Sirât é um alerta do que pode acontecer com o mundo em futuro próximo
Vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes deste ano, “Sirât” despertou grande expectativa entre os cinéfilos ao ser anunciado na seleção da 49ª Mostra de Cinema em São Paulo. Após sessões intensamente disputadas, pode-se afirmar que o filme também conquistou o público paulista.

O longa espanhol dirigido por Oliver Laxe acompanha a jornada de um pai, vivido por Sergi López, que, ao lado de seu jovem filho, parte em busca da filha desaparecida há meses após viajar para participar de uma rave em pleno deserto marroquino. Durante essa travessia, os dois se deparam com um grupo que se dirige a uma festa clandestina onde a garota possivelmente se encontra. No entanto, o percurso é árduo, agravado pelo anúncio, nas rádios locais, do início de uma guerra mundial.
A partir dessa premissa, desenvolve-se um road movie que, em diversos momentos, remete esteticamente ao universo de “Mad Max“, com personagens excêntricos conduzindo veículos adaptados para enfrentar qualquer adversidade em meio à poeira do deserto. O clima de iminente conflito, somado a mortes inesperadas, poderia facilmente representar o prelúdio de um mundo distópico à la “Mad Max”, mas com um realismo que impacta profundamente qualquer espectador minimamente atento às questões geopolíticas. A associação entre os episódios de violência nas raves retratadas no filme e o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 — seguido pelo massacre do povo palestino promovido por Israel — surge como uma leitura inevitável.

Essa conexão com eventos reais intensifica a tensão do roteiro, escrito por Laxe em parceria com Santiago Fillol. O texto surpreende com sequências que provocam reações imediatas dos espectadores que saltam de suas cadeiras, e o impacto se amplifica ao perceber que os horrores exibidos na tela podem se materializar a qualquer instante em um mundo cada vez mais instável. A guerra entre Rússia e Ucrânia e o sofrimento do povo palestino são evocados com força.
“Sirât” configura-se, portanto, como um incisivo alerta político e social, direcionado especialmente aos europeus (os personagens são franceses e espanhóis), ao sugerir que, em vez de apenas acolher refugiados, o continente pode, em um futuro próximo, transformar-se ele próprio em um território de cidadãos em fuga. A aparente neutralidade vigente pode se tornar insustentável quando os conflitos alcançarem suas fronteiras e as bombas começarem a cair.
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Vale ressaltar que “Sirât”, no contexto islâmico, representa uma ponte que todos deverão atravessar no Dia do Juízo Final para alcançar o paraíso. Essa passagem é descrita como mais fina que um fio de cabelo e mais cortante que uma lâmina — e quem dela cair, terá como destino direto o inferno. Em outras palavras, vivemos hoje um cenário político de tamanha fragilidade que é possível transitar da paz ao caos em questão de instantes.
Este filme foi visto durante a 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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