“O Gosto do Cloro” chama a atenção logo pela capa. As linhas distorcidas, lembrando o tranquilo movimento da água na piscina. O desenho simples, mas forte. Poucos elementos, porém o necessário para chamar a atenção do leitor, despertar sua curiosidade e faz com que queira folhear o álbum para ver do que se trata! É uma obra de arte em quadrinhos, um romance melancólico, silencioso e maravilhoso.
A criação é de Bastien Vivès. Nascido em Paris, ele começou os seus estudos cedo, tendo aulas de modelo vivo aos 10 anos de idade. O talentoso artista estudou Artes Aplicadas e Animação, o que fica nítido ao vermos as sutilezas nas movimentações dos personagens. Há sequências que não trazem texto algum, apenas movimentos, pois esses já falam por si só, e o fato de dominar a arte da animação certamente o ajudou nesse aspecto.
A história… Temos como protagonista um jovem que está com problemas na coluna, escoliose para ser mais específico, e seu terapeuta o aconselha a fazer natação se não sua situação tende a piorar cada vez mais. No princípio meio relutante, o jovem acaba aceitando, pois sabe que é necessário para que tenha uma saúde melhor. Assim, ele começa a frequentar uma piscina pública, e lá conhece uma garota que ao perceber que o rapaz não leva tanto jeito para nadar, o ensina técnicas, surgindo assim uma nova amizade. Mas, como o amor não tem hora nem lugar para acontecer, sentimentos começam a surgir… Mas, será dos dois lados? O romance está no ar? Ou nesse caso, na água? Deixamos isso para que você descubra por conta própria!
Vocês devem ter percebido que tratamos o protagonista como “jovem” ou “rapaz” na sinopse, assim como falamos sobre a “garota” e, apesar de não ter citado o “amigo”, teríamos o apresentado como o “amigo” também. Por quê? Porque é assim que o autor nos apresenta seus personagens! Sem nomes. O que são nomes? Para que serviriam nessa história afinal? Apenas limitaria a imaginação do leitor, e se há algo que o autor não faz nessa história é impor limites. Por meio de uma leveza sem igual ele nos conduz pela história, dando margem para imaginarmos o quanto quisermos.
As cores são um espetáculo. O artista usa apenas uma paleta de azuis, verdes e outras cores que estão relacionadas ao cloro, tornando o visual surpreendente. E não são só as cores que nos remetem ao ambiente em que se passa a trama. Os próprios quadrinhos e traços dos personagens são todos levemente distorcidos, nos lembrando o tempo todo o movimento da água, uma sutileza que nos faz sentir dentro da piscina com os personagens.
Diálogos são somente o necessário. Com poucas palavras o autor nos diz muito, indo contra a tendência de muitos quadrinhos de hoje em dia, onde textos e mais textos são colocados nas histórias, indo muito além do essencial e deixando pouco espaço para a imaginação do leitor. Um exemplo de que se pode dizer muito com poucas palavras está na animação “Wall-E”, da Disney-Pixar. Quanta poesia e informação nós temos nesse longa-metragem! Veja bem, um longa-metragem! Mais de uma hora quase sem diálogos! O mesmo podemos dizer dessas mais de 100 páginas da obra de Bastien Vivès.
O álbum foi publicado pela primeira vez em 2008 e rendeu ao seu autor o Prêmio Revelação no Festival Internacional de Histórias em Quadrinhos de Angoulême (2009), que é considerado o mais importante evento especializado em HQ da Europa. Foi publicado aqui no Brasil em 2012, mas infelizmente não é tão fácil de ser encontrado por estar fora de catálogo. Esperamos que logo pensem em uma nova tiragem, para que novos leitores mergulhem nessa piscina e acompanhem de perto esse romance.
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