O segundo filme traz muito do que já vimos em “O Auto da Compadecida”, mas ainda tem muito a nos ensinar
É muito difícil continuar qualquer obra de sucesso principalmente no cinema nacional. Poucas são as continuações, que geralmente ficam restritas às comédias, como por exemplo o grande sucesso do saudoso Paulo Gustavo de “Minha Mãe é Uma Peça”, as do astro Leandro Hassum com “Até Que a Sorte Nos Separe” e “O Candidato Honesto”, e a estrela Ingrid Guimarães com “De Pernas Pro Ar”, para ficar nos exemplos mais conhecidos. Fora a comédia temos policiais de ação como o fenômeno “Tropa De Elite” e Alemão 1 e 2.
LEIA MAIS
CCXP24 | Público Bateu Papo com Elenco de “O Auto da Compadecida 2”
CCXP 24 | O Auto da Compadecida 2 – Lá e De Volta Outra Vez
O Auto da Compadecida | Uma Montagem Simples e Interessante
O Auto da Compadecida 2 Emociona e Diverte o Público em sua Primeira Exibição na CCXP24
CCXP23 | O emocionante e animado painel de “O Auto da Compadecida 2”
E, por isso, é com muita expectativa que a continuação de “O Auto Da Compadecida” é esperada por milhões, pois assim como os filmes citados anteriormente, tem todo o DNA do povo brasileiro, cada um com suas histórias e seus caminhos. No primeiro filme que curiosamente nasceu como série e depois foi remontado para tela grande, onde se tornou um clássico, a obra imortal de Ariano Suassuna foi adaptada de forma brilhante por Guel Arraes, nos tornando cúmplices de um cinema verdadeiramente brasileiro, com personagens que fazem parte inequívoca da nossa cultura e costumes, mesmo os que vivem nos grandes centros longe do sertão nordestino.
Pois o novo filme começa exatamente como no trailer, com o Chicó de Selton Mello trambiqueiro como é, ganhando a vida contando a vida, morte e ressurreição de seu amigo há muito sumido, João Grilo, interpretado com o mesmo frescor e entrega pelo surpreendente Matheus Nachtergaele. O filme explica em rápidos momentos o motivo pelo que se deu a separação do trio principal, incluindo a Rosinha de Virgínia Cavendish. Mas parte de atos fortuitos para juntá-los de novo com os novos personagens é o que traz um pouco de frescor ao filme que, basicamente, apresenta tudo o que já vimos no primeiro…
Selton um pouco mais contido com seu Chicó, torna-se o fio condutor da história que segue como a anterior, tanto é que até sabemos o que e quando vão ocorrer as confusões e escapadas da dupla. E que dupla!
Selton e Matheus não perderam nada da química de 24 anos atrás e continuam se divertindo e nos divertindo. Mas é engraçado como esse filme remete ao primeiro para avançar sua história de forma quase idêntica ao filme “Gladiador 2”.
Estão aqui os flashbacks pontuais para situar a história e o contexto de algumas cenas e, de novo com personagens interpretados ao estilo vaudeville, o que funciona muito bem pelos talentos absurdos de Fabíola Nascimento, Eduardo Sterblitch (mas passa um pouco da caricatura) e, principalmente, a melhor coisa do filme: Luis Miranda como Antônio do Amor. Que ator, que timing para comédia!
Novo “melhor amigo” de João Grilo nas artimanhas da vida, é dele, sem dúvida, os momentos mais engraçados. Ttoda vez que ele aparece a temperatura do filme se eleva, pois malandro, imprevisível e camaleônico nunca se sabe o que ele vai aprontar.
Já o coronel de Humberto Martins traz uma interpretação muito parecida com a do saudoso Paulo Goulart no primeiro filme: turrão, irrascível e sempre passado para trás pela sua filha, a personagem cosmopolita de Fabíola Nascimento. Ou seja, muito parecida com a história anterior de um grande truque, uma ação que coloca tudo a perder, e a tentativa de redenção pela graciosa Nossa Senhora de Taís Araújo, que com pequenos e sublimes gestos convence quando precisa interceder novamente por João Grilo.
E aí temos um momento de criatividade, em que o filme, intencionalmente ou não, nos prova que nós mesmos enquanto pessoas podemos ser nossos maiores inimigos, o que envolve diretamente o personagem de João Grilo (mas sem spoilers).
“O Auto da Compadecida 2″ segue a vertente social que praticamente obriga os cidadãos e artistas pensantes como os envolvidos nesse filme sobre como estamos rodeados de pessoas e políticos que se escondem ou se apropriam da religião, o que já estava no primeiro, mas aqui esse assunto é exponencialmente abordado mais claramente, sacramentando que, infelizmente no Brasil, os poderes políticos estão nas mãos dos mais espertos, dos que só querem vantagem; o mais triste sendo que os próprios explorados são simplesmente incapazes de enxergar e parar de seguirem esses tipos de pessoas.
De qualquer forma, o único problema do filme e que o impede de ao menos se igualar ao seu antecessor, é nos mostrar algo mais novo do que “inimigos” mesquinhos que a dupla protagonista tem que enfrentar, passando perrengues com falta de comida, mulheres, e correndo risco de vida.
Porém, a continuação respeita a história dos personagens e não os descaracteriza, contudo também não os faz avançar; permanecem os mesmos, presos ao que agora parece uma fórmula, que funciona como mola propulsora para interesse do que o filme trará aos brasileiros.
Curiosamente, a série que foi para TV tinha mais elementos cinematográficos, com maior uso de cenas externas no sertão, mas na continuação parece que foi feito o contrário, com muito CGI e complementos gráficos, mas de qualidade, como por exemplo no começo com a metáfora do pássaro e o gavião. O longa impressiona pelo formato interessante em que são contadas as mentiras de Chicó, com algumas técnicas diversas de animação para chegar ao resultado final, no que aí sim reside a criatividade que o projeto poderia ter em sua grande parte, mas são momentos de exceção.
COMPRE AGORA
Novo Echo Show 8 (3ª geração) | Smart display com áudio espacial
Novo Kindle Paperwhite Signature Edition
Por falar em qualidade, Guel Arraes e Flávia Lacerda continuam com um domínio de cena e direção que chega ao sobrenatural, tamanha a identificação visual com o tema e o universo do grande Ariano Suassuna.
É como uma reunião carinhosa de grandes amigos, mas que não tem nada de novo para contar, mesmo estando separados por tanto tempo ou seja, é a mesma piada contada duas vezes que embora possa ter graça, não é nada nova.
Imagem Destacada: Divulgação/H2O Films
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.
Sem comentários! Seja o primeiro.