**Daquelas crônicas que a gente acha no fundo da gaveta
“Ao longo das nossas vidas, conhecemos todo o tipo de gente: aqueles que vêm para ficar, aqueles que passam rapidamente e aqueles que marcam você de uma maneira única e especial. Podem ser os seus melhores amigos, um irmão carinhoso ou, como já previsto, o famoso amor da sua vida.
Meu primeiro encontro com o amor da minha vida foi no cinema, e o engraçado é que eu nem sabia que aquilo era um encontro. Naquela época, tudo que ele me trazia eram sentimentos confusos, e para ele eu provavelmente não passava de uma ficada fácil.
Fui com a falsa ilusão de que éramos apenas amigos, mas fui. Primeiro demos uma parada na praça de alimentação, onde ele decidiu que a melhor opção de lanche seria um burrito todo estranho de uma composição espetacular: carne fatiada, salada de alface e tomate, batata frita e MUITO molho – Tudo enrolado naquela massa fina prontinha para se despedaçar. Dito e feito.
Enquanto ele comia igual a um príncipe, eu estava lá me babando toda fazendo aquele papel de ridícula enquanto ele me falava sobre a sua vida. Mas estava tudo bem, porque não era um encontro. Eu podia até arrotar que tava tranquilo (E depois descobri que podia mesmo)!
Seguimos lado a lado com os nossos ingressos que ELE pagou – mas tudo bem, porque não era um encontro – para assistir ao filme Jogos Vorazes 2, uma opção digna de apenas amigos que se comprometem com ver o filme e nada além.
Sentei em minha cadeira e ele se sentou ao meu lado. Como o filme ainda não havia começado, ficamos conversando por uns minutos. Ele era meio metido a sabichão, mas eu achei aquilo engraçado. Em apenas dez minutos ele foi capaz de me contar sobre todas as mil certezas que ele tinha sobre a vida, e por mais que ele fosse alguns anos mais velho, eu não parava de achar aquilo ridículo. Certeza de que, sabe? Ele sorria me dando conselhos que eu nem havia pedido e eu sorria de volta querendo socar ele. E então as luzes se apagaram.
Ah… E o desespero que me bateu? Eu não entendi o que estava acontecendo, mas aquele escurinho reconfortante me fazia querer agarrar ele, sei lá. Vocês provavelmente já passaram por isso né, uma mistura de ‘oi, me beija’ com ‘sai daqui, eu nem sei o que fazer’. Mas o filme começou e eu segurei essa minha vontade.
Ele passou as duas horas seguintes enchendo o meu saco falando sobre cada errinho do roteiro do filme, problematizando tudo. Eu só queria ver a Jennifer Lawrence arrasando com a cara de todo mundo de novo e ele não me deixava em paz. Mas aquilo não me incomodava mais, estava tão escuro. O clima era tão bom.
Eu me aproximei dele já me sentindo meio trouxa, e ele de fato não fez nada. Eu comecei a olhar pra ele quando ele ficava quieto e assistia ao filme (quem nunca rs), e acho que às vezes ele olhava pra mim de volta. Comecei a me deixar levar pelo clima e achar graça naquilo tudo. Por mais esquisito que ele fosse, ele me fazia sorrir e querer chama-lo de idiota. E não há coisa melhor nesta vida do que amar um idiota.
O filme acabou e continuou escuro. Ficamos os dois sentados em silêncio – que logo logo percebi ser bem menos agradável que a diarreia verbal dele. Eu torci tanto para continuar escuro, para aquela sensação meio pré-adolescente não ir embora nunca. Como já era de se esperar, as luzes se acenderam eventualmente, e tivemos de nos levantar. Mas uma coisa incrível aconteceu.
O escurinho não saiu de mim. Eu deixei a sala de cinema com aquela sensação ainda dentro de mim, irradiando no meu peito e me fazendo ficar extremamente nervosa pelos minutos seguintes. ‘O que ele vai fazer quando me deixar em casa?’, ‘Será que ele planeja me beijar?’.
Já vou dando spoiler sobre esse primeiro encontro contando pra vocês que ele não me beijou. Não, ele passou o caminho inteiro reclamando mais um pouco sobre o filme me fazendo dar gargalhadas meio constrangedoras (devo ter roncado e tudo) para logo em seguida me deixar em casa e se despedir de mim com um ‘tchauzinho’ bem infantil, daqueles abanando a mão que nem um retardado. Eu fiquei meio frustrada por essa situação, o que me levou a perceber que o escurinho ainda não tinha me deixado. Por que, meu senhor?
Fui para casa, apoiei minha bolsa sobre a mesa e me sentei no sofá em silêncio. Era uma preocupação muito grande que assolava a minha mente, pois naquele momento eu sabia que aquele escurinho não queria me deixar. Tentei lutar contra ele pelas semanas, meses e anos seguintes, mas ele tomou meu coração inteiro.
Posso afirmar que aquele escurinho me acompanha até hoje e me faz lembrar sobre esse primeiro encontro. Sobre o frio na barriga, sobre as risadas, sobre a incerteza, sobre a sensação mais contraditória e maravilhosa que aquela noite no cinema pôde me trazer e me traz até hoje. A sensação de ter me apaixonar pelo amor da minha vida no meu primeiro encontro.
Afinal, quem nunca?”
Por Júlia Bockmann
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Gostei de entrar na sua narrativa e me imaginei como uma das pessoas no cinema com vocês (meio vela, mas me perdoe haha). No entanto, ao continuar a ler acabei tendo devaneios sobre a minha própria vida e do meu escurinho no coração pelo amor da minha vida. Achei o nome perfeito pro sentimento e me trouxe lembranças que já não eram tão recorrentes. Obrigada 🙂
Parabéns Júlia.sucesso!!!!