O título é grande. E estranho. Mas a história é cativante e prende a atenção desde o início
O livro narra as aventuras de Juliet Ashton, jornalista e escritora, completamente apaixonada por leitura e por histórias inusitadas e interessantes, que está em busca de um tema para escrever seu próximo livro. Um belo dia, ela recebe uma carta de um desconhecido, morador de Guernsey – uma das ilhas do Canal da Mancha – o Sr. Dawsey Adams, que entra em contato com ela para fazer uma consulta bibliográfica. Nessa carta, ele explica que tem em mãos “Seleção de ensaios de Elias”, de Charles Lamb, um livro que pertenceu a Juliet e que, como encontrou ali anotado o endereço dela em Londres, resolveu escrever para pedir indicações de outros livros do autor e também de livrarias Londrinas em que poderia encomendá-los. Ainda nessa primeira carta, Dawsey comenta também sobre o Clube de leitura da cidade – A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata – e o envolvimento dos moradores que, passaram a se reunir durante a invasão alemã nas ilhas do Canal para falar sobre literatura. Ali, eles aproveitavam também para comer a tal da torta de casca de batata, pois era só o que conseguiam fazer com a pouca comida que tinham.
Essa carta chama muito a atenção de Juliet, despertando seu interesse e curiosidade por toda a história inusitada daquele lugar e seus habitantes. Por isso, ela passa a se corresponder com Dawsey e também com os outros integrantes da sociedade. A partir daí, começa uma intensa troca de cartas entre eles, onde é possível identificar o gosto literário de cada um, e também, o impacto que a guerra teve na vida de todos.
O clube foi criado antes de existir de fato. Ele apareceu de improviso, como um álibi para proteger seus membros dos alemães. Curioso é que apesar de a Sociedade ter surgido como uma mentira dita aos alemães para se safarem de uma situação, os seus integrantes vão relatar como foi reconfortante essa reunião em dias tão difíceis e como alguns livros foram importantes para eles. E o que começou por acaso, como uma fuga de certa forma, foi passando a ser quase um objetivo de vida e a cada encontro uma emoção diferente tomava conta de todos. Surpreendentemente, as reuniões passaram a aproximar os vizinhos, trazer consolo, esperança e auxiliar a manter, na medida do possível, a mente sã. Muitos nem sequer gostavam ou tinham o hábito de ler mas encontraram grande consolo nas leituras durante a guerra. As discussões a respeito das obras mantinham a mente ocupada, evitando que os pensamentos sobre as dificuldades fizessem ninho na cabeça. E ainda servia para aproximar pessoas de classes e interesses bem diferentes.
Movida por toda aquela história, pela força dos depoimentos e acreditando que ali estaria o ponto de partida como ideia para o seu novo livro, a jornalista britânica decide ir até Guernsey. Chegando lá, a convivência com as pessoas que conheceu por cartas e a descoberta sobre as experiências dos moradores daquela ilha, lhe dão uma nova perspectiva pra vida. A viagem dá de presente à escritora mais do que material para seu livro. Guernsey oferece a chance de recomeçar após a Guerra, fazer amizades sinceras e ainda de encontrar o amor. Pois, o que acontece por lá faz sua vida mudar pra sempre.
“A sociedade literária e a torta de casca de batata” é um romance epistolar que acontece no pós-segunda guerra da Inglaterra. O nome “epistolar” vem do latim epistoláris, relativo a carta, epístola. Romance epistolar é um livro que usa uma técnica literária para desenvolver a história principalmente através de cartas. É um texto escrito em forma de carta, para ser correspondido a uma ou várias pessoas, expressando opiniões, manifestos e discussões, além de questões e interesses pessoais. É uma metalinguagem, um diálogo, escrito em que cada um dos personagens vai tentar causar alguma impressão em seu leitor.
Na maior parte da história, quando contada pelas vítimas da guerra, somos levados ao passado relembrando os horrores vividos por eles na época. Mas a autora nos surpreende quando, em alguns momentos, nos mostra que nem todos os soldados alemães eram monstros. Muitos eram seres humanos e demonstravam compaixão ao próximo. Muitas vezes, até se arriscavam para ajudar o outro – fosse ele inimigo de guerra ou não.
E apesar de tratar de um assunto tão delicado como o pós-Segunda Guerra Mundial, em geral, a leitura desde livro é leve e divertida. A nossa protagonista Juliet tem personalidade forte, é uma mulher independente e suas cartas são muito bem humoradas. O livro consegue trazer de volta tudo que ficou lá para trás e que foi apagado pela guerra. Camaradagem e solidariedade, delicadeza e simpatia. A narrativa é sensível, humana e conduz o leitor pela mão. Durante toda a leitura, encontramos referências como Shakespeare, Charles Dickens, Jane Austen, entre outros. E depois de ler o livro, a vontade é de sair correndo para conhecer Guernsey, participar do clube de leitura e ficar amigo de todos os personagens. É sem dúvida uma ótima leitura.
Infelizmente, a autora Mary Ann Shaffer não sobreviveu para assistir ao sucesso da sua estreia literária – ela morreu em fevereiro de 2008, aos 73 anos.
No mês passado, a Netflix lançou o filme com o mesmo nome. Então, além da leitura do livro, vale a pena também dar uma conferida na versão para telinha. E, depois, passem por aqui para contar o que acharam.
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