O que acontece depois que a gente morre?
Sinfonia da Necrópole é um musical de Juliana Rojas (direção e roteiro) que se passa em um cemitério de São Paulo. Sim, um cemitério, mas ao invés de encontrar um clima extremamente mórbido e canções com um clima totalmente fúnebre, podemos escutar o movimento das pás dos coveiros se transformando em batidas compassadas, logo virando um batuque que introduz um samba gostoso de se ouvir. O filme mostra a rotina de um cemitério do ponto de vista de quem lida com a morte todos os dias e não tem tempo de se abalar com isso. Não quer dizer que ninguém se abale, alguns encaram o fato melhor do que outros.
A história gira em torno de Deodato (Eduardo Gomes), um jovem que saiu do interior e foi para a capital morar com seu tio e trabalhar com ele como aprendiz de coveiro, porém, ele não é exatamente o homem mais corajoso do mundo e não se dá muito bem com a profissão. Sua rotina muda com a chegada de Jaqueline (Luciana Paes), uma funcionária do serviço funerário que chega para fazer um levantamento dos túmulos abandonados e Deodato passa a ser seu assistente. Vemos aí um possível romance que o mantém no serviço, no entanto, estranhos acontecimentos continuam a atrapalhar seu desempenho.
O filme tem um clima tão interessante que leva o público a uma reação estranha: rir e sorrir assistindo a uma história que fala sobre a morte. É cheio de personagens cômicos e tem pouco espaço para a tristeza e o choro. As cenas de tom mais dramático ficam por conta de Deodato, que é o personagem mais sensível.
Apesar de ser um musical, vemos mais diálogo que canções, que são muito boas, e nunca sabemos em que momento vão começar a cantar. Às vezes surge uma melodia ou uma batida em uma cena que parece introduzir uma canção, mas é alarme falso. Porém elas chegam, e nos momento certos. O protagonista e seu interesse amoroso formam um dueto incrível. Eduardo Gomes canta lindamente e Luciana Paes, que interpretou a desafinada Selma na novela “Além do Horizonte”, surpreende com uma bela voz. O engraçado é que há uma cena em um karaokê em que eles cantam de forma desafinada e totalmente despreocupados. Nenhuma das músicas é cheia de floreios como a maioria dos musicais. Julian Rojas e Marco Dutra parecem ter optado por arranjos simples e vozes afinadas, na medida certa, o que funcionou muito bem. Outro destaque, é a canção dos mortos, que deveria ter aparecido mais vezes, pois tanto a música quanto a maquiagem e o figurino, além da transformação do cenário, ficaram sensacionais.
O filme não é muito longo (1h34min), acaba dando uma sensação de que deveria ter mais, mas é gostoso de assistir. O final (spoiler)… tem um corte bruto, sem aviso, como a morte.
Gleicy Favacho é uma maquiadora com alma de artista. Quando pequena sonhava em descobrir um mundo fantástico através do armário muito antes de se ouvir falar em Nárnia. Essa imaginação a levou a seguir uma profissão onde ela pudesse participar da construção de vários mundos e histórias diferentes, sendo apaixonada por cinema, teatro e outras artes. Claro que, sendo adulta, já mantém um pouco mais os pés no chão, mas sempre olha dentro de um armário ou outro, afinal, vai que… né?