O Jazz, o blues, o rock’n roll. Estilos musicais consagrados, principais nomes da música contribuíram para alguma dessas vertentes. Através de melodias impecavelmente trabalhadas, músicas que jamais ficam velhas ou caem no esquecimento. Tornam-se clássica. E porquê clássicas? A história explica tudo.
Eunice Kathleen Waymon, ou Nina Simone, nascida em 1933 tem em sua história profissional e pessoal, muitos motivos para não deixarmos essa boa música morrer. Como música, também foi importante ativista dos direitos civis. Abraçando inevitavelmente essa causa, algo que era considerado extremamente perigoso em sua época.
Aos 4 anos, Nina iniciou seus estudos musicais através do piano. Desde então, seu primeiro ideal profissional seria se tornar pianista clássica. Sua mãe era ministra em uma igreja evangélica, tendo sido essa sua base de criação. Apresentou-se em recitais durante sua infância, até que uma de suas professoras criou um fundo com o dinheiro arrecadado nos recitais para que então pudesse estudar em grandes e notórias escolas de música. Tendo sido rejeitada por sua cor. Com toda sabedoria, inteligência, profissionalismo, o que falava mais alto era sua cor. Como superar um golpe racista que afetaria de várias maneiras seu objetivo profissional?
Tocou Bach, Bethoveen, Brahns, Debussy, Rachmaninoff. Conteúdo que não bastava para a grande maioria. Em sua juventude, fazia pequenas apresentações em bares para sustentar a família. Logo, seu grande talento musical alcançaria públicos maiores.
Com uma pincelada de história, me pergunto se falo das dificuldades de um tempo passado ou de um tempo presente. Uma pessoa dotada de potencial e coragem para lidar com adversidades que na realidade, não deveriam existir. Mas a coragem não é um dom, é uma escolha particular de aceitar o que nos é dado, sendo injusto ou justo, ou usar nossas próprias ferramentas para a mudança.
Em sua casa, quaisquer questões raciais eram silenciadas. Em sua casa e em muitas outras. Não se falava das injustiças, dos preconceitos, de toda segregação. Vivia-se, sentia-se, porém não falava-se conscientemente sobre tudo isso. O que sempre foi bastante conveniente para a maioria branca que exercia um poder perverso da maneira que queria. Seguir esteriótipos que são impostos sem poder questiona-los com consciência. Em 1966, nos deu essa visão através da música “Four Women”. Sua letra conta 4 esteriótipos da mulher negra. E essa batalha, como ainda é hoje, seria devastadora. Em prol de seu trabalho, não teve uma vida social pois dedicava muitas horas aos seus estudos.
Vemos em sua história, ainda que antes da sua postura definitivamente ativista, batalhas contra crimes sociais cometidos as minorias. Dedicou-se com empenho, começando aos quatro anos, para conquistar seu lugar na música de acordo com seu talento. Justo.
Em uma apresentação para a Playboy Penthouse, Hugh Hefner, a apresentou inicialmente dizendo que Nina Simone havia vindo e surgido simplesmente “do nada”. Se dedicou ao piano desde os 4 anos, mas até então veio do nada. Sua apresentação para na Playboy Penthouse de fato fez com que tivesse visibilidade e que seus talentos finalmente fossem apreciados pelo público. Estudou, financiou seus próprios estudos, sustentou a família, motivo inclusive que fez com que Eunice usasse profissionalmente o nome Nina. Para que sua mãe, evangélica, não soubesse que sua filha estava trabalhando em um bar. Outro limite social. Limites que Nina de fato, rebelaria-se contra.
A morte de 4 crianças negras em Birmingham, vítimas de um atentado, foi o estopim. Retratado na canção “Mississippi Goddam”. Esse foi um momento bastante decisivo na sua postura frente aos crimes sociais cometidos contra os negros. Vivenciou sentimentos como a raiva de maneira muito forte. Tão forte que, ao interpretar canções carregadas de ativismo social como Mississippi Goddam, chegou a alegar que sua voz havia “quebrado”. Constatou ao notar que dali em diante não conseguiria atingir certos tons com a voz. Música carregada de sentido. Não foi e ainda não é, aceita pelas grandes mídias. Rádios, TV’s e DJ’s se recusaram a tocar suas canções. Seu posicionamento frente a barbáries tranquilamente aceitas pela maioria calada logo ia contra os interesses do mercado fonográfico.
Seu posicionamento contra injustiças sociais acabou sendo considerada uma postura extremamente prejudicial à sua carreira. Positivamente, pensaria que esse posicionamento deveria ser prejudicial a quem pratica tais injustiças. Aos que levam a crer que etnia atribui valor. Mas era o contrário. Viu sua carreira profissional em declínio, no entanto como poderia ser artista e não refletir e fazer algo para mudar os problemas da época?
Trabalhou a música pelos direitos civis. Junto a Martin Luther King, Malcom X e todos aqueles compelidos a assumir uma postura frente ao paradigma.
Trabalhou a música para muito além da sua beleza harmônica, usou-a como arma para lutar contra injustiças. Chegou a lugares muito a frente de sua época Como mulher, negra e pobre, conquistou o mundo e ainda disse à ele que não podemos nos conformar com tanta violência infundada. Atualmente, podemos e devemos afirmar que ela foi uma grande estrela da música, trazendo à luz o empoderamento feminino e negro. Duas questões que, ainda em 2016, geram conflitos e são necessários incansáveis diálogos, debates e movimentos para que todos gozem dos mesmo direitos.
Por Letycia Miranda
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