Segunda parte
“Vamos falar sobre como quando entramos em um local calmo, nos assombramos conosco, certo?”, disse o homem de loiros bigodes ao me encarar, com a calma e a tranquilidade de sempre. “Olhe só, eu adoro ir para locais calmos. Seus tios preferem coisas agitadas, festas barulhentas, bastante movimento, mas eu gosto de tranquilidade. Sempre fui dado a fazer trilhas sozinho pelas matas do Rio de Janeiro. Logo que me mudei para cá a primeira coisa que procurei foi essa, um local para andar a ficar tranquilo. É uma coisa minha, acho que nunca me adaptei bem à algazarra do resto da família, então eu gosto de sentar em uma pedra, ou na grama mesmo, e ficar observando o mundo ao meu redor, sem pensar em nada de especial”.
Ele pegou o copo de café que Madalena tinha deixado entre nós e bebeu tudo de uma vez. Depois, encheu novamente o copo, até a metade, e bebericou devagar. Os modos de Joaquim eram calmos, controlados, ele tinha a perfeita noção de como se manter com uma boa postura ou fazer as coisas parecerem estar corretas. A sala principal de minha casa, naqueles tempos, era espaçosa e cheia de móveis antigos, ali eu me sentia pequeno e invisível, mas tio Joaquim parecia preenchê-la de uma ponta à outra, sem fazê-lo de maneira espalhafatosa. Era inevitável não olhar para ele sendo uma criança curiosa e até certo ponto muito consciente da própria inabilidade em socializar. Aquele homem era um modelo que eu gostaria de seguir tanto quanto gostaria de ser como meu pai.
“Dez anos atrás eu saí para uma caminhada, seria uma caminhada mais longa do que o normal, eu pensava em acampar na mata por uma semana ou duas, descontrair um pouco, esfriar a cabeça”, ele comeu um biscoito enquanto esperava eu beber um pouco do meu café, sem tirar os olhos dele. Naquela época, sendo jovem, eu não gostava muito de café puro, por isso enchia de açúcar. Aquele que bebi, talvez porque Madalena não tivesse colocado açúcar pensando na visita, estava forte e amargo. Eu fiz uma careta de nojo que fez meu tio abrir um sorriso involuntário. “Aqui, pegue o açúcar, esqueci de avisar que a Madalena nunca faz café com açúcar quando eu venho. Deve estar horrível para você”, e ele riu baixo, a voz grave quase transformando aquilo em um ronronar.
“Nessa caminhada, meu rapaz, eu fui bem para dentro da mata. Mais do que seria recomendável sozinho, mas na busca por paz todos têm picos de coragem e insensatez. Caminhei pelo meio da mata densa, cruzando as árvores e afastando a vegetação alta, sempre muito atento a qualquer animal peçonhento que pudesse aparecer e fazer da minha aventura uma muito mais curta até o hospital ou cemitério. Enfim, eu andei bastante, quase seis horas dentro da mata. Quando parei para descansar, em um local que decidi ser onde montaria a barraca, eu estava todo suado, meus braços doíam e minha cabeça girava. Precisei de quase uma hora sentado para me recuperar, bebi água e comi algumas frutas que havia levado comigo. Eu tinha uma mochila imensa, cheia das coisas que precisaria e outras que não eram tão necessárias assim, mas que levei do mesmo jeito.”, ele parou e bebeu um pouco mais do café, depois respirou fundo duas vezes, como fazia quando estava pensando. “Eu sempre fiquei hipnotizado pelo jogo de luz e sombra que as árvores fazem quando deixam passar a luz solar por entre as folhas das copas. Fica tudo meio verde meio preto, meio dourado também, com trechos de sol e trechos sem sol por onde você pode caminhar e sentir um pouco menos de calor. O interessante da Mata Atlântica é essa permanente sensação de estar próximo do mar e envolto em neblina que acaba passando quando você está embrenhado na vegetação. Eu gosto bastante disso, dessa noção de pertencimento à natureza. Me tira um pouco do incômodo que é pensar no fato de que o ser humano criou armas de destruição em massa para ferir o mundo e não só ele. Do que adianta pôr um homem no espaço, andar
na Lua, se o que restará na Terra serão escombros? Bem, meu rapaz, essa é uma discussão um pouco mais pesada do que deveria ser essa história, mas eu preciso ilustrar aqui, de forma bem clara, como passar um tempo isolado no mato me ajudava a manter a sanidade. Hoje eu já fiquei meio louco, sabe como é? Desisti de ter a razão quando ninguém vai escutar. Naquela época eu ainda tinha algumas energias para lutar pelo que acreditava, então me preparava para a próxima onda de problemas ali, diante do nada e do todo, sendo uma parte orgânica e recém-inserida no meio. Meu pequeno reino! Era como eu gostava de pensar naquele buraco no meio do mato, com o chão mais ou menos estável onde montei a barraca. A alguns metros dali, pela direita da frente da barraca, havia um pequeno riachozinho que eu tinha certeza que desembocava no mar se eu seguisse ao lado dele por tempo suficiente. Pela esquerda o caminho ficava íngreme até terminar em um penhasco, depois de mais ou menos dois quilômetros, com uma boa visão da periferia da cidade. Eu estava bem longe do centro do Rio de Janeiro, longe de verdade.
