A estranheza familiar.
No dia 25 de fevereiro os cinemas nacionais começarão a exibir o austríaco longa “Boa Noite Mamãe (Ich Seh, Ich Seh)” lançado em 2014. O filme foi o escolhido pela Áustria para concorrer ao Oscar, mas ficou fora da disputa, mesmo sendo elogiado em vários festivais pelo mundo.
A história se desenvolve em uma afastada casa no interior, próximo a um milharal, onde os gêmeos Lukas e Elias vivem com a mãe que no momento está fora. Quando ela retorna a casa, após uma série de cirurgias plásticas, acontecimentos estranhos começam a ocorrer e os garotos passam a acreditar que aquela mulher não é sua verdadeira mãe e sim, uma “sombria” desconhecida.
Apresentando logo no inicio cenas de “A Famila Trapp”, a versão alemã de “A Noviça Rebelde (1965)”, como representação de uma alegre reunião familiar, já conseguimos perceber e imaginar que o roteiro de Veronika Franz e Severin Fiala, que também assinam a direção juntos, não será nada alegre. No lugar de grandes diálogos ou surpresas assustadoras, eles se propuseram a retratar uma degradante história sobre inocência e brutalidade. Em sua direção o destaque fica com a escolha de grande planos abertos da belíssima locação, para dar um tom cordial e sombrio a história.
O filme é um bom exemplar do gênero suspense psicológico, não terror como anda sendo citado, mesmo sendo longo demais. Até os acostumados ao formato “silencioso” do cinema europeu, podem considerar o “Boa Noite” uma atrativa ideia de tirar um cochilo. Não pela falta de qualidade artística, mas pela falta de acontecimentos realmente relevantes e possivelmente assustadores. É como se existisse um salto entre segurar firme e prender a respiração em algumas cenas e relaxar e ler um livro em outras.
Mas se o objetivo é assustar o elenco está de parabéns. A mãe, Die Mutter, interpretada pela atriz Susanne Wuest consegue convencer não só que é a mãe dos meninos, como também pode ser uma maligna presença na casa. Porém, o que realmente chama a atenção são os inexperientes gêmeos Elias e Lukas Schwarz, que conseguem nos deixar apaixonados e horrorizados com suas atitudes. Existe uma complexidade enorme envolta desses personagens, mesmo que a resolução final seja ok, vivenciar o olhar deles sobre a narrativa é tão angustiante quanto sob a perspectiva da mãe.
“Boa Noite Mamãe” pode ter uma boa estreia nacional, mas não irá agradar a todos. Uma boa produção com uma história bem pontuada é um ótimo gatilho, mas não segura o rojão para um publico habituado aos filmes de terror clichê americano.
Paulo Olivera é mineiro, Gypsy Lifestyle e nômade intelectual. Apaixonado pelas artes, Bombril na vida profissional e viciado em prazeres carnais e intelectuais inadequados para menores e/ou sem ensino médio completo.
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