Com a estreia de Resident Evil 6: Capítulo Final nos cinemas e Resident Evil 7: Biohazard nos consoles e PC, é inevitável não compararmos os dois segmentos deste universo. Os jogos vieram primeiro, a partir de 1996, criando o gênero survival horror, marcando a história gamer para sempre e tornando-se uma das maiores franquias da CAPCOM.
O primeiro filme, conhecido no Brasil como Resident Evil: O Hóspede Maldito, veio em 2002 e, embora pouco aproveitasse do universo criado pelos games, tornou-se com suas sequências, as mais bem sucedidas adaptações de videogames ao cinema.
Leia nossa crítica de Resident Evil 6: O Capítulo Final
Os blockbusters escritos pelo diretor Paul W. S. Anderson, (que não dirigiu apenas o segundo e terceiro filmes), contam a jornada de Alice, ex-funcionária da gigante corporação Umbrella. Ao longo dos seis filmes há diversos buracos na história (embora eles sejam devidamente reparados em Capítulo Final). No entanto, Milla Jovovich representa bem o papel de heroína sci-fi e praticamente carrega a franquia, compensando a história que nem sempre está bem desenvolvida, e também as fracas participações de personagens dos games ao longo da série.
Vamos relembrar as cinco primeiras adaptações e ver o quanto cada um se assemelha – ou não – aos jogos.
Resident Evil: O Hóspede Maldito (2002)
É aqui que começa a história de Alice, que tenta escapar com um grupo de sobreviventes da Colmeia, um complexo subterrâneo da corporação Umbrella. O local é um laboratório onde são desenvolvidas pesquisas ilegais envolvendo o vírus T, que é capaz de reanimar mortos.
O Hóspede Maldito já traz bastante da ação que dominaria suas sequências, nenhum personagem dos games (incluindo a protagonista), mas ainda havendo um clima sombrio e claustrofóbico, característico do universo no qual se baseou.
A Rainha Vermelha, inteligência artificial que tenta impedir a fuga de Alice e seus aliados, e a famosa armadilha laser, que seria uma das cenas mais icônicas do filme, fariam suas aparições nos games, anos depois. Nesta época também era lançado Resident Evil 0, que, apesar da excelente qualidade, passou despercebido, devido à exclusividade que tinha para o console GameCube.
Resident Evil 2: Apocalipse (2004)
O segundo filme foi dirigido por Alexander Witt, substituindo Anderson, que estava envolvido com a direção de Alien vs. Predador na mesma época.
Após escapar da Colmeia, Alice é capturada pela Umbrella que a usa em experimentos envolvendo o vírus T, deixando-a com habilidades físicas excepcionais. Logo depois, ela descobre que precisa escapar com os poucos sobreviventes da cidade de Raccoon, completamente destruída pelo vazamento do perigoso vírus, transformando a população quase inteira em zumbis.
Este é definitivamente o título que mais se assemelha ao universo dos games, sendo o mais próximo uma adaptação direta, especificamente do clássico Resident Evil 3. Até Jill Valentine dá as caras, vivida por Sienna Gillory, e o implacável Nemesis.
Resident Evil 3: Extinção (2007)
Dirigido por Russel Mulcahy, Extinção levou os mortos vivos da cidade para o deserto e a luz do dia – mudança que ocorreria também nos games, dois anos depois, com Resident Evil 5 – além de citar o tom de fim do mundo que prevaleceria para os próximos filmes da franquia.
Após ser capturada novamente pela Umbrella ao final do filme anterior, Alice passa por mais experimentos, envolvendo o Vírus-T (sim, de novo…) Seu organismo se une ao vírus, multiplicando sua força e causando também o desenvolvimento de poderes psíquicos. No entanto, ela consegue escapar, e os cientistas da corporação são obrigados a usar clones da heroína, pois o sangue dela é crucial para o desenvolvimento da pesquisa viral.
Paralelamente, a epidemia que destruiu a cidade Raccoon se espalha mundialmente, acabando com praticamente quaisquer formas de vida do planeta Terra. O que sobra da humanidade vive pelas estradas de um mundo que virou um deserto.
Com um clima que lembra Mad Max, é neste volume da série que a parte estética brilha: a fotografia e ambientação funcionam, e há também grande melhora na qualidade dos efeitos especiais. É também o último título no qual a história ainda tem uma continuidade e coerência.
Neste título, a personagem “convidada” do universo dos games é uma das favoritas dos fãs: Claire Redfield (Ali Larter), que tornou-se a líder dum comboio de sobreviventes que se juntará à Alice na missão de chegar ao Alaska, onde há uma promessa de abrigo, livre da ameaça zumbi que destruiu quase toda vida no planeta.