“Aos fundos da barraca estava o caminho de onde vim, e à frente o mistério. Meu mapa indicava mais mata e alguns morros, mas eu não estava curioso quanto àquela direção. Era o penhasco que de fato me atraía, a visão lá era linda. Eu o visitei três dias seguidos depois de montar acampamento e tomar as providências para não ser importunado por animais. Tinha minha dose de conhecimento sobre a selva, um de meus amigos foi do exército por muito tempo e me ensinou algumas coisas interessantes. Todos os dias eu ia ao riacho, enchia minha garrafa, fervia uma parte da água para usar depois, lavava o rosto, e ia caminhar. Sempre levei minha bússola e mapa, sabia usá-los com certa dose de habilidade, digo sem muita modéstia. Pela manhã eu acordava e ouvia os pássaros cantando, era lindo.
“Nos três dias que fui para o penhasco, vi o sol cruzar o céu saindo do oceano até se pôr atrás de mim. A ladeira íngreme dava de frente para a periferia, mas também ficava voltada para o Atlântico. No terceiro dia eu acordei mais cedo do que nos outros, ainda estava escuro, e fui andando até lá bem rápido para ver o sol nascer. Foi lindo. As cores vermelhas, laranjas e amarelas aos poucos despontavam no horizonte, espantando o azul e o preto da noite, pouco a pouco iluminando a cidade e fazendo a água do mar brilhar de uma maneira espantosa. Era como se alguém tivesse pegado todas as tintas em uma maleta e jogado em uma tela em branco. A neblina matinal apenas completava aquele quadro vivo. Os pássaros cantaram. Eu me lembro de ter sorrido bastante, era lindo! Ao fundo, junto da melodia dos animais, uma brisa fria fez o lento sussurrar das árvores parecer um chocalho acompanhando o som da vida despertando.”, meu tio ficou em silêncio ao falar aquilo, depois pegou mais um biscoito e comeu devagar. O café dele estava meio frio, por isso colocou mais no copo e bebeu tudo. Ele fez uma careta e eu ri, ainda estava frio demais para consumo. O café em meu copo também esfriava, eu o mantive em mãos e dava pequenos goles enquanto ouvia a história, mas vendo tio Joaquim virar o líquido dele de uma vez só, fiz o mesmo com o que restava no meu. Estava frio, mas ao menos estava doce. Eu comi um biscoito para disfarçar o gosto.
Madalena surgiu na sala com uma broa recém-saída do forno. Ela deixou dois grandes pedaços e disse que o resto estaria na cozinha, caso quiséssemos comer mais. Ou bastaria chamá-la, ela disse e saiu da sala. Meu tio agradeceu e eu o segui. Depois ele mordeu a broa e gritou para a cozinha que estava excelente, a porta permanecia aberta e a mulher agradeceu de onde estava.
“Depois de uma semana, eu já havia dado uma boa olhada nos arredores. Segui o rio tanto para cima quanto para baixo, achei alguns bons pés de fruta de onde tirei boas refeições. Estava tudo certo. Foi quando decidi ir na direção dos morros em frente à barraca, aqueles que no mapa não ficavam tão bem sinalizados. Reuni minhas coisas, empacotei tudo e parti. Deixei marcado no mapa aquela clareira que me atraiu tanto por sua praticidade e segui minha viagem de exploração.
