, após descobrir uma traição de seu namorado, Tomie cai de um desfiladeiro, ainda com vida. Sua única amiga, Reiko, quer levá-la ao hospital, mas todos seus colegas se opõe, esquartejando-a. Tomie está de volta, e ela quer vingança: sua mera presença é capaz de arrastar as pessoas à loucura e à ruína.
Frankenstein
Releitura do clássico de Mary Shelley, “Frankenstein”, tido como obra inaugural da ficção científica, é não apenas uma excelente introdução ao original, como uma prova que o um título clássico vence o tempo, dispensando apresentações em um trabalho que ganha uma nova identidade artística pelo mestre do horror japonês.
No Longer Human (Ningen Shikkaku)
Também adaptação de um must-read literário, “Declínio de um Homem” (ou “Human Lost”) de Osamu Dazai, é o trabalho mais recente dessa lista, não se limitando a uma reprodução de 1:1 do material, embora mantenha a estrutura de três atos, dá o tom de Ito para uma obra que retrata a perda de identidade que parte tanto do sujeito quanto do coletivo, em um Japão desiludido e não conciliado com seu passado.
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Em “Ningen Shikkaku” acompanhamos a vida do protagonista Ouba Youzou, recontando sua vida em início, declínio, e fim — com seus vinte e poucos anos. Perdido, sem perspectivas, e em auto-ojeriza, acompanhamos como põe um fim à sua existência e um encontro com o próprio Dazai, em um sanatório.
Diário dos Gatos Yon & Mu
Nessa coletânea de histórias sobre gatos, acompanhamos Yon e Mu, pets do autor Junji Ito, em forma de um mangá autobiográfico de comédia a inserir o leitor em um ambiente de profunda estranheza pela justaposição do fugaz cotidiano e do estilo de arte que pouco parece ter a ver com o narrado. No Brasil, o mangá é trazido pela JBC.
Imagem Destacada: Divulgação/Editora Devir Livraria (Amazon)
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