Quem quase rouba a cena da carismática Milla Jovovich, cada vez mais a vontade em seu papel, é um Iain Glenn pré Game of Thrones, vivendo o vilão Dr. Sam Isaacs.
Resident Evil 4: Ressurreição (2010)
Paul W. S. Anderson retoma a direção no primeiro título filmado em 3D da franquia. É praticamente todo ambientado no que sobrou da cidade de Los Angeles. Conta com elementos do jogo Resident Evil 5: desde criaturas, até algumas sequências de ação, baseadas em cenas do game.
A história começa quando Alice atacando uma das filiais subterrâneas da Umbrella, acompanhada de seus clones. Durante a batalha, Wesker (Shawn Roberts) remove os poderes super humanos de Alice, que termina o conflito como a única sobrevivente. Então, ela segue para Arcadia, no Alaska, para descobrir apenas que o local era uma armadilha. Ela encontra Claire Redfield, que está sendo controlada por um dispositivo misterioso, no entanto consegue neutralizá-la, e juntas vão para Los Angeles, esperando encontrar outros sobreviventes. Lá, um grupo é encontrado, vivendo uma prisão de segurança máxima, onde Chris Redfield, irmão de Claire também está. É Wentworth Miller que dá vida a um dos personagens mais importantes da franquia da CAPCOM.
Neste filme, o grupo de sobreviventes encontrado é relativamente mais carismático e mais importante do que nos filmes anteriores, no entanto, já dá para perceber a “regra” na franquia de que, se o personagem não veio dos games e não é Alice, é porque muito provavelmente morrerá em algum momento.
O 3D é bem aproveitado nas excelentes sequências de ação e os efeitos especiais continuam melhorando, comparados ao filme anterior.
Resident Evil 5: Retribuição (2012)
O último filme antes do Capítulo Final foi feito em cima de tentativas de agradar aos fãs (se é que é possível fazer algo neste mundo que de fato agrade a exigente fanbase de RE). Milla e Paul perguntaram quais personagens eles gostariam de ver no filme, e este termina sendo o que trouxe para a adaptação velhos favoritos que ainda não haviam aparecido: Leon S. Kennedy (Johann Urb), Ada Wong (Li Bingbing) e Barry Burton (Kevin Durand), além da “ressurreição” de Carlos Olivera (Oded Fehr) e da personagem “exclusiva” dos filmes Rain Ocampo (Michelle Rodriguez).
Enquanto as sequências de ação são tipicamente grandiosas, e há um trabalho visual sempre bem feito, este é o título mais fraco e forçado no que diz respeito à história. Aqui, Alice está em Arcadia que é desmascarada como uma armadilha da Umbrella, que faz um ataque surpresa. Liderados por Jill Valentine, sob o controle da corporação, eles conseguem capturar os sobreviventes. Em seguida, Alice precisará escapar de outro complexo, desta vez habitado por clones de seus ex-companheiros de jornada, como Carlos, Rain e até ela mesma, matar monstros migrados dos games, e a coisa de sempre.
Enquanto há certa dose de fan service com vários personagens queridos do universo de RE, seus papéis, como sempre, são apenas de apoio: a história gira em torno de Alice. É um filme que ao menos diverte, se você estiver disposto a não prestar a tenção nos buracos da história (embora seja difícil até para as mentes mais tolerantes do mundo não torcerem o nariz para o desfecho de Retribuição).
Um universo alternativo de Resident Evil
De fato, os filmes em pouco lembram os jogos. Pegam emprestado apenas alguns personagens, sejam humanos ou criaturas. Paul W. S. Anderson criou uma abordagem focada em ação e ficção científica que acabou refletida nos games, gerando desconforto com os fãs antigos. No entanto, os filmes são divertidos, e como o próprio diretor e roteirista defende: não teria graça reproduzir a história dos jogos, onde todo mundo já sabe o que aconteceria.
As próprias tentativas de agradar fãs é o que causa alguns problemas no roteiro, pois uma vez que o personagem veio dos games, não há a mesma liberdade que temos com os novos. Criam-se situações forçadas e, enquanto a história é de Alice, há as reclamações de que nomes como Jill Valentine e Claire Redfield são “rebaixados” ao de meras sidekicks.
Com todos os defeitos, são filmes geralmente divertidos, com ótimos efeitos visuais, mas (bem) longe de serem obras primas da sétima arte. De fato, não foram bem recebidos pela crítica e fãs dos games, no entanto fizeram sucesso, criando as adaptações game-cinema mais bem sucedidas que existem atualmente.
Enquanto entendo parcialmente a revolta, não vejo razão para tanta. Trata-se de uma das maiores franquias da CAPCOM, que não vai liberá-la para o cinema, se não for para algo que seja no mínimo um sucesso de bilheteria. E é aí que a jornada de Alice, a Não-Existente nos Jogos, sempre acerta.
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