Já parou pra pensar por quantas pessoas você passa por dia sem fazer ideia de quem são? É triste ver que indivíduos com tanta história para contar são ignorados em nossa sociedade, e isso não é de hoje. O que acontece quando você pega uma dessas pessoas nunca notadas e coloca um holofote sobre sua vida? É o que o mestre Will Eisner fez em sua obra “Invisible People”, lançada em 1992.
Will Eisner nasceu em 6 de março de 1917 e nos deixou em 3 de janeiro de 2005, mas seu legado continua, já que o mestre é considerado um dos mais influentes artistas de todos os tempos, tendo inclusive o seu nome em um dos prêmios mais importantes das Histórias em Quadrinhos (Eisner Awards). O que falar sobre o criador de Spirit? Ele foi o cara que transformou Quadrinhos em Arte Sequencial, ou que pelo menos fez com que o mundo percebesse que essa era a forma como esse trabalho deveria ser visto. O termo “Arte Sequencial” foi apresentado por Eisner em 1985 no seu livro “Comics and Sequencial Arts” (Quadrinhos e Arte Sequencial) lançado aqui no Brasil em 2010 pela editora Martins Fontes. O livro é visto como item essencial na coleção de quadrinistas e de todas as pessoas que tem interesse na área.
“Invisible People” é uma coletânea, são três histórias em quadrinhos, cada uma delas com foco em uma das pessoas “invisíveis” da sociedade. São vidas de pessoas ignoradas pelos demais, que em um determinado momento deixam de ser anônimas para se tornar o centro das atenções.
A primeira história é sobre um homem comum, com um emprego comum e uma vida comum, que desde criança tem a incrível capacidade de passar despercebido onde quer que seja. Ninguém se lembra de seu rosto ou de seu nome, até que esse nome aparece na seção de obituários no jornal. O difícil será alguém que nunca foi notado por ninguém conseguir provar que ainda está vivo e que essa publicação foi um engano.
Nosso segundo protagonista é um homem que logo cedo descobre ter uma incrível capacidade de cura. Com um sentimento incontrolável de que precisa fazer algo de bom com essa dádiva, ele procura seu lugar no mundo, sem sucesso, até que usa essa capacidade como meio de sobrevivência. Mas, será que sem esse dom ele seria notado por alguém? A sociedade se importa com o que somos ou apenas com o que fazemos?
A terceira e última história traz uma mulher que dedicou a vida inteira ao seu pai, que com sua saúde frágil precisava dos cuidados da filha constantemente, quando de repente, ele morre. Agora a mulher precisa encontrar um novo propósito para sua vida, já que seus últimos quarenta anos foram exclusivamente para essa causa. Ela encontra um homem em situação parecida com a sua e um romance surge entre os dois. O desfecho é surpreendente, assim como a vida.
Will Eisner domina a arte de contar histórias como ninguém. As expressões dos personagens são fortes, mexem com nossas emoções. Difícil não ficar angústiado ao ler as histórias apresentadas nessa coletânea, mas essa é a intenção. O autor não transforma a realidade deixando-a mais bonita ou mais fácil de ser aceita. Muito pelo contrário, ele coloca o desespero, o medo, o amor, a solidão e tudo o que é inerente ao ser humano sob uma lupa. Essa é a graça!
Não espere um final feliz, porque nem sempre a vida é feita de finais felizes. O modo como a realidade nos é apresentada é fascinante, nos prende do início ao fim, talvez pelo fato de percebermos ali a importância de cada indivíduo na sociedade. Ao mesmo tempo isso nos incomoda, afinal, não somos também nós invisíveis para a sociedade? E mais do que isso, pessoas como os personagens dessas histórias são invisíveis ou somos nós que fazemos de tudo para não enxergá-los? Uma obra maravilhosa que merece ser lida, e mesmo que não nos dê a resposta para essas perguntas, só por nos deixar refletindo sobre isso já vale a pena!
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