Antes de tudo, é necessário salientar que o título em português “Às Vezes Quero Sumir” pode não ser apropriado para capturar adequadamente a essência do filme dirigido por Rachel Lambert. Enquanto o título original, “Sometimes I Think About Dying”, pode induzir aqueles que não assistiram ao filme a uma interpretação equivocada: os realizadores não aspiram a criar uma obra que aborde diretamente a morte, mas sim uma que procure enaltecer a vida, por mais singela, melancólica ou desprovida de significado que possa parecer.
No entanto, a protagonista Fran (Daisy Ridley) não necessariamente considera sua existência desprovida de sentido ou patética; ela apenas se encontra imersa em um vazio existencial tão profundo que considera a morte uma alternativa mais viável. Assim, suas fantasias envolvendo seu cadáver coberto por insetos em uma floresta ou a ideia de enforcar-se em um guindaste são frequentes. Enquanto esses pensamentos a assombram, ela segue em silêncio, quase invisível para seus colegas de trabalho em um melancólico escritório.
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A quase ausência espacial da personagem é habilmente explorada através das escolhas de enquadramento e da construção da mise en scène: em diversos momentos, o diretor de fotografia Dustin Lane a retrata solitária, cercada por pessoas que conversam, riem e brincam, ignorando-a completamente. Algumas composições mostram apenas a cabeça da protagonista, enquanto o teto e os arquivos nas paredes do escritório parecem pressioná-la. Até mesmo a rua onde está localizado seu apartamento reflete seu desequilíbrio emocional, pois, situada em uma ladeira, naturalmente adquire um ângulo inclinado (Plano Holandês) quando vista de frente. As cores predominantes das roupas e do próprio apartamento, em tons de bege e cinza, também refletem a personalidade de sua dona.
Entretanto, a rotina de Fran é interrompida quando um novo funcionário é contratado pelo escritório. Robert (Dave Merheje), ao chegar, demonstra interesse por ela e inicia uma aproximação. Finalmente notada, Fran vislumbra uma possibilidade além da morte e decide dar uma chance para que a vida, talvez, floresça dentro dela. No entanto, essa mudança não ocorre de forma abrupta, e surgem obstáculos que tornam a jornada interessante de acompanhar.
Portanto, “Sometimes I Think About Dying” é um daqueles filmes independentes que se desenvolvem de maneira lenta, desafiando o espectador à reflexão por meio de símbolos e situações aparentemente desconexas da trama, mas que possuem uma coerência interna, como na cena em que Fran é seguida por uma serpente em um estacionamento. Nestes momentos, é necessário abandonar as convenções cinematográficas comerciais e explorar novas abordagens, o que se revela gratificante no desfecho. Ademais, destacam-se as performances do elenco, especialmente a de Daisy Ridley, que consegue transmitir as angústias de sua personagem com poucas palavras. Sua interpretação é marcada pela contenção, expressa através de gestos e olhares sutis.
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Trata-se de um obra simples e direta, talvez por isso não alcance a excelência. No entanto, o trabalho cuidadoso realizado é suficiente para que sua mensagem otimista seja absorvida emocionalmente pelo espectador.
“Às Vezes Quero Sumir” estreará em cinemas selecionados no dia 23 de maio de 2024.
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