Primeiras impressões de “Pluribus”, série pós-apocalíptica, em que a pessoa mais miserável da Terra precisa salvar o mundo de um vírus da felicidade
Logo nos primeiros minutos de “Pluribus”, dá para sentir o recado: não é “mais uma série de fim do mundo”. É o fim do mundo pela via mais irônica possível, um apocalipse de felicidade obrigatória, embalado em clima de mistério, humor ácido e desconforto existencial.
Criada por Vince Gilligan (de “Breaking Bad” e “Better Call Saul”), a produção chega à Apple TV+ com muita expectativa e comparação imediata com “Ruptura”, outro sucesso bizarro e inteligente do catálogo.
Nas primeiras impressões da série, a sensação é clara: “Pluribus” é estranha, provocadora e cheia de camadas, e tem tudo para virar a nova obsessão de quem ama ficção científica com crise existencial.
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Do que “Pluribus” está falando, afinal?
A trama de “Pluribus” parte de um ponto clássico da ficção pós-apocalíptica: um evento global muda radicalmente a humanidade.
Tudo começa quando cientistas descobrem um sinal alienígena com uma fórmula genética. A partir disso, experimentos criam um “vírus psíquico” que infecta quase toda a população. Só que, em vez de zumbis, violência e caos, o resultado é outro:
As pessoas ficam excessivamente amigáveis, conectadas numa espécie de mente coletiva, um “nós” gigante, sorridente e inquietante.
No meio desse “novo normal”, só um punhado de pessoas permanece imune. Entre elas está Carol Sturka (Rhea Seehorn), uma escritora de romances que odeia o que escreve, tem uma relação mal resolvida com a própria carreira e a própria vida, e é descrita como “a pessoa mais miserável da Terra”.
É justamente essa mulher em frangalhos emocionais que precisa salvar o mundo da felicidade.

O título “Pluribus” e a ideia de muitos virando um só
O nome “Pluribus” vem do latim e remete à expressão e pluribus unum (“de muitos, um”), famosa como lema dos Estados Unidos. Aqui, o conceito ganha outra camada: a humanidade deixa de ser um conjunto de indivíduos separados para virar um só organismo emocional, uma espécie de colmeia humana em estado de alegria quase absoluta.
É aí que mora um dos pontos mais interessantes dessas primeiras impressões: ser feliz, em “Pluribus”, é quase uma prisão. A euforia coletiva vem com um preço, a perda da individualidade, da dúvida, do conflito, da dor… e, consequentemente, da possibilidade de escolha.
Carol Sturka: a pior pessoa para salvar o mundo (logo, a melhor escolha)
Se “Pluribus” fosse uma série convencional, Carol seria uma heroína inspiradora, pronta para liderar a resistência.
Não é o caso.
Carol é irritada, cínica, descontente, tem vergonha da própria relação, está presa a uma carreira que despreza e parece sempre à beira de um surto. Rhea Seehorn entrega uma personagem que é pura inquietação raivosa nos dois primeiros episódios, e isso é um dos grandes trunfos da série.
A graça é justamente essa: num mundo em que quase todos abraçam a ideia de uma felicidade homogênea, só alguém profundamente infeliz consegue enxergar o perigo por trás desse “paraíso”.
Episódio 1: terror, ficção científica e um mergulho na mente de Carol
O primeiro episódio de “Pluribus” é quase um mini filme de terror sci-fi: começa com o sinal extraterrestre, passa pelo laboratório e pelo surgimento do vírus e cai na vida aparentemente “normal” de Carol, até tudo colapsar.
Visualmente, Vince Gilligan usa planos longos, construção de atmosfera e um ritmo que hipnotiza. A sensação é de acompanhar um longo fluxo de consciência audiovisual, em que ficção científica, drama e horror vão se misturando até explodirem na vida da protagonista.
Quando finalmente chega a explicação sobre o que aconteceu com o mundo, ela vem de forma quase didática, como se a própria série dissesse: “Ok, você já entendeu a origem. Agora vamos ao que importa: o que isso faz com essas pessoas?”.
É um piloto muito forte, daqueles que prendem o olhar do início ao fim, e que ajuda a justificar o hype e os primeiros elogios da crítica.
Episódio 2: “os outros” entram em cena e tudo fica ainda mais estranho
No segundo episódio, “Moça Pirata”, a série muda um pouco o foco: o mundo já está tomado pela mente coletiva, e Carol finalmente encontra outros imunes.
