“TENHO um dragão que mora comigo.” (p.147)
E foi essa a primeira frase de Caio Fernando Abreu que me chegou. “Tenho um dragão que mora comigo”.
Tenho um dragão…
Tenho…
Um dia, na faculdade, uma moça com “olhos de cigana oblíqua” (referência à Machado de Assis.), me fez o maior favor que almas letristas podem fazer umas às outras: leia-o; ela disse. Eu – que já nem gosto – joguei na internet e o primeiro livro que apareceu, cliquei. E a partir daí, foi uma viagem sem volta. Dayane não sabe (ou sabe!), mas por sua culpa, acabei me viciando.
Caio Fernando Loureiro Abreu, nasceu em Santiago no Rio Grande do Sul. Foi amigo íntimo de Hilda Hist e reza a lenda que teve um affair com Cazuza. Homossexual assumido, refugiou-se na em casa de Hist para fugir do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). E foi justamente na Ditadura Militar, que se fez voz, ouvido e coração.
Seus livros tem um tom intimista, mas conseguem ser satíricos quando necessário. Caio Fernando pegou sua alma, fragmentou-a, e colocou cada pedacinho em folhas de papel. E nós, almas afins, reconhecemo-nos em cada verso, cada linha… em cada dragão.
Os Dragões Não Conhecem o Paraíso é um livro de contos. Treze no total, e o conto homônimo ao título do livro vem a ser o último. A obra tem um cerne, seus contos giram em torno de amor e morte, amor e sexo, amor e memória, amor e loucura… amor. “É o seu retrato interior, tirado à beira do abismo.” . (Definição da contracapa do livro.).
Trata-se de uma obra curta. São apenas 157 páginas de pura densidade intimista. Não se deixe enganar pelas poucas páginas. Você vai acabar mergulhando no mais profundo da alma de alguém. E talvez isso não tenha volta. Talvez você faça questão de não voltar. Tal-vez.. esse seja seu presente para si mesmo.
Alguns contos começam com a epígrafe de autores famosos. Dentre eles temos: Cazuza (olha ele aí), Adélia Prado, Oscar Wilde… entre outros que emprestaram sua alma para compor esse lindo trabalho.
O meu livro é uma espécie de amuleto. Dos muitos que habitam minha simples biblioteca, esse está no hall daqueles não dou, não vendo e muito menos empresto. Mas você consegue achá-lo a preços módicos nas livrarias. Ou… para os curiosos de plantão, que como eu não conseguem aguentar, a internet está aí para isso. Há versões dele em pdf e de muitos outros desse autor.
Você acha que é um livro, mas na verdade é uma grande colcha de retalhos. O que faz com que a dica de hoje seja para sua alma. Caio Fernando não é apenas citações em Facebook. Ele vai além de si mesmo. E nos leva além também.
“Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim: que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo, repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante.”. (p.148)
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