“Pedaço de Mim” é uma junção de recortes sentimentais sobre amadurecimento e escolhas.

Em “Pedaço de Mim”, Mona (Laure Calamy) é uma mãe solo que mora com seu filho Joël (Charles Peccia) e eles possuem uma relação muito próxima. Pelo menos era isso que ela acreditava até saber que seu filho tem uma relação afetiva com uma mulher com quem trabalha. Sua percepção sobre o mundo muda ao descobrir que seu filho autista será pai, pois Océane (Julie Froger) está gravida e eles desejam ter essa criança. Ambos com graus de autismo, e ainda dependente dos pais, a gravidez faz com que uma grande preocupação recaia sobre os envolvidos e o laço entre mãe e filho passa a se desgastar como nunca.

Para quem acredita no simbolismo dos elementos, a abertura do filme, durante os créditos iniciais, já pode apresentar a essência do filme e de sua protagonista. Nela temos Mona e Joël praticando natação, momento de mãe e filho, onde se conectam e se deixam guiar pela paz que aquela atividade lhes proporciona. Em câmera lenta, com uma música sutil, temos uma longa sequência com água, elemento este que significa fluidez, intuição e emoção.

Se jogarmos no Google, vamos encontrar algumas descrições e entre elas destacamos:

“As mulheres deste elemento são sensíveis, perceptivas e possuem uma forte conexão com as emoções, sejam as suas próprias ou as dos que as cercam. Pacientes e sonhadoras, elas possuem uma intensidade no olhar e o dom de ler as pessoas.”

Trecho perfeito para descrever o trabalho da atriz Laure Calamy, como Mona. Ela desempenha um trabalho incrível e sua interpretação na tela é gigantesca. Seu texto e sua expressividade, principalmente com o olhar, trazem à tona uma bagagem de emoções inevitáveis. Desde o início sentimos a sobrecarga da personagem em ser mãe solo, criando um filho autista, da melhor maneira que consegue. E ainda que com o olhar triste, pelo peso que carrega, suas ações mostram afeto, respeito e a necessidade de também ser amada e se sentir livre. Durante suas descargas emocionais da trama, inevitavelmente não conseguimos deixar de ser empáticos em compreendermos essa mulher.

Charles Peccia, que vive Joël, é uma grata surpresa na tela. Ele apresenta um personagem carismático e vívido, seus embates pessoais e a relação criada com a mãe, são um retrato fiel a um homem que busca seu próprio amadurecimento. Por seu autismo e superproteção, o personagem deseja ser mais, deseja florescer como homem e ter sua própria vida. Ao lado de Julie Froger, a doce Océane, o casal autista, tem poucos momentos de tela, mas a cumplicidade, o reconhecimento e o afeto entre eles é lindo de se ver.

Escrito e dirigido por Anne-Sophie Bailly, “Pedaço de Mim”, tem momentos ótimos e outros que são desgastados por um ritmo narrativo mais lento. O texto nos apresenta os personagens de maneira objetiva e cabe ao elenco aprofundar suas vivencias. Em nenhum momento o diagnostico de autista é falado ou explicado, deixando a cargo do público essa compreensão. E ao contrário do que pode soar, o filme não é sobre o casal, sobre ser autista em si, mas sobre a mãe e como ela lida com seu dia a dia e as mudanças que estão a caminho. Não podemos considerar essa conduta narrativa uma perda, mas poderíamos ter mais destaque aos personagens “especiais” – adjetivo usado em todo o filme para descrevê-los.

Sua direção é limpa e sem muitas pretensões. O foco aqui é abordar temas que muitas vezes é tratado como pesado e/ou inesperado. Sua conduta como realizadora do filme segue na sutileza, com poucos momentos de explosão emocional direta. É um resultado muito leve, mas que poderiam ter um ritmo melhor, torando-o mais ágil. “Pedaço de Mim” (Mon Inséparable) marca a estreia, em longa metragens, de Anne-Sophie Bailly. Ele fez parte da Seleção oficial da Mostra Orizzontti do Festival de Veneza 2024 e estreou, na noite de ontem, no Festival do Rio 2024. O mesmo segue sem data oficial para estreia no circuito de salas de cinema, previsão para 2025.

*Até o momento o longa não possui trailer e materiais oficiais de divulgação disponíveis.

Pedaço de Mim | Maternidade x Maturidade

Sinopse

Mona (Laure Calamy) é uma mãe solo que mora com seu filho Joël (Charles Peccia) e eles possuem uma relação muito próxima. Pelo menos era isso que ela acreditava até saber que seu filho tem uma relação afetiva com uma mulher com quem trabalha. Sua percepção sobre o mundo muda ao descobrir que seu filho autista será pai, pois Océane (Julie Froger) está gravida e eles desejam ter essa criança. Ambos com graus de autismo, e ainda dependente dos pais, a gravidez faz com que uma grande preocupação recaia sobre os envolvidos e o laço entre mãe e filho passa a se desgastar como nunca.

Prós

Sutil

Temas Abordados

Elenco

Contras

Falta de ritmo

Pouco foco no casal de autistas

4

4