A peça “Mar de Mayã” narra com muita sensibilidade uma história de amor conturbada no contexto da cidade de Atafona. A cidade em questão vem sofrendo um processo de retrogradação costeira, em outras palavras: o mar avança sobre o continente inundando tudo… casas, praças, coreto… tudo! Para quem já visitou a cidade, o espetáculo se torna ainda mais denso e significativo. A cada nova visita o local tem características diferentes. A cada ano quarteirões inteiros são engolidos pelas águas.
Através da relação entre Januário e Mayã é contado o drama da vida na vila de pescadores onde a cada dia a areia e o mar estão mais perto do (em muitos casos) único pedaço de chão das famílias residentes.
A história de Janu e Mayã começa como todo casal apaixonado, reforçada pelo medo que a bela Mayã tem de perder o seu amor para o revolto mar. No entanto, com o passar dos anos e a chegada de um filho o relacionamento se complica. Januário passa a ser um homem mais agressivo e perdido em vícios, enquanto Mayã torna-se infeliz e insatisfeita com a sua condição: uma mulher que deseja um futuro melhor para seu filho e se vê amarrada a um lugar condenado, por causa de um marido que não pensa em deixar a sua terra. As brigas se complicam e se tornam mais sérias até que o único filho do casal é levado pelo imenso mar. Neste momento Mayã vai em busca de seu filho. E também se entrega ao mar. Certo tempo depois volta para buscar seu marido para eternizar o seu amor.
Contudo, a história não é narrada de forma linear, e intercala momentos da história do casal com as visões de Januário de sua falecida esposa. Essa estrutura revela aos poucos a personalidade dos personagens nos diferentes momentos. E nessa transição se destaca o belo trabalho dos atores Paulo Marcos de Carvalho e Taís Alves (maravilhosa!!!!) que passeiam por momentos emocionalmente tão distintos em tão pouco tempo: ele do marido pescador e chefe de família para o melindre desejoso de quem revê o espírito da mulher amada; ela da mulher infeliz, franzina e amedrontada para o lugar de uma espécie de entidade poderosa e envolvente. E, assim, o trabalho se apresenta de forma intensa, sensível e bela.
O espetáculo não possui cenário, somente um tecido demarcando um espaço do palco e os atores. O destaque cênico é do figurino da atriz que é utilizado de forma interessante e inteligente, representando diversos utensílios ao longo do número.
A música é uma beleza a parte: ao vivo e toda criada para o espetáculo, cria uma sensação ainda maior de imersão.
Mar de Mayã fica em cartaz todos os domingos de outubro no Parque das Ruínas, sempre às 16h. Aí além de assistir uma peça incrível, você pode aproveitar aquela paisagem maravilhosa. Programão, né? Então aproveita e se organiza para não perder!
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