A obra que ajudou a dar um “up” no empoderamento feminino
Quando o termo “empoderamento feminino” ainda fulgurava mais no campo das ideias do que no campo das ações, João Ubaldo Ribeiro nos apresentava Norma Lúcia. Uma baiana arretada, cheia de atitude e que trazia o empoderamento no sangue. Norma Lúcia, ou Norminha para os íntimos, não é nosso personagem principal, mas sem ela, essa história não iria fazer o menor sentido.
Tudo começou quando Ubaldo Ribeiro, que já fez de um tudo nessa vida – já foi cronista, colunista, roteirista, professor; e tem a honra de ser membro da Academia Brasileira de Letras -, recebeu uma caixa repleta de fitas K-7. Sim, senhores! (…) em tempos de informações guardadas na Nuvem, fita K-7 é de uma raridade sem fim.
As fitas continham as aventuras de uma mulher, que agora, no auge da sua velhice, decidiu contar para o mundo todas as suas aventuras (e desventuras) sexuais. E este até poderia ser um livro quase pornô, tamanha a riqueza de detalhes sórdidos, mas quem sabe ler nas entrelinhas vai entender que, na verdade, nossas mulheres (Norminha e a-narradora-das-fitas-sem-nome) deram o pontapé inicial na máxima “meu corpo, minhas regras.”.
Então, em 1999 saía, pela Editora Objetiva a obra “A casa dos Budas Ditosos”. Uma história apimentada, cheia de pormenores quentes e repleta de ensinamentos para vida. Inclusive, um adendo nesse parágrafo: essa obra foi lançada dentro da coleção “Plenos Pecados”, que genialmente reuniu os melhores nomes da Literatura Brasileira para contar histórias que teriam a ver com os sete pecados capitais. Adivinhem com quem ficou a Luxúria?
O livro quebra os padrões do clichê. Não fala sobre sexo de maneira polida e retraída. Muito pelo contrário. A obra conta tudo o que todo mundo gosta ou gostaria de fazer, mas não tem coragem para falar. E “coragem”, esse é o verbete que rege toda narrativa, que graças as gravações K-7 são feitas em primeira pessoa, deixando assim tudo com um ar intimista, que é crucial para obra.
Nossa narradora não tem nada de bela, recatada e do lar. Conta com minúcias que gosta de fazer sexo desde que se entende por gente. E inclusive lança tópicos polêmicos envolvendo o tio e o irmão. E ao gravar as tais fitas, ela justifica que até poderia ter escrito o próprio livro, mas não era tão boa com as palavras assim. E falando, bem, di-tan-do, ela poderia fazer com que sua história fosse contada de maneira singular e com todos os termos que ela queria.
Junto com Norma Lúcia, nossa protagonista lança uma autobiografia sexual. E joga na cara da sociedade, ainda machista, que mulher pode fazer, escrever e falar sobre o que quiser, sem que isso seja um empecilho para sua vida. Na verdade, por trás de toda relação –sexual ou não – elas mostram com um tom bem-humorado que sexo não deve ser tabu, ser mulher não deve ser um problema e que, “sexo frágil” já saiu de moda faz tempo.
O fato é que o livro fez tanto sucesso, que acabou virando um monólogo com a talentosa Fernanda Torres, que é tão engraçada quanto a narrativa. E atriz e história se encaixavam tão bem, que nós, na plateia, se fechássemos os olhos, conseguíamos imaginar com riquezas de detalhes – afrodisíacos – tudo que essas duas, agora senhoras, passaram.
“A Casa dos Budas Ditosos” é uma obra empoderada, a frente do seu tempo, divertida e sensual. Não economiza nos palavrões, nos desenhos eróticos e na quebra dos preconceitos. É uma obra escrita por um homem, ditada por uma mulher. Fala, acima de tudo, de parceria.
Fica a dica do dia!
“(…) e até os delírios precisam ser pelo menos um pouco organizados sob algum critério, é preciso dar método à loucura (…)” [p.25]
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Fiquei curioso, obrigado pela dica lerei este livro ou devo dizer guia de tons de cinza kkkkk algo me diz que essas histórias devam se esbarrar em algum momento
Te emprestei o livro. Agora quero sua opinião.