Magônia é um livro que, certamente, chama atenção pela capa. Não é apenas linda como também faz uma referência imagética imediata com o livro As Estranhas e Belas Mágoas de Ava Lavender. E para quem amou o livro da Leslye Walton, com certeza olhou para Magônia com carinho. Outro fator importante da capa é a recomendação escrita de Neil Gaiman – se ele achou a autora Maria Dahvana tão maravilhosa que comparou a sua escrita a um sonho, devemos supor que há realmente uma história incrível em suas páginas.
O começo do livro é exatamente assim: arrebatador. Conquista por inteiro o leitor através dos dois personagens principais, Aza e Jason. Ela tem uma doença terminal e apesar de já ter extrapolado as expectativas médicas não parece que vai chegar até seu aniversário de 16 anos — mesmo que seja inevitável a comparação, esta história nada tem a ver com A Culpa é das estrelas. Tirando alguns inevitáveis clichês, passa longe do amor romântico infantojuvenil. O que faz a amizade dos dois tão boa de ler é o fato de Jason tratá-la como uma outra adolescente normal, no mundo deles não há doença, sentimento de pena ou culpa. Apesar disso, ele sabe exatamente o que fazer caso haja uma crise, portanto é capaz de acompanhá-la como responsável a lugares em que nenhum dos pais dela queiram ir – o que pode parecer bobo, mas é de uma cumplicidade indescritível na visão dela.
Já a família de Aza vive totalmente para a doença, que de tão rara carrega o nome da menina, o que ela odeia e caracteriza como uma forma de imortalidade médica estranha. Sua mãe, uma cientista esforçada, dedica a vida para encontrar a cura para sua filha. Mesmo Ava tendo um pai e uma irmã também, esses três personagens são pouco trabalhados.
“Talvez pareça que estou exagerando. Não. Minha doença é tão rara que foi chamada de Síndrome de Azaray. Por minha causa, Aza Ray Boyle. Maldade. Não quero uma doença com o mesmo nome que eu, um tipo de estranha imortalidade em forma de caso médico..”
A história vai se desenvolvendo do ponto de vista de Aza, como ela se relaciona com a própria doença e as pessoas no seu entorno. Com a aproximação de seu aniversário, sua situação vai agravando. E aí que descobrem uma pena em seu pulmão esquerdo e resolvem marcar uma operação para extraí-la. No dia anterior ao procedimento, em casa, Aza sente-se muito mal e quando vai para seu quarto um pássaro entra através de sua garganta para dentro de seu corpo, depois desse momento ela já acorda na ambulância. Sua morte, se é que se pode chamar assim, é escrita de uma maneira belíssima e completamente tocante.
No entanto, a partir desse momento o livro fica confuso. Aza acorda em um navio no céu, em meio ao seu verdadeiro povo, os magonianos, que são pássaros e seres híbridos vivendo como piratas das nuvens. Mas a autora não explica direito o que eles fazem ou como colocaram Aza entre os humanos. Ficam muitas perguntas sobre a história, afinal ela tinha nascido mesmo da mãe humana? O que aconteceu com o corpo terrestre dela? Foi só uma troca de espírito? Todo mundo pode ver os navios no céu? Como ninguém nunca reparou? Aliás, todo esse mundo fantasia que ela criou é muito difícil de imaginar, o que deixa o leitor ainda mais perdido nos detalhes. Para sanar algumas dúvidas foi necessário pesquisar mitologia medieval e ufologia.
“Nada é perfeito aqui. Lá embaixo, nada é perfeito também.”
Como o livro é uma saga, talvez o segundo volume consiga satisfazer essas e outras questões. Aliás, é necessário também tentar cativar mais o leitor com os personagens magonianos, que ficaram bem afastados do carinho óbvio que se nutre por Jason e Aza desde o princípio da história. E também, explicar melhor como Magônia se sustenta, atiçando mais a imaginação do leitor para que ele consiga entender e visualizar todo esse mundo mágico acima das nuvens, de navios que atravessam os céus e âncoras que descem até a terra.
Por Mariana Baptista
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