Em cartaz pela 47ª Mostra Inernacional de Cinema em São Paulo, “Parvin”, na corrida competindo na categoria de novos diretores, é a aposta iraniana para um thriller construído a partir dos costumes. Confira abaixo nossa crítica, sem spoilers, do longa.
Minha filha, prepare um remédio de ervas
O que à primeira vista as lentes quase voyeurísticas de Mirabbas Khosravinezhad parecem capturar por uma crítica sutil ao patriarcado, desvelam na verdade um inteligente storyteling que sabe aproveitar o que tem a sua volta para mexer com as expectativas do público. “Parvin” segue uma premissa simples e é fiel ao seu argumento, propondo esgotar o cotidiano pelo terror da mediocridade.
No longa, uma jovem iraniana se encontra às escondidas com o namorado em sua casa, porém, seus pais e irmão retornam ao lar mais cedo do que o previsto, e isso não é tudo: uma confusão na vizinhança culminou com a morte do pai de seu amado, que deverá assumir o papel como chefe de família. Iman precisa escapar da residência sem ser visto, pois a descoberta de sua presença poderia trazer graves consequências para sua querida Parvin, ao que mantém a mente no horror que ocorre no quintal ao lado.
Os cenários apertados, e que a pouco os espectadores vão conhecendo bem, da casa de família arranjam a estética claustrofóbica que é física e igualmente psicológica. Para continuar com a cabeça no lugar, Parvin precisa manter a pose de boa filha subserviente enquanto dá um jeito de manter os parentes com os olhos longe dos esconderijos do rapaz, pouco a pouco revelando como é que se dão as dinâmicas entre os moradores da pequena residência.
Não é óbvio, mas disso nasce um maniqueísmo é uma escolha de dois gumes de Khosravinezhad: por um lado, a experiência das relações fica comprometida — Parvin é claramente a mocinha, pode ter a sua malandragem, mas ainda assim representa um polo diametralmente oposto ao restante da família — o que não casa bem com as atuações, que embora não estejam bem fora do tom, não são excepcionais, afinal, a profundidade dos personagens, em uma segunda análise, não é bem o foco da película.
Por outro, é esse dualismo que põe uma mordaça suspensa na maior parte do tempo — não sobra muito espaço ao telespectador, refém da ideologia, a pensar o quanto as ações de Parvin estão sendo pautadas a todo momento pelas convenções sociais; nesse microcosmo, a vida gira em torno da mulher, o que não significa que elas tenham espaço de poder e questionamento — para sobreviver é preciso ser inteligente, ao menos mais que os homens.
Entre os gritos e barulhos de vida provinciana, mais uma segunda-feira normal, não há algo que se destaque na direção do filme — a escolha de filmar com câmera de mão funciona atrelada aos demais positivos, mas, clichê, não surpreende ao apoiar-se em trivialidades. Não por acaso, a falta de química é o principal problema do qual Parvin padece, e as interações que o público recebe entre ela e o namorado podem levantar a questão: eles se gostam mesmo tanto assim?
Ninguém sairá o mesmo do que quando entrou nesse escape game de vigilância constante, não há dúvidas, e o que sobra ao fim não é o destino — que todos esperam para conhecer — mas, e novamente uma escolha previsível (e sem contrapesos), a atenção é direcionada para outro lugar. Parvin é um Odisseu com bem menos carisma (e orçamento), mas até conquista estando de braços abertos por uma forma de se contar uma história pouco usual/comercial.
Até o lançamento desta crítica, não havia trailer ou poster oficial disponíveis.
Este Filme foi visto durante a 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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