Produção da Globoplay mostra a construção do sucesso e a trajetória pessoal da apresentadora
Antes de mais nada é preciso dizer: quem não foi uma Baixinha ou baixinha? Muitas pessoas no Brasil (inclusive, eu) se denominaram assim, na época em que a Xuxa era o grande fenômeno do país. Dito isso, não é difícil assistir “Xuxa, o documentário” e trazer à tona um pouco de admiração pela Rainha dos Baixinhos. Entretanto, o lado fã não impede de sermos críticos e realistas.
Xuxa completou 60 anos em março de 23 e em julho, a Globoplay liberou para assinantes os 5 episódios do documentário dirigido por Pedro Bial que pretende resumir a sua história televisiva e pessoal.
Importância da TV aberta na carreira da Xuxa
Quem tem mais de 35 anos vai reviver e relembrar a própria infância. Já os mais novos, vão se deparar com uma realidade totalmente diferente: a TV aberta tinha um poder enorme na mão, principalmente no telejornalismo ou entretenimento.
A mídia impressa, jornais e revistas também. Hoje, na era digital, sabemos o quanto a difusão da produção e divulgação de conteúdo mudou tudo. Se antes havia monopólio da TV aberta, hoje já não há mais.
É importante destacar isso, pois o sucesso da Xuxa foi construído em outra época. Inclusive em vários momentos isso é destacado pelos entrevistados.
A força da trajetória é impressionante, o equivalente na internet talvez seja o Luccas Neto e, mesmo assim, ele mantém a reverência, afinal se autodeclara o príncipe dos Baixinhos, a Rainha é uma só.
Pensando nisso, na importância da história da Xuxa para o entretenimento brasileiro, trouxemos 5 motivos para você assistir ao documentário. Independente de gostar ou não da artista, todos os motivos vão além da figura da apresentadora, e nos ajudam a pensar na nossa trajetória individual e na construção de um sucesso midiático:
01 | Posicionamento com verdade
Gostem ou não, ela sempre buscou dizer o que sentia e como sentia. E isso se tornou o seu grande diferencial como figura pública, o que aparece em destaque em vários momentos do documentário. Ser autêntico é um grande diferencial desde a época do “Xou da Xuxa” e principalmente agora com tantos filtros, IA, e padrões de beleza e comportamento difundidos principalmente na mídia. Ela sempre foi uma pessoa de verdade.
O abraço que ela não deu no pai durante um programa foi dado anos depois e, quem acompanhou, vai lembrar dela dizer que naquele momento lhe daria o abraço negado. Passaram-se anos entre os 2 momentos. Foi no programa do “Faustão” que a gravidez foi revelada e, na época, ela falava da vontade de ser mãe. Uma curiosidade é que alguns momentos da sua carreira são inspirados na vida dela.
02 | Construção de marca
A construção da marca Xuxa ter sido feita a partir da presença feminina: ela como a estrela, Marlene e as paquitas é algo que merece destaque. Tanto Marlene como Tatiana Maranhão, atual assessora da protagonista, destacaram isso. Segundo Marlene ter um programa majoritariamente feminino, trouxe várias implicações e necessidades de posicionamento, principalmente por parte dela, para que Xuxa fosse respeitada. E, claro, a custa de muito trabalho e rotina insana – eram gravações simultâneas no Brasil, Argentina, Chile e aos poucos Europa e EUA. Shows todo fim de semana.
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03 | Relacionamentos abusivos
Os 2 últimos episódios são enfáticos ao tratar desde abusos sexuais na infância até relações de trabalho abusiva na época de modelo e com Marlene Mattos. O encontro com Marlene, sem dúvida, foi o ponto alto dos 5 episódios.
De um lado, Xuxa, querendo esclarecer, entender falas e comportamentos. De outro, Marlene, defendendo que pode ter agido mal em algumas situações, mas que foi necessário e não se arrepende.
Aqui vem uma questão: será que esse encontro quase 20 anos depois realmente valeu a pena? O último episódio mostra como a trajetória de modelo dela e Luiza Brunet foram permeadas por assédios morais e sexuais que na época eram tidos como condutas normais, banalizadas. O que hoje já é considerado crime. E isso se estende ao abuso sexual infantil.
04 | Auto aceitação
Trabalhar com a imagem full time é desafiador por si e ganhou peso extra com o direcionamento de Marlene cobrando a forma de falar, sentar, o tipo de cabelo e todo o resto. Quando encontra Marlene, destaca que a diretora sempre a criticava quando via fotos, mas para os outros em sua ausência a elogiava como uma forma de impulsioná-la a cuidar da imagem.
O documentário mostra a passagem do tempo ao longo dos episódios com isso sua aparência mudou, bem como o formato dos programas e público também, os Baixinhos cresceram. Aliás Boni dá uma aula ao falar sobre como ela soube envelhecer diante de todos e adequar a atuação ao crescimento do público e, ao mesmo tempo, renová-lo.
Aos 60 anos, considera-se bem resolvida e livre com a imagem pública e o corpo que tem. Liberdade dada principalmente pela maturidade e liberdade financeira.
05 | Preço da Fama
Ser a Xuxa não é fácil, pois a Maria da Graça também existe e, muitas vezes, ela precisou passar por cima dos próprios desejos e necessidades em prol da carreira e se sentiu explorada por terceiros.
Um produtor de TV dos EUA lembrou de quando ela faltou ao talkshow matinal em que iria divulgar seu programa naquele canal. Porém, na véspera as fortes dores cervicais fizeram Xuxa exagerar na dose do remédio, por isso faltou à gravação e voltou ao Brasil para cuidar da saúde.
Assim como, abdicou de escolhas pessoais para priorizar a carreira. Um exemplo dado no documentário é o relacionamento com o piloto Ayrton Senna, falecido em 01 de maio de 1993 na prova de Interlagos.
Ao final dos 5 episódios fica o balanço de que mesmo diante de todas as perdas houve um esforço de ressignificar e seguir em frente.
“Xuxa, o documentário” é um olhar sobre as dificuldades inerentes à vida de todos nós e a oportunidade que temos de escolher entre seguir adiante ou ficar preso a elas.
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