Segundo Erasmo de Rotterdam (1466-1536), em sua ode à loucura, na obra-prima, “Elogio da Loucura”, somente “ela tem a virtude de prolongar a juventude, embora fugacíssima, e de retardar bastante a malfadada velhice.”
É na defesa da libertação que grande parte dos autores encontra seu espírito criador, talvez inacessível de outra maneira. Aliás, é fácil verificar quando ainda estão em busca de algum sentido para o que escrevem, e através das águas turvas do contraditório esbarram na audácia permanecendo um longo período experimentando as venturas e desventuras deste caminho ao qual todos aqueles que buscam a liberdade estão sujeitos.
Precisamos conhecer a realidade, para que dela possamos nos servir com sabedoria e felicidade, mas, acima de tudo, necessitamos de experiências não aceitáveis para ir ao encontro de outras verdades, de outros mundos que escapam a realidade propriamente dita.
Com base nisso, vamos explanar alguns poetas de diferentes épocas e estilos que deram à nossa mente e sensibilidade outra capacidade de percepção, fazendo-nos admitir que a loucura se faz necessária em nossas vidas , e mais ainda, urgente.
William Burroughs (1914-1997) faz parte da Geração Beatnik, aquela que deu origem ao movimento hippie e suas diversas ramificações. Porém, dentre tantos outros autores estadunidenses que encabeçam essa época, foi escolhido por ser, talvez o único conhecido entre eles que possui uma obra alheia aos temas recorrentes dos “beats”. Seus escritos são frequentemente influenciados por alucinógenos e quase sempre se utilizava da linguagem experimental sem prender-se a rótulos relacionados à época em que vivia. Participou também de inúmeros álbuns clássicos da história da música com participações poéticas, como por exemplo, na música “The Priest They Called Him” da banda Nirvana e também em “Is Everobody in?” no álbum póstumo da banda The Doors. É bem verdade que os Beatniks estavam em sintonia com o jazz e foram pioneiros na mistura de linguagens, porém, esse poeta foi até os anos 90, quando faleceu vítima de um ataque cardíaco, o grande sobrevivente de uma época onde poucos ficaram pra contar história. Um clássico da literatura Beatnik é o romance “Almoço nu” de 1959, onde o personagem principal viaja não só fisicamente, mas espiritualmente, através dos psicotrópicos.
Arthur Rimbaud (1854-1891) foi um francês que consumiu a sua existência como ninguém. Recorreu ao álcool, ao haxixe, ao ópio como ferramentas do conhecimento, mas acima de tudo, seu maior instrumento sem dúvida foi a vida. Mergulhou fundo nela e posteriormente desconstruiu a poesia da época. O poeta, dentre os mais conhecidos, foi o único que buscou atirar-se de todas as formas às emoções, passeando pelos extremos da vida ainda adolescente. A parte das drogas se envolveu com a Comuna de Paris, como podemos ver em seu poema “A orgia parisiense”. Também profetiza seu destino na poesia “O barco bêbado” e escreve um livro que termina por intitulá-lo como um dos fundadores da literatura moderna: “Uma temporada no inferno” . Obra repleta de poemas em prosa que data do ano de 1873, em resposta aos fracassos do homem perante a vida. É um testemunho carregado de intenções que tentam transmutar suas experiências vitais em palavras.
Charles Bukowski (1920-1994) nasceu na Alemanha, mas, foi criado em meio à pobreza norte-americana. Seus contos e poemas são nitidamente autobiográficos e seu estilo imediatista, como alguém que está constantemente em busca de um interlocutor para conversar livremente. Sua obra não possui preocupações estilísticas. Um bom livro de Bukowski para ser recomendado chama-se “Ao Sul de lugar nenhum- histórias da vida subterrânea” do ano 1973, no qual o autor não mede palavras para reflexionar acerca da solidão, da marginalidade, dos vagabundos, dos vícios, do sexo e do escatológico. Embora não se identifique com nenhum movimento é considerado um dos grandes escritores malditos do último século.
Álvares de Azevedo (1831-1852) foi o brasileiro que adentrou nas entranhas do romantismo dramático. Segundo o literato e professor Antonio Candido, este, “foi o primeiro, quase o único antes do Modernismo, a dar categoria poética ao prosaísmo cotidiano, à roupa suja, ao cachimbo sarrento”. O que dizer a respeito do autor que não assume o nacionalismo romântico da época e busca o insano, o ateísmo, o satanismo, a sobrevivência e a infelicidade? Leia-se “Macário” (peça de Teatro) e ” Noite na Taverna” (Contos), ambos do ano 1855.
E você? Tem um poeta da loucura preferido?
Por Susana Savedra
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Muito bom trazer Alvarez de Azevedo e colocar fofinho ao lado desses monstros _ e se eu fosse lembrar de um poeta psicodélico, mermo-mermo, só me vem a cabeça o Zé Urbano, que aliás merece ser estudado pela Nasa, é genial