O grupo é diverso em nacionalidade, personalidade e bagagem emocional. E isso abre espaço para discussões sobre culpa, propósito e até sobre os possíveis “benefícios” desse novo mundo em colmeia.
Entre os imunes, aparecem figuras que usam o caos como desculpa para viver uma vida hedonista, explorando a colmeia para benefício próprio; pessoas que mergulham em negação total, recusando-se a aceitar que algo terrível aconteceu e pessoas que até desejam entrar na mente coletiva, porque a ideia de pertencimento absoluto parece menos dolorosa do que ser diferente.
A expectativa natural seria: “Pronto, agora o grupo de imunes vai formar uma resistência épica”. Só que Vince Gilligan faz outra escolha. O grupo é mais passivo, ambíguo e contraditório. E isso reforça a pergunta central da série:
Será que as pessoas realmente querem ser livres… ou só querem um tipo de conforto que não incomode tanto?
Essa virada deixa o caminho da trama deliciosamente imprevisível. Em vez de entregar um grande plano de rebelião, “Pluribus” entrega dúvidas, choques morais e um incômodo que continua depois dos créditos.
Entre “Ruptura”, “Lost” e algo totalmente próprio
É inevitável comparar “Pluribus” com outras séries de ficção científica autoral como: “Ruptura”, também da Apple TV+, pelo lado corporativo-psicológico e pela sensação de estar preso em uma lógica bizarra e “Lost”, pelo grupo de “escolhidos”, os mistérios, os segredos do passado e a sensação constante de estar um pouco perdido.
Mas, nas primeiras impressões, “Pluribus” encontra seu próprio tom. É uma mistura de drama psicológico, comentário social, humor sombrio e ficção científica que prefere perguntas incômodas a explicações tecnológicas mirabolantes.
O vírus da alegria e a mente coletiva funcionam como metáfora para várias questões contemporâneas: do controle social ao jeito como as redes sociais nivelam comportamento e opinião, passando pela ideia de que qualquer dissidência precisa ser “corrigida” em nome de um suposto bem maior.
O que “Pluribus” acerta logo de cara
Com base nos dois primeiros episódios, alguns acertos são bem claros: Premissa poderosa e fácil de entender: “a pessoa mais infeliz do planeta precisa salvar o mundo da felicidade”; construção visual e direção cuidadosas, com cenas que parecem pensadas quadro a quadro; Rhea Seehorn em estado de graça, segurando uma protagonista complexa, nada “fofa” e, justamente por isso, fascinante; Mistura de gêneros (terror, drama, ficção científica, sátira) que funciona sem soar remendada; Clima de mistério que não é vazio: o interesse não vem só de descobrir “o que aconteceu”, mas de observar como essas pessoas lidam com esse novo mundo.
Mas e o medo do “efeito Lost”?
Se existe uma pulga atrás da orelha, ela tem nome: medo de virar “Lost”. A série apresenta um mundo complexo, conceitos filosóficos, personagens cheios de segredos e uma estrutura que convida a teorias. É natural surgir a preocupação:
será que “Pluribus” vai conseguir amarrar tudo ou vai se perder em enigmas demais?
Por outro lado, o histórico de Vince Gilligan joga a favor. Em “Breaking Bad” e “Better Call Saul”, ele mostrou que sabe construir narrativas de longo prazo com payoff emocional forte. E a própria Apple TV+ já aposta na série como uma das grandes estreias do ano.
Por enquanto, depois de dois episódios, o balanço é: algumas respostas já foram dadas, muitos mistérios seguem em aberto, mas o roteiro parece mais interessado em questionar do que em apenas colecionar reviravoltas.
Vale a pena começar “Pluribus” agora?
Se a dúvida é se vale ou não dar play em “Pluribus” logo de cara, a resposta, pelas primeiras impressões, é:
Sim — especialmente se você gosta de ficção científica que mexe com cabeça e coração ao mesmo tempo.
“Pluribus” não é uma série de consumo rápido. Ela pede atenção, tem um ritmo próprio, trabalha com silêncio, desconforto e escolhas morais complicadas. Mas também é envolvente, misteriosa e, de certa forma, até divertida na maneira como cutuca nossa relação com felicidade, pertencimento e a ideia de que pensar diferente pode ser um ato de rebeldia.
Com os dois primeiros episódios já disponíveis e novos capítulos chegando semanalmente na Apple TV+, “Pluribus” se posiciona como uma das estreias mais curiosas e promissoras da ficção científica recente e, certamente, ainda vamos falar muito sobre esse “apocalipse feliz”.
Imagem Destacada: Divulgação/AppleTv+
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