Aos 81 anos, ex-Beatle faz um show vigoroso no Maracanã que derruba os boatos de aposentadoria
Passados mais de 50 anos do anúncio do fim dos Beatles, com a emblemática frase de John Lennon “o sonho acabou”, Paul McCartney segue como responsável por manter a beatlemania viva, fazendo shows que lotam estádios, com a maior parte do repertório do catálogo dos Fab Four. Paul sempre foi o Beatle mais afeito a shows, tanto que sua principal intenção ao formar os Wings com a esposa Linda e o guitarrista Denny Layne era justamente excursionar, coisa que os Beatles haviam parado de fazer para se concentrar em criar obras-primas em estúdio.
Na noite de ontem (16), sir James Paul McCartney, a bordo da turnê Got Back, fez seu tão esperado retorno ao Rio de Janeiro depois de 9 anos do último show, tocando no mesmo Maracanã onde, em abril de 1990, bateu recorde de público pagante para assistir a apenas um artista: 185 mil pessoas. Devido à nova configuração do estádio, o público dessa vez foi um pouco mais de um terço daquela estreia do ex-Beatle em solo brasileiro. Com todos os ingressos esgotados, compareceram dessa vez 66 mil pessoas para conferir o maior artista em atividade no mundo.
Após uma sequência de imagens exibidas nos dois telões laterais do palco, que faziam uma espécie de retrospectiva da carreira de Paul desde os Beatles até os dias de hoje, ao som de um medley de algumas músicas dessas fases, às 21h (pontualmente) a imagem do icônico baixo Hofner anunciava o início da apresentação. Sob gritos estrondosos que em muito lembravam a época da beatlemania, o astro inglês entrou no palco, estabelece a marcação “1, 2, 3” e inicia ‘Can’t By Me Love’, clássico dos fab four do álbum “A Hard Day’s Night”. Logo após ‘Junior’s Farm’, da fase Wings, o dono da festa se dirige ao público com um “Oi, Rio! Qualé, cariocas?”, para delírio dos fãs.
Essa sequência iniciada pelo single de 1974 segue com ‘Letting Go’ (também dos Wings) e ‘She’s a Woman’ (Beatles), e ‘Got to Get You Into My Life’, outra do fab four, adornada com animações dos garotos de Liverpool no telão (incluindo do game Beatles Rockband), músicas que fizeram a alegria dos fãs mais especializados, mas pouco conhecidas do público mais amplo. Mas a proposta do repertório era justamente mesclar os grandes sucessos, acenos para os seguidores mais fiéis, preferidas do músico e novidades. A música mais recente da noite foi ‘Come On to Me’, do álbum “Egypt Station”, de 2018. Também constavam no setlist ‘My Valentine’, essa dedicada à esposa Nancy, do disco “Kisses From a Bottom” (composto por covers de música pop tradicional e jazz) e ‘New’, do disco homônimo de 2013.
Em meio a todo o gigantismo da produção com telões em alta definição e um complexo jogo de luzes com uma estrutura móvel que em alguns momentos parece viva, há espaço para uma sequência mais intimista, essencialmente acústica quando até o baterista Abe Laboriel Jr assume um kit mais básico no meio do palco. Depois de I’ve Just Seen a Face, Paul convida o público para uma viagem no tempo, na gênese dos Beatles, que é a deixa para ‘In Spite of All the Dangers’. É emocionante ouvir a canção essencialmente juvenil na voz de um senhor. Ainda olhando para o início dos Beatles veio ‘Love Me Do’, cantada em uníssono pela plateia. A introdução com a gaita feita pelo tecladista Paul “Wix” Wickens já estremeceu o Maracanã. Como já é tradição na parte mais básica, por assim dizer, do show, ‘Dance Tonight’, faixa do álbum “Memory Almost Full”, contou com a divertida coreografia de Abe.
A megalomania marca registrada dos shows de Paul, vide a explosiva (literalmente) ‘Live and Let Die’, repleta de efeitos pirotécnicos, também se rende ao espetáculo vindo da plateia. Em ‘Ob-La-Di, Ob-La-Da’ o público ergueu balões coloridos recebidos na entrada apoiados nas luzes dos celulares, conforme a orientação dada, criando um efeito arco-íris no Maracanã. Em ‘Hey Jude’, cartazes, também distribuídos na entrada, criaram um mar de “NA NA NA”, fazendo Paul, mesmo do alto de sua experiência com shows para multidões, ficar visivelmente impressionado enquanto pilotava seu emblemático piano psicodélico.
Os Beatles falecidos, como de costume, foram homenageados nesse show com ‘Here Today’, composta para John Lennon (a quem ele se referiu como “meu brother John”), e ‘Something’, famosa música de autoria de George Harrison do álbum “Abbey Road”. ‘Get Back’ teve imagens do documentário de Peter Jackson, e ‘I’ve Got a Feeling’ contou com a “participação” de John, graças ao trabalho de restauração de vídeo e áudio feito por Jackson, o ex-Beatle apareceu no telão soando como se realmente estivesse ali.
Os aniversariantes do dia ganharam um um ‘Parabéns pra Você’ de luxo com ‘Birthday’, que, assim como em festas de aniversário, indica que a noite já se encaminhava para o fim. Depois de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise) e Helter Skelter, veio a trinca Golden Slumbers/Carry That Weight/The End, que fecha Abbey Road e também encerra os shows. Era “hora de vazar” como disso o eterno garoto de Liverpool em bom português antes do fim.
Paul McCartney provou com um show vigoroso de mais de 2h30 que o sonho não acabou. Apesar dos seus 81 anos e da voz, naturalmente, não ter mais a mesma projeção e limpidez de outrora, ainda é satisfatória além de ainda conseguir comandar um show como ninguém, interagindo com o público o tempo todo entre um clássico e outro, usando gírias cariocas como “Bora galera”, “o pai tá on”, “o Maraca é nosso”. A banda formada por Abe, Wickens, Brian Ray (baixo/guitarra) e Rusty Anderson (guitarra) já acompanha o Beatle há 22 anos e está mais azeitada do que nunca. A adição de um trio de metais foi muito bem-vinda, dando mais organicidade ao que era reproduzido por sintetizador. O ganho é nítido, principalmente em Got To Get You Into My Life, ‘Let ‘Em In’ e ‘Lady Madonna’.
Durante a última semana correram boatos que essa seria a derradeira apresentação de Paul, que anunciaria no palco o encerramento das atividades. Mas o próprio desmentiu os rumores de aposentadoria prometendo voltar em breve, e se despedindo com um “Té mais! Fui!”.
Setlist:
Can’t Buy Me Love
Junior’s Farm
Letting Go
She’s a Woman
Got to Get You Into My Life
Come On to Me
Let Me Roll It
Getting Better
Let ‘Em In
Nineteen Hundred and Eighty-Five
Maybe I’m Amazed
My Valentine
I’ve Just Seen a Face
In Spite of All the Danger
Love Me Do
Dance Tonight
Blackbird
Here Today
New
Lady Madonna
Jet
Being for the Benefit of Mr. Kite!
Something
Ob-La-Di, Ob-La-Da
Band on the Run
Get Back
Let It Be
Live and Let Die
Hey Jude
Bis:
I’ve Got a Feeling
Birthday
Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise)
Helter Skelter
Golden Slumbers
Carry That Weight
The End
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.