“O caminho dali para frente foi mais íngreme e difícil, com mata mais espessa e por onde eu precisava fazer vários contornos para evitar falhas geológicas ou locais onde seria impossível passar sem me machucar. Caminhei por quase doze horas no primeiro dia, mantei um acampamento improvisado por não ter encontrado um local decente para parar ainda. Era quase sete da noite quando me deitei sobre uma rede pendurada entre duas árvores e dormi profundamente, esquecendo inclusive de me alimentar. Eu estava todo sujo de terra e folhas penduradas em minha roupa, mas meus pés doíam e minha cabeça girava. Dormi até oito da manhã do dia seguinte, acordei mais disposto, mas acordei faminto. Comi três bananas, duas maçãs e bebi meio litro de água e mais um copo de chá que fiz na hora. Depois segui andando na mesma direção. Havia um local no mapa que parecia interessante, onde eu poderia parar e fazer um novo acampamento. Minha noção de dia da semana ou data eu deixei de lado, não interessava muito mais quando eu voltaria, havia algo que precisava descobrir. Os jesuítas tinham uma missão ao entrar na mata, os bandeirantes tinham outra, os primeiros portugueses a chegar nessa terra tinham outra; a minha missão era esquecer qualquer ideia inicial e ficar lá até me cansar ou começar a temporada de chuva, o que chegasse primeiro.
“Nesse segundo dia eu caminhei com mais vigor, fiz poucas paradas, e consegui avançar bastante dentro da mata. Eu já estava bem distante de onde havia começado, bem distante de onde havia deixado meu carro estacionado e mais distante ainda de minha casa e minhas coisas. Meus irmãos haviam sido avisados sobre minha viagem, meus pais, naquela época doentes mais vivos, também tinha ciência de minha empreitada. Você já deve ter ouvido sobre a cidade de El Dourado, que os espanhóis e os portugueses procuraram durante a época do descobrimento, certo? El Dourado, de acordo com a lenda, era uma cidade feita inteiramente de ouro, seria a cidade da riqueza máxima. Isso despertava a ganância de alguns exploradores mais idiotas, coitados, que partiam em viagens infrutíferas em busca dessa terra. De certo modo, meu rapaz, eu estava em busca de minha El Dourado, de minha terra prometida de riquezas, fossem essas riquezas qualquer coisa, desde café até livros de Baudelaire. No segundo dia eu também parei tarde antes de montar um acampamento improvisado e cair na rede exausto. Nesse dia, porém comi um pouco antes de dormir. À medida em que ia andando eu procurava por qualquer coisa que pudesse servir de alimento e me impedir de consumir as reservas de comida enlatada que havia levado. As frutas eu comi nos primeiros dias, para não estragarem, mas atraíam muitos insetos e tive de comê-las com rapidez.
“No terceiro dia de viagem eu corrigi minha posição algumas vezes, com base no mapa e na bússola, andei com passos apressados, suei e xinguei bastante – não faça isso, xingar, eu quero dizer – e finalmente, lá pelas quatro da tarde, se eu não me esqueci desse dia ainda, cheguei onde queria. Era um pedaço bem plano de mata entre duas encostas que davam para áreas ainda mais altas (uma dessas encostas mais um rochedo do que um morro) onde havia um pequeno fio de água correndo, uma área um pouco inundada por conta desse fio de água, menor que um córrego, um trecho com
vegetação rasteira baixa e outro com um tipo de mato muito alto e amarelado que parecia trigo, mas não poderia ser trigo de modo algum. O local tinha o formato de B, ou 8, depende da sua caligrafia, você já escreve bem, não é? Pois bem, tinha esse formato e em um dos cantos, sob uma árvore grossa e jovem, bem vigorosa e de folhas largas, eu coloquei novamente meu acampamento fixo. Era um local excelente, eu precisava apenas encontrar um local melhor para recolher água, aquela pequenina corrente não serviria para recolhê-la. Passei o resto da tarde deixando o acampamento do jeito ideal e o dia seguinte inteiro encontrando o que precisaria. Depois, abri meu mapa mais uma vez e olhei nos arredores para procurar por boas coisas para explorar.
