Dia 14 de maio é o dia das mães no Brasil. Repensando a respeito da condição feminina nos dias atuais, nada mais óbvio relembrar as pensadoras brasileiras que atribuíram às mulheres outras funções dentro da sociedade além de meras procriadoras no âmbito familiar.
E quando reconstruímos esse feminino acolhido, descoberto e ferido, marcado por causas históricas, sem dúvida a escritora e também editora Rose Marie Muraro têm um papel fundamental na luta pela emancipação feminina no Brasil contribuindo para que elas contestassem o que fora sido silenciado por muitos e muitos séculos. Resgatar esse feminino machucado é um grande desafio não só para a mãe e para a filha como também para o homem que é gerado pela mulher.
A escritora e feminista escreveu ao todo 29 livros, mas vou me ater a alguns que considero importantes além da sua participação na breve introdução histórica no clássico “O Martelo das feiticeiras”, documentário clássico e não menos aterrorizante, escrito em 1484 pelos inquisidores Heinrich Kramer e James Sprenger.
Aonde está a mulher hoje? Seu lugar próprio não está mais a espera do outro, depositando em seu marido, filho e patrão a afirmação desse local. Poderíamos fazer uma análise da opressão da mulher ideologicamente, simbolicamente e politicamente, mas se hoje discutimos tais questões, foi porque existiu Rose Marie Muraro com a sua “História do masculino e do feminino”, livro didático recheado com diversas ilustrações dos anos 1990 que aborda desde a Pré História até os dias atuais como os gêneros viveram o seu lado masculino e feminino. É uma ótima recomendação para aqueles que desejam entrar no debate sobre o que é realmente ser uma mulher ou um homem.
Já “A mulher no terceiro milênio” previa o encerramento do ciclo histórico da humanidade que vivemos hoje. Nele lemos com precisão o que atualmente está fadado ao mais completo fracasso, recalcado em todas as formas de poder que pouco a pouco vão sendo destruídas, inclusive o patriarcado. A autora explica através de três partes, sua análise a respeito de todas essas estruturas que desmoronaram trazendo diversas consequências que agora nos obrigam a revermos todos os nossos antigos conceitos.
No livro “Os seis meses em que fui homem”, ela nos conta sua experiência de distanciamento do seu gênero biológico e no que esta provação, por vezes existencial como ela mesma define, ajudou no entendimento das suas pesquisas e no seguimento da sua obra já que como palestrante e conferencista internacional foi uma das primeiras a reconhecer e reclamar os temas femininos no Brasil moderno.
Em “Memórias de uma mulher impossível”, podemos entender a trajetória dessa intelectual brasileira que foi eleita duas vezes como “A mulher do século” pela revista “Desfile”, além de nomeada a “Intelectual do século” pela “União Brasileira de escritores”. Mas até chegar a essas premiações seu percurso esteve marcado por resistências ao golpe militar de 1964, pelo envolvimento com a “Teologia da Libertação” de Leonardo Boff que resultou na sua expulsão da editora “Vozes”, além da anistia brasileira entre outras polêmicas. Através dessa obra pode-se compreender bem as ideias da pensadora que traçou um caminho inesquecível para todas as mulheres, feministas ou não.
A respeito do “Martelo das feiticeiras”, documento considerado como um dos mais importantes sobre o feminino, sua participação não é menos valiosa. Ela coloca o “Malleus Maleficarum” (nome original) como a continuação do Gênesis até chegar às temidas e famosas “bruxas” do Século XX sempre defendendo a inserção da mulher no espaço público rompendo os paradigmas que queimaram vivas muitas delas.
Rose Marie Muraro faleceu no ano de 2014 aos 83 anos deixando um legado que coloca a educação em um patamar que deveria e pode ser o movimento mais forte e contínuo na transformação do ser humano. O feminino transformado será o néctar que trará novos rumos para o universo como um todo, coletivo e individual.
Para outras informações, busque a Biblioteca Rose Marie Muraro que reside na Rua Hermenegildo de Barros, 44 – Santa Teresa, Rio de Janeiro – RJ.
Por Susana Savedra
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