Série da Globoplay mostra as consequências das reações impulsivas bem intencionadas
Na série “Os outros”, original da Globoplay, a frase de Sartre: “O inferno são os outros“, é o encaixe perfeito, todo o enredo se desenrola a partir de reações motivadas por ações de terceiros. Uma briga de adolescentes logo no primeiro episódio é o fio condutor para todos os desdobramentos, que envolvem inicialmente apenas as famílias; e aos poucos, a todos os vizinhos do condomínio.
O condomínio Barra Diamond é o grande protagonista da série, é nos seus ambientes que acontecem todas as ações e reações em cadeia. De primeira podemos ver uma única ação em que Wando se responsabiliza e arca com o prejuízo: o vidro quebrado. Fora isso, todas as reações são justificadas por uma ação anterior provocada pelo outro.
Leia Mais: The Good Doctor | Série chega ao fim
Elenco primoroso
Adriana Esteves (Cibele), Thomas Aquino (Amâncio), Milhem Cortaz (Wando) Maeve Jinkings (Camila), Eduardo Sterblitch (Sérgio), Drica Moraes (Lúcia) estão brilhantes. Destaque para: Antônio Haddad (Marcinho) e Paulo Mendes (Rogério) que entregam 2 adolescentes com personalidades opostas e questões semelhantes de forma estupenda. A expressão de corpo deles é incrível, especialmente o olhar.
Eduardo Sterblitch aos poucos vai demonstrando as diversas nuances das personagens e para quem está acostumado a vê-lo em comédia vai se surpreender. Drica Moraes traz uma síndica de conduta questionável, porém, justificável como todos os personagens.
Leia também: Berlim | 5 curiosidades para você maratonar
Roteiro empolgante e real
O roteiro é construído de uma forma em que o espectador “não pisca”. Cada episódio é apresentado um nível a mais de complexidade nas personagens e na trama. Além disso, é muito verossímil: as situações domésticas e familiares, as dificuldades de convivência com vizinhos e os relacionamentos entre adolescentes.
Os 2 casais que compõe o núcleo central das tramas são o espelho um do outro:
No casal Cibele e Amâncio, ela é impulsiva, ansiosa, explosiva e controladora. Ele, por sua vez, tem personalidade mais tranquila, busca apaziguar e manter o diálogo e se sente silenciado. Marcinho, filho do casal, é introspectivo e fica no “fogo cruzado”.
Em Camila e Wando, ele é impulsivo, explosivo e autoritário. Camila é dona de casa, boa esposa, mãe zelosa que tenta apaziguar as situações do filho e do marido e também passa por silenciamentos. Rogério, filho deles, é expansivo e sofre calado.
Amâncio e Camila vão aos poucos surpreendendo. Ele é tranquilo, apenas aparentemente. Se revela passivo-agressivo, o que afeta muito a quem assiste. A sequência do interrogatório dele com a mulher, após uma ação perturbadora que acontece na série, é violenta por si só. Piora com a atitude dele e a reação leva a outros acontecimentos. Camila não é tão submissa quanto parece, volta a trabalhar e começa a se impor diante de Wando.
Compre Agora: Echo Show 10: Smart Display HD de 10,1" com movimento e Alexa
Pais e Filhos
Os filhos Marcinho e Rogério, vivenciam situações familiares muito próximas, porém as expressam de forma diferente. Ambos escondem suas fragilidade, cada um a seu modo: Marcinho, através da sua fragilidade física; Rogério, da força.
Tem relacionamentos difíceis com os pais, que nem sempre estão atentos a isso. O foco deles está no próprio casamento e nas reações em cadeia.
Ao longo dos primeiros episódios, podemos associar o condomínio com a bolha social. Porém, o Barra Diamond é apenas o pano de fundo.
“Os outros” nos mostra de forma visceral que focar nas ações alheias para nos justificar nos torna coadjuvantes. Além disso, podemos afetar o coletivo, muitas vezes negativamente. Logo, não teremos autorresponsabilidade para agir, reconhecer erros e sermos, de fato, protagonistas da nossa história.
Imagens: Divulgação/Globoplay
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.
Análise primorosa sobre a trama ,que é pra lá de atual.
Um olhar profundo nas formas de sustentação de toda uma Sociedade…trabalhar mais,querer mais, ser mais, ter mais…sem perceber, os personagens são “usuários “e se deixam usar…por inúmeras razões…
A pergunta certa é:
Quem sou eu, diante de tudo..!?
Oi Edna, o questionamento de fato é bastante atual, pois enquanto as personagens focam nos outros não olham para as próprias questões. Seria uma fuga para não olhar para si ou um ato inconsciente?
Vale um café 😉
Em tempo, obrigada pela indicação dessa série.