“A encosta que ficava à minha esquerda no acampamento era mais alta e cheia de vegetação, dava, depois de alguns quilômetros, em uma estrada de chão que seguia até uma cidadezinha qualquer. Era ruim de subir e não me interessou muito, por isso eu deixei ela de lado e só a cruzei quando precisei procurar por comida. O morro da direita tinha menos mato, era mais duro e áspero, e no topo dele não havia vegetação. Ele dava para a mata e do topo dele era possível ver um pouco abaixo as copas das árvores. Mais ao fundo de até onde a vista alcançava, eu peço perdão pela expressão, mais morros, para dentro do continente, e uma linha mínima de mar que em boa parte do dia parecia mais uma borda do céu azul.
“Assim como o primeiro local onde parei, nesse eu também passei bastante tempo no topo do morro observando a natureza. A diferença, dessa vez, era que eu poderia ver o pôr-do-sol atrás dos morros, não apenas o nascer do sol. Fiquei tentado em levar minhas coisas um dia para o topo do rochedo e passar ali um ciclo de rotação da Terra. Coma mais biscoitos, rapaz, a casa é sua. Você sabe que a Terra, para dar a impressão de um dia e de que o Sol gira ao nosso redor, tem um movimento de rotação ao redor do próprio eixo, não sabe? Te ensinaram isso na escola?”, eu fiz que sim com a cabeça e ele parecia satisfeito com aquilo. Murmurou algo e voltou a atenção outra vez para o que estava dizendo, encheu o copo com mais café e bebeu tudo de uma só vez. Depois, pegou mais dois biscoitos, comeu devagar, olhando para os lados, nunca olhando para mim, e continuou falando.
“Eu queria ficar naquele local, no alto daquelas pedras, e ver passar sobre minha cabeça o sol. O Sol, com S maiúsculo. O Apolo dos gregos, com sua carruagem carregando o calor para nossas vidinhas minúsculas e para os deuses no Olimpo também. Apolo você não conhece? Tudo bem, faz parte, depois eu te explico melhor sobre ele. Bem, eu queria, mas não poderia. Seriam muitas coisas para levar ali para cima, e o terreno não era bom para firmar a barraca ou as outras coisas que havia levado comigo. Não havia espaço suficiente para tudo. Eu desisti da ideia, mas passei bastante tempo lá em cima pensando nisso e em mais nada, nas vantagens e desvantagens de cada local para montar um acampamento. Essas eram minhas maiores preocupações naqueles dias, onde dormir, o que comer, onde me lavar (quando me lavava), onde guardar as coisas, que animais poderiam me atacar, não havia nada mais do que isso. Era uma vida simples, eu focava em viver, em sobreviver, quando havia tempo eu pensava em outras coisas, nos pássaros, nas formigas ao meu redor, nos insetos, nas cores do dia e na falta de cores da noite, no silêncio que fazia e no meu silêncio de dentro, que já existia mas que nos últimos dias vinha crescendo e voltando, se mostrando, ocultando os gritos e vozes dentro de mim.
“O silêncio é bom, as pessoas que não entendem ele. Elas acham que é sempre necessário ter algo a dizer, algo a fazer, algo a se pensar. Não pensar é perda de tempo,
eles dizem, pior do que isso é não fazer. Tempo é dinheiro, mas para quer correr atrás de tanto dinheiro, para quê valorizar tanto o nosso tempo, se ele é limitado de qualquer forma? Eu prefiro que meu tempo seja vida, seja felicidade. Para que comprar felicidade com dinheiro? Ela já está aí, meu rapaz, gratuita e acessível a todos, só precisamos reaprender a achá-la, convocá-la quando precisamos. Não que eu negue o valor de uma vida bem acomodada na cidade como a sua e a minha, eu adoro viajar e isso só seria possível com dinheiro, mas existe um limite saudável de apego ao mundo comercial, ao mundo norte-americano. Meus silêncios eram todos de ouro. No topo do rochedo eu executava quando estava mais disposto algumas sequências de alongamentos e outras atividades, depois me deitava sem camisa sob o sol e aproveitava o tempo. Foram boas semanas sem chuva.
