Um Psicólogo no Campo de Concentração
Quando pensamos na busca de sentido na vida, costumeiramente fazemos uma lista grande de razões e porquês. De fato, todos já tentaram, tentam, buscaram e buscam entender o propósito da vida e sua existência. Dos mais introspectivos, aos menos.
“Aquele que tem um porquê para viver, pode suportar quase qualquer ‘como'”
Máxima de Nietzsche que exemplifica de maneira excepcional o objetivo do livro escrito por Viktor E. Frankl.
Viktor Frankl foi uma médico psiquiatra (judeu) austríaco e fundador da Logoterapia. Viveu por cerca de 2 anos em um campo de concentração em Dachau e também em Auschwitz durante a 2ª Guerra Mundial.
Entender os princípios básicos, os pilares da Logoterapia faz diferença para compreender sob que ponto de vista Frankl olhou a vida durante esses 2 anos em campo. São eles: A liberdade do desejo, o desejo pelo significado e o significado da vida.
A priori, podemos pensar que iremos ler mais uma história terrível do que se passou nos campos de concentração. Um médico que abruptamente tem sua vida atravessada pelo terror nazista que aniquila toda sua família. Porém, o que torna essa obra extremamente interessante e necessária é o fato de não ser uma narrativa parecida com tantas outras. Essa tem como pressuposto trazer a tona, do ponto de vista psicológico, a situação que viviam os prisioneiros.
Em circunstâncias tão horríveis, o que motivaria alguém a continuar vivendo? O que passa na mente das pessoas levadas ao campo? O que se torna mais importante para eles vivendo o extremo? Nós, que nunca teremos experiências parecidas, jamais poderíamos arriscar um palpite do que acontece com a mente de uma pessoa que passa a não ser mais vista como ser humano, mas sim como um número. De repente o médico, o engenheiro, o cabeleireiro, o professor não passam de meros números. N° 119.104, esse era o Dr. Viktor.
O livro é narrado em primeira pessoa, isso o torna extremamente instigante e atraente. Frankl começou a escrevê-lo durante o período que esteve em campo. Uma breve análise existencial em circunstâncias extremas que, trazendo aos dias atuais, nos ajuda a compreender de onde podemos buscar forças para enfrentar as dificuldades, mesmo pensando em desistir. Não se trata simplesmente de ser mais forte, mais duro, menos sensível, menos introspectivo. Quem resiste até o fim, é quem tem um sentido para isso. Pode ser os filhos que precisam de você, pode ser um trabalho que o mundo precisa que você realize, pode ser uma pessoa, pode ser qualquer coisa. O sentido é único para cada.
No decorrer do livro, Viktor nos conta as etapas partilhadas por quase todos que são levados para os campos. Desde a apatia ao novo modelo de vida que lhes são empurrados goela a baixo, as primeiras impressões, a raiva, tentativas desesperadas de fuga e, então, a busca de um sentido que é muito mais forte que as atuais condições impostas. É uma análise existencial muito profunda e única.
Experimentamos muitos desprazeres na vida, no dia a dia que nos fazem pensar em desistir. A perda do emprego, o parente que se vai, o relacionamento que termina, a decepção com o amigo, o panorama da sociedade e a lista se estende de acordo com cada qual. E o que diferencia os que abrem mão de viver e os que vivem mesmo que nas piores condições?
Mesmo se tratando de uma circunstância extrema, podemos fazer um paralelo com a nossa vida e os dias atuais.
Por Letycia Miranda
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