O amor é clichê.
A gente vê essa afirmação nas entrelinhas de letras de músicas, filmes, livros e quiçá na vida real. O amor é clichê e atire a primeira pedra aquele que nunca acreditou – nem que tenha sido por milésimos de segundos – no tal do “felizes para sempre”. Embora, claro, “o que seja eterno enquanto dure” é o que anda perdurando nos dias de hoje. O problema é que não dura nada.
E é nessa máxima romântica-clichê-rock-in-roll é que conhecemos Malu. Malu Rocha. A complexa personagem de “Quando o amor bater à sua porta” .
Malu é o tipo de mulher durona. Como seu sobrenome já adianta; uma rocha. Não transparece sentimentos, medos, amarguras. Ela é o que é sem tirar nem por. Famosa por arrebatar milhares de leitores apaixonados com seus romances de sucesso, Malu está agora em fase final do seu próximo livro. Mas é óbvio que tudo não seria tão simples assim.
Nossa personagem está sofrendo ao finalizar mais uma obra. “Com quem será que a mocinha deve ficar?” . E como se tudo já não estivesse complicado demais, ela ainda tem que lidar com a atrapalhada Rebeca – sua assistente faz tudo – , seu avô, o grande e mais sincero amor de sua vida e Luiz Otávio, um misterioso homem que aparece em sua porta completamente sem memória. E como se não bastasse, Luiz Otávio ainda é nome de um dos personagens do livro que ela está escrevendo. Seria coincidência ou o Universo estaria dando um recado?
“Quando o amor bater à sua porta.” é um romance honesto e cativante. Malu Rocha é uma personagem real. Quantas Malu’s devem existir por aí? Não escritoras famosas bem-sucedidas. Mas mulheres que aprenderam a lidar com a dor de maneira una?! “O que não nos mata, nos fortalece”, não é o que dizem por aí? Olha o clichê nessa resenha também.
Além disso, como polo oposto temos Luiz Otávio. Ele não sabe quem é, e muito menos porque Malu é seu único contato. Ele precisa descobrir suas raízes. Relembrar. No entanto, desenhar em folha em branco é tão mais fácil, que mesmo sem memória, dinheiro, documentos – sem vida – Luiz Otávio vira o cerne da sinceridade. Ele constrói seu destino com o que a vida lhe oferece. Sem peso e sem pressão. E com isso, acaba, mesmo que sem querer, ensinado a Malu que problemas todo mundo tem. O que vai fazê-los crescer é o peso que lhes damos.
Para mais, “Quando o amor bater à sua porta”, personifica o significado de mais é menos. Parece ser um romance sem muitas pretensões e talvez ainda caia no estigma de “ah… mas é nacional”, o que faz – infelizmente – muitos leitores torcerem o nariz. No entanto, quando é que vamos olhar mais para dentro? Seja por nossos autores que merecem ter seu devido valor, seja olhar para dentro de nós mesmo. O fato é: olhar para dentro e bom (!). Talvez assustador no começo, mas inevitável em algum momento de nossas vidas.
A autora Samanta Holtz escreveu esse romance tão leve, que no final temos uma leitura fluída e interrupta. Quem nunca precisou se perder para se encontrar? (Seria, pois, outro clichê?). Narrado em terceira pessoa, temos uma visão ampla das personalidades dos personagens e das suas mudanças – in e off – ao longo das páginas. O que para Holtz é um – dos muitos – pontos a seu favor.
De mais a mais, talvez, ainda que no cerne filosófico, temos um romance existencialista. Malu se questiona, Luiz Otávio se questiona e até a confusa Rebeca tem seus momentos de reflexão. E esse momento de ponderação, meditação – zen -, é levado através das páginas do livro e chega até ao leitor que também se pergunta: “e eu?”.
Quer se encontrar? “Quando o amor bater à sua porta” é o caminho. Quer se perder? Ele é o caminho também. Publicado em 2016 pela Editora Arqueiro, “Quando o amor bater à sua porta” é a nossa dica da semana.
“ ‘As nuvens estavam paradas. Tão paradas que, por um libertador instante, desconfiei que eu havia morrido. Até que elas se moveram…ou foi meu olhar sobre elas que havia mudado?’ ” [p.188]
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Querida Kinha… que resenha apaixonante!!! 😀 Encontrei-a sem querer, navegando na internet, e que achadooo!
Primeiro, PRECISO comentar a foto… quanto cuidado com cada detalhe! Fiquei ali, toda boba, encontrando cada elemento da história cuidadosamente representado! E seu texto está tão poético e profundo que certamente Malu e Luiz Otávio ficariam felizes em saber que despertaram essas reflexões 🙂
Um beijo enorme e obrigada por me presentear com essa resenha linda!
Sam