“Eu não me lembro mais qual dia da semana era, peço desculpas por isso. Aqui nossa narrativa fica um pouco menos específica. Só sei que minha barba já estava crescendo (eu esqueci a navalha para o rosto), minhas unhas já haviam sido cortadas duas vezes (as do pé) e eu estava bem bronzeado e feliz comigo mesmo. Nesse dia eu estava com bastante sono. Acho que havia me recuperado de uma virose leve que peguei depois de comer algumas frutas fora de época e tinha que recuperar as forças pouco a pouco. Pois é, nem só de alegrias vive o homem na natureza, embora sejamos todos bons selvagens. Eu me deitei no alto daquele rochedo e dormi. Simples assim, dormi lá e larguei minha bússola e meu mapa ao meu lado. Agora, se há alguma divindade, meu rapaz, não sei como seus pais te criaram, bem se há algum deus por aí, ele certamente pune os desatentos e despreparados, ou talvez seja apenas a lógica da situação. Eu dormi, mas naquele dia não notei que nuvens cinzas escuras se formavam no horizonte. Acordei quatro da tarde com uma tempestade ao meu redor, meu mapa virou uma sopa colorida ao meu lado e minha bússola estava em qualquer lugar menos ali. A minha sorte era que de tanto ir até o topo rochedo, eu já havia decorado o caminho de volta, mas as nuvens se fechavam ao meu redor e caía água de uma forma inacreditável. Só mesmo estando dentro de uma tempestade dessas que vivi para saber o que foi aquilo, uma confusão doida! Levantei ainda meio confuso pelo despertar repentino e me preparei para sair dali o mais rápido possível, eu precisava tomar cuidado para não escorregar e cair nas pedras. Desci pela encosta e escorreguei algumas vezes, em uma delas deslizei e rolei até cair na base do morro, não me machuquei gravemente na hora, apenas alguns arranhões, e continuei andando para onde estava o meu acampamento.
“E se era para punir os desatentos e despreparados, então de fato minha punição foi dupla. Primeiro porque não percebi a chuva vindo, e segundo porque me esqueci que havia dormido virado para um lado diferente naquele dia, para ver o sol se pôr. A lanterna que eu havia levado para sair do topo do rochedo durante a noite ainda estava em meu bolso, mas só notei isso quando começou a escurecer muito e eu percebi não ter chegado no acampamento ainda. Decidi dar meia volta e recomeçar de onde havia parado, mas a chuva era intensa e a mata muito fechada, eu me perdi por completo naquele ambiente. Tentei pensar com clareza, mas algo me impedia de fazê-lo. Tudo parecia dar errado, o sonho que tive antes de acordar foi nebuloso e me afetou profundamente. Por fim eu parei de andar e dei meia volta, quase comecei a correr para voltar ao pé do rochedo, não seria difícil achá-lo. Corri e corri, o tempo escureceu, eu deveria estar ainda mais perdido. Liguei a lanterna e segui mais cauteloso. Era um trambolho aquela lanterna, mas muito útil. Foi andando sem rumo certo que notei uma luz no meio da mata diferente da luz da lanterna. Não poderia ser um foco de incêndio,
estava chovendo, então só poderia ser uma pessoa, ou uma fogueira, ou qualquer coisa. Qualquer coisa, naquela hora, era uma opção melhor do que andar molhado pela mata.
“Fui em direção à luz, não a luz que dizem que vemos quando morremos, mas a luz que estava de fato na mata, e para a minha surpresa encontrei um chalé ali no meio do mato. A construção não estava inteiramente visível na escuridão do fim de tarde chuvosa, eu via apenas a porta de madeira simpática e convidativa e a janela por onde passava a luz suave, morna e amarelada, de uma lareira. Quase pude ouvir o crepitar da lareira. Era algo extremamente atrativo. Sem pensar duas vezes eu abri a porta do chalé e entrei, me deparando com uma senhora sentada em uma cadeira de balanço com um longo cobertor de crochê sobre seu colo, inacabado. ‘Entre, meu querido, entre’, ela me falou. Eu entrei.”
Por: João Scaldini
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