Guns N’ Roses, banda de Axl Rose, fez um show de quase nenhum papo e muita, mas muita música
Quando o Guns N’ Roses é anunciado no line-up de qualquer edição do Rock In Rio as reações são sempre um “de novo?”. Mas a verdade é que Rock In Rio sem Gun’s não é Rock In Rio. A prova disso foi a horda de camisetas pretas estampadas com a logo da banda formada em Hollywood em 1985 indo em direção à Cidade do Rock. Cena que se repetiu ontem pela quinta vez.
Antes quando se falava no GNR a primeira coisa que se pensava era em atraso de duas horas ou mais. Desde que o guitarrista Slash e o baixista Duff McKagan, ambos da amada formação clássica, retornaram em 2016, o tempo de espera deixou de ser um problema. A preocupação agora é que horas vai acabar. Essa era a pergunta que todos se faziam, dado que sexta-feira é dia de trabalho.
2 horas e 40 minutos foi a duração dessa verdadeira epopeia. Modesta se comparada às 3h45 da edição do RIR de 2017 que entraram para a história. Se naquela edição o Gun’s não queria fazer feio tocando depois de nada menos que o The Who, no Rock In Rio 2022 o objetivo era apagar o impacto causado pelo show potente do Offspring e o frescor vigoroso do Maneskin. Conseguiu?
Leia Mais: Rock In Rio 2022: Com Chuva De Hits E Domínio De Palco, Green Day Faz O Show Mais Animado Do Festival
Com um atraso de 8 minutos (nada para os padrões de Axl Rose outrora, mas destoando da pontualidade britânica das atrações do festival) A banda entrou no palco executando o petardo “It’s So Easy”, do seminal álbum Appetite For Destruction. Ela foi seguida de “Mr. Brownstone”, também desse debut da banda, lançado em 1987, e daí um avanço no tempo para “Chinese Democracy”, faixa-título do disco mais demorado da história, gravado sem Slash nem Duff ao longo de 14 anos.
O show começou com um Axl claudicante na performance. A voz, como já se sabe, já não atinge as notas de antigamente e perdeu o famoso drive (o vocal rasgado). Mas na noite de ontem o vocalista perdeu o fôlego, deixou de cantar partes de algumas letras, sofria para atingir algumas notas. Até em músicas do Chinese Democracy, que ele costuma ir melhor, foi complicado. Era nítido que ele sofria para acertar o tom em “Better”. Foi salvo pela seguinte, “Double Talking Jive”, do álbum “Use Your Illusion”, fase áurea da banda, música em que ele usa apenas sua voz natural. Slash e Duff são competentíssimos, mas pareciam se sentir afetados pelo problema do companheiro
A coisa parecia mesmo se encaminhar para um show meia-boca, indicando que uma aposentadoria da banda não é uma ideia nem um pouco ruim, quando as engrenagens começaram a azeitar. Foi como se um estalo os lembrasse da grandeza de sua história, e do show inesquecível daquele Rock in Rio de 1991, que fez com que o Brasil se apaixonasse de vez pelo Gun’s, tornando-se um dos países que mais se entusiasmam com a banda.
E com um extenso novelo de hits não foi difícil reagir. Tendo “Rocket Queen”, “You Could Be Mine”, “Sweet Child O’ Mine”, “Nightrain” à disposição, a técnica de Slash foi ganhando brilho, o carisma de Duff ganhando evidência, além do talento dos outros músicos Richard Fortus (na guitarra base mas que sola junto com Slash em algumas músicas), o baterista Frank Ferrer, o tecladista de longa data Dizzy Reed e a tecladista Melissa Reese. Até a voz de Axl foi melhorando, arrancando até uns drives de antigamente aqui e ali.
E como se não bastassem os sucessos de próprio punho, ainda há os covers que se moldaram ao Gun’s como “Live and Let Die” de Paul McCartney, “Attitude” do Misfits (com Duff nos vocais) e “Knocking on Heaven’s Door” de Bob Dylan. Essa última Axl usava uma camiseta preta com uma bandeira da Grã-Bretanha e um chapéu também com a Union Jack, fazendo sua homenagem à Rainha Elizabeth II, que faleceu ontem.
Leia Também: Rock In Rio 2022: Mulheres Dominam O Palco Sunset No Dia 8 De Forma Vibrante
Quem especulava que haveria material novo se decepcionou. Apenas as músicas “novas” “Absurd” e “Hard Skool” apareceram no repertório. São músicas que foram sobras de estúdio e a banda resolveu gravar da forma adequada, e já vinham sido tocadas desde o ano passado. O show se encerrou com um bis trazendo as baladas “Patience” e “Don’t Cry” e finalizando com “Paradise City”.
Foi um show de quase nenhum papo e muita, mas muita música. Axl só se dirigiu à plateia para perguntar se estávamos bem. Mais tarde apresentou a banda e brincou como se estivesse esquecendo de apresentar Slash – ao fazê-lo, deu a deixa para um solo – e no final dando seu tradicional “good fucking night”. Sempre em inglês, o que causa muita estranheza. Ele é empresariado por uma família de brasileiros, cansa de vir aqui fazer shows há mais de três décadas e é incapaz de dizer um “ouburiguédou”.
Esse foi mais um show que reafirma a relação de (muito) amor entre o Brasil e o Guns N’ Roses. As imperfeições acabam sendo amenizadas pela grandeza dessa que faz parte da última leva de grandes bandas a caminharem sobre a Terra. Periga daqui a 30 anos atribuirmos valor à voz de Axl sem drive, mas que ainda permitia que ele performasse. É sempre bom pensar nisso.
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.