Entre os dias 08 e 09 de julho foi realizada a UgraFest, feira de quadrinhos independentes que contou com dezenas de expositores e milhares de visitantes. Ao visitar o evento, a Woo! Magazine pôde conhecer muitos artistas e seus trabalhos de ótima qualidade. Sendo assim, nos próximos posts desta coluna, iremos publicar resenhas de algumas das obras em quadrinhos que adquirimos na UgraFest. A primeira delas se chama “Melissa em Ellipsia”, escrita pelo jornalista Guilherme Profeta e ilustrada pela quadrinista Ligia Zanella.
Este título, que mistura realidade e fantasia, conta a história de Melissa, uma adolescente de dezesseis anos, solitária e incompreendida. Sua relação com os amigos, os adultos e os estudos não vem sendo das melhores, afinal a garota vive frustrada por não encontrar ao seu redor a mesma paixão que ela encontra nos livros. Sua válvula de escape para esse mundo monótono é um caderno de capa preta que ela carrega diariamente, no qual vem escrevendo um conto chamado Ellipsia.
A rotina de Melissa promete mudanças quando, casualmente, ela conhece Oliver, um rapaz de 22 anos que está em coma, preso num leito hospitalar desde que sofreu um trágico acidente de carro alguns anos antes. Apesar da ausência de prognósticos dos médicos, Melissa se sensibiliza com a situação de Oliver e decide contar a ele as suas histórias. Mas não é exatamente aquela história que ela já vinha escrevendo. De repente, Ellipsia se torna o cenário onde ela e o rapaz estão interagindo.
A partir desta metalinguagem uma nova história se descortina ao leitor, pois Melissa e Oliver irão se encontrar em um universo místico, habitado por seres fantásticos e mitológicos. Aqui, o rapaz deixou de ser um paciente terminal em um leito hospitalar para se tornar um cavaleiro imponente, saudável e feliz que fará de tudo para salvar o dia. O que vem em seguida são aventuras e embates em um universo composto por fadas, elfos e trolls, perfeito para os fãs da literatura fantástica.
Ao passar por altos e baixos nessas aventuras, Melissa chega a conclusão de que nem mesmo o seu reino perfeito pode ser tão perfeito assim. Melissa em Ellipsia é, em primeiro lugar, uma história sobre o ato de escapar. É também uma história sobre certo e errado – e sobre todas as coisas que existem no meio.
O roteiro dessa HQ faz uso de alguns recursos muito criativos e ousados. Primeiramente, existe a metalinguagem em que a Melissa da vida real se projeta como personagem da história que ela mesma conta. Dentro do universo ficcional de Ellipsia, também somos apresentados ao passado de Oliver, ou seja, explica a origem de como ele se transportou para aquele reino e se tornou um cavaleiro respeitado. Dessa forma, temos três camadas de narrativas que se alternam num bom ritmo e pontos de viradas nas horas certas. Por outro lado, apesar dessa criatividade técnica, a trama em si é um tanto superficial. Os personagens também são rasos e criam uma dificuldade em gerar empatia com eles. O universo fantástico onde se passa a HQ é uma clara referência às obras de J. R. R. Tolkien.
A arte de Ligia Zanella é expressiva e delicada ao mesmo tempo. O estilo mangá que ela adota não chega a ter conflito com o universo fantástico medieval, típico de Tolkien. Os traços limpos e suaves lembram o estilo de Hayao Miyazaki e conferem grande expressividade aos desenhos. Toda em Preto e Branco a arte intercala cenas em alto contraste com quadros usando tons de cinza muito bem aplicados. As páginas são muito bem diagramadas e os requadros impõem o ritmo certo da narrativa.
“Melissa em Ellipsia” é uma obra totalmente independente que conseguiu financiamento pelo Catarse e foi lançada em outubro de 2016. Posteriormente, outro projeto veio dar sequência ao universo: “Ellipsia além de Melissa” é uma coletânea de contos spin-off, derivados desta graphic